TETO
Conheça outra realidade bem perto de você
Publicado em 04/2016
"Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada". Para muitas famílias, a clássica cantiga infantil rompe as barreiras da brincadeira e chega à realidade – realidade essa que está muito mais próxima de nós do que você pode imaginar. Mas o projeto TETO, nascido no Chile, em 1997, e hoje presente em 19 países da América Latina, está fazendo a sua parte para construir uma sociedade justa e sem pobreza.
Você já deve ter visto por aí, seja no feed das suas redes sociais ou na rua, alguns jovens super empolgados e apaixonados pedindo ajuda para a construção de casas de emergência em comunidades, geralmente localizadas na periferia das grandes cidades. Pois eles são os voluntários do TETO, que, além de arrecadarem a grana necessária para o material, colocam a mão na massa com as famílias que naquele teto colorido morarão. "Essa palavra COM é muito importante para nós, porque não enxergarmos as famílias como assistidas, e sim como participantes de um projeto de transformação social. Elas (as famílias) são protagonistas", frisa Danyelle Fioravanti, diretora de sede do TETO no Rio.
Cada casa de emergência custa R$ 6.500 para o TETO, dos quais R$ 200 são investidos pelas famílias. "Essa participação é uma ferramenta de empoderamento, para que sintam que são eles que estão conquistando essa casa e que podem conquistar muito mais", reforça Danyelle. Além do núcleo familiar, dez voluntários cuidam da construção da casa, que geralmente leva dois dias para ficar de pé, e, depois, mais um para ser pintada.
A escolha das regiões que serão assistidas é feita após um processo de mapeamento das áreas mais críticas dos estados nos quais o TETO está presente. "Visitamos as comunidades para identificar seus perfis e se podemos iniciar o trabalho lá. Começado o trabalho, entrevistamos as famílias para conhecer sua visão da comunidade e o seu grau de vulnerabilidade – o que nos apoia na escolha das famílias que participarão do Programa de Moradias de Emergência", explica Danyelle. Além das casas emergenciais, o TETO desenvolve mais dois programas no Brasil, o de Educação e o de Formação de Lideranças Comunitárias, e projetos específicos, que variam conforme as demandas das comunidades e geralmente são desenvolvidos com outras organizações – como os de saúde, limpeza da comunidade e captação de água da chuva.
E de onde vem o dinheiro para fazer tudo isso acontecer? Da minha, da sua, da nossa doação – e também da ajuda de grandes empresas que apoiam os projetos. Nos dias 8, 9 e 10 de abril, milhares de voluntários do TETO vão às ruas para denunciar a situação dessas "favelas invisíveis", como diz Danyelle, e arrecadar recursos para dar continuidade ao trabalho da ONG. "Costumo dizer que é um ótimo momento para estourarmos a bolha e dialogar com muita gente diferente sobre a problemática da pobreza", completa a diretora de sede do Rio.
Então já sabe: se encontrar algum voluntário na rua, na chuva, na fazenda ou ali no seu feed do Facebook, chama para bater um papo, pega aquelas notinhas na carteira e (quem sabe?) candidate-se para ver o trabalho de perto. No último sábado, nós fomos ajudar na pintura de algumas casas em Jardim Gramacho, onde tiramos as fotos deste post. As doações e inscrições para ser voluntário também podem ser feitas no site www.teto.org.br.
Quer saber como é colocar a mão na massa, nos martelos e rolinhos de tinta? São os voluntários da TETO que vão contar. Com a palavra, Amanda, Gabriel e Samyra.
IHF: Há quanto tempo participa do TETO e qual é o seu trabalho lá?
Samyra Torquilho: Entrei no TETO em maio de 2014, como voluntária fixa da equipe de Recursos. Hoje eu sou da equipe de Gestão Comunitária. E, basicamente, estou em Jardim Gramacho todo fim de semana conversando com os moradores e pensando em projetos comunitários que desenvolvam a comunidade. E agora, na Coleta, vou ser Líder de Esquina lá na Tijuca! A diferença entre o voluntário fixo e o pontual, é que o fixo se envolve um pouco mais, participa de reuniões semanais no escritório e da gestão das áreas de atuação. Já o pontual costuma participar só das atividades massivas, como as construções - e ele se inscreve pelo site!
Amanda: Trabalho no TETO desde 2014. Já fui voluntária fixa da área de construções e da equipe da comunidade de Jardim Gramacho. Em dezembro de 2014, coordenei, junto de outro voluntário, a construção de sete casas em Jardim Gramacho. E agora sou Líder de Zona da Coleta, com outros voluntários, em quatro bairros do Rio: Ipanema, Leblon, Gávea e Lagoa. Hoje, estamos gerindo cerca de 500 voluntários, só nesses bairros, para a Coleta, que acontece no próximo fim de semana.
Gabriel Belmonte: Estou no TETO desde março de 2015, quando me inscrevi para a primeira atividade. Passando pelo pilotis da PUC, vi um estande da organização que fazia inscrições para a construção de páscoa. Depois disso, me apaixonei completamente. Participei da Coleta, em maio, na Tijuca. Já no outro mês, entrei para o escritório como voluntário fixo da equipe de GAP. E fui participando das construções no resto do ano. Agora estou trabalhando para ser líder de esquina da Coleta 2016!
Como você descobriu o TETO e por que teve vontade de participar do projeto?
Samyra: Fui numa reunião de apresentação, a convite de um amigo que já era voluntário. Conheci todas as áreas do escritório (que, no Rio, fica no Catete) e escolhi uma pra ser voluntária. Em maio de 2014 participei da minha primeira reunião como fixa. Tive vontade de participar por acreditar muito na causa e querer fazer algo que trouxesse relevância na minha vida.
Amanda: Conheci o TETO na Argentina e não sabia que ele atuava no Brasil. Até que, em 2014, uma amiga que estudava Relações Internacionais na UFRJ assistiu a uma apresentação do TETO na universidade e me convidou para participar de uma construção com ela. Fui, como a maioria das pessoas, porque queria participar de algum trabalho voluntário voltado para a minha área (estudo arquitetura e urbanismo) e não fazia ideia que era muito mais que isso.
Gabriel: Descobri ao longo de 2014, pelo Instagram de uma conhecida do Ensino Médio. Sempre via as fotos dela e ficava instigado com o trabalho desenvolvido, mesmo conhecendo bem superficialmente. Em todas as fotos tinham voluntários, moradores das comunidades e um monte de crianças sorrindo, exaltando um estado de espírito que conseguia ultrapassar as fotografias. Essa foi a semente da minha entrada no TETO, num momento da minha vida que procurava algo a mais para fazer e ser.
Todos os voluntários que conhecemos são muito apaixonados e empolgados com o trabalho do TETO. Por que é tão incrível participar disso?
Samyra: Acho que tudo começa quando você se vê diante de uma realidade muito cruel e que esstá muito mais perto do que você imagina. Quando vc se dá conta de que a 40 minutos da sua casa tem gente que vive privada dos seus direitos mais básicos, você não consegue não tomar uma atitude pra tentar mudar aquilo, sabe? Depois vem a troca com os moradores, que é o que mais me motiva. Estar nas comunidades, conversando, ouvindo e entendendo as necessidades deles é essencial pra deixar a gente empolgado pra fazer mais e mais.
Amanda: Já tinha participado de outros projetos sociais, mas nada tão bem estruturado como o TETO. Meu primeiro contato com a organização foi em uma construção universitária. Nela, dez pessoas que nunca haviam se visto antes (ou pego em um martelo) construíram uma casa de 18 metros quadrados, em dois dias, junto à família que iria morar nela. Essa família era formada por Arílson e seu filho, que moravam em um barraco feito de madeira, em Parque das Missões, uma comunidade em Duque de Caxias. Desde então, depois de quase dois anos, foram oito construções, muitas famílias e muitos laços. Desde então, a realidade que, antes eu não sabia que existia, passou a fazer parte do meu dia a dia. Com o trabalho comunitário e colaborativo (não assistencialista, vale dizer), eu aprendi muito sobre responsabilidade social, empoderamento, inconformação, empatia, cuidado, motivação... Aprendi a julgar menos e ouvir mais. Aprendi a enxergar cada pessoa, a vida e o meu papel nela de outra forma. Muito mais consciente e menos inerte.
Gabriel: É incrível participar do TETO porque sempre somos desafiados a sair da nossa zona de conforto; somos eletrocutados por choques de realidade; saímos do centro do nosso próprio micro-cosmo; e, pelo menos, eu faço coisas que nunca imaginei fazer, como cavar buracos de um metro ou mais de profundidade para a fundação de uma casa. No começo, eu achava que o TETO era somente a casa emergencial de madeira, construída em dois dias. Mas o mais maravilhoso disso é saber que a ONG não se basta nesse projeto, que esse é apenas o primeiro passo para um trabalho muito mais eficiente e definitivo que tira por completo as pessoas da vulnerabilidade social. O TETO é composto principalmente de pessoas maravilhosas que vivem marginalizadas porque a sociedade impôs isso a elas. E isso não é um problema de origem recente política e socialmente, as raízes desses problemas são muito mais complexas e perversas do que a gente pode imaginar. O TETO é um trabalho que dá às famílias potencial de desenvolvimento, de empoderamento político e social, e promove uma ação conjunta entre morador, comunidade e voluntário.