Olhar Feminino
Uma cobertura subjetiva do Festival GRLS
Publicado em 03/2020
Nos dias 7 e 8 de Abril rolou a primeiríssima edição do Festival GRLS, um festival protagonizado por mulheres e com um lineup 100% feminino. Trazendo nomes como Kylie Minogue, Little Mix, Iza, Ludmilla e Linn da Quebrada, o festival foi sucesso absoluto de crítica e público. Nós do I Hate marcamos presença nesse evento lindo, fazendo a cobertura oficial de foto e vídeo com uma equipe também formada só por minas. Foi o nosso primeiro job com um time só de mulheres e não poderíamos estar mais orgulhosas! O resultado da nossa cobertura oficial você pode conferir aqui: FESTIVAL GRLS.
Pensando em captar outros olhares e perspectivas sobre o GRLS, nós convidamos mulheres incríveis para registrar o evento de uma maneira subjetiva, colocando suas visões pessoais e afetivas nessa cobertura, que não necessariamente teria o compromisso de fotografar tal show ou talk, apenas se deixar levar pela emoção dos momentos vividos ali. Para isso, escolhemos fazer esses registros com câmeras digitais portáteis, tipo cybershot, deixando essa experiência mais prática e direta.
O resultado foi uma cobertura diversa, cheia de cores e muita verdade. As manas arrasaram nas fotos e escreveram um pequeno texto contando como foi toda a experiência. Você pode conferir tudo aqui em baixo.
Primeiramente, o meu maior estímulo para o festival foi ver Conceição Evaristo. Sempre que eu tenho a oportunidade de ouvi-la falar é, pra mim, estar diante de uma fonte inesgotável de sabedoria, poesia, beleza. Em seguida ao talk que contou com Djamila Ribeiro e foi mediado por Astrid Fontenelle, fui com minha amiga Juh falar com a Conceição Evaristo. Foi maravilhoso poder abraçá-la, reverenciar uma mulher negra dessa magnitude. Foi uma manhã muito especial. tanto por poder vê-la falar ao público quanto por poder conversar com ela em agradecimento à sua presença nesse plano.
Sobre os shows, vi o da Gabi Amarantos e o da Ludmilla. O show da Gabi foi maravilhoso, um ode às mulheres, a reafirmação da xana, foi muito especial estar lá e ver esse show. Por ter morado no Rio de Janeiro tenho uma relação com a música da Ludmilla. Porque toca em todas as esquinas e é uma música, pra mim, essencialmente carioca. Me vieram muitas memórias do Rio, ela faz um showzão.
Quando voces me entregaram a câmera já tinha em mente que (praticamente) só fotografaria pessoas negras, já é o que faço, e de onde parte meu trabalho. Foi muito bom estar com a câmera, ela me possibilitou uma troca com as pessoas: a câmera foi mediadora dos encontros.
O Festival trouxe vivências e atravessamentos muito gostosos para mim, mulheres inspiradoras tomaram conta do espaço, no palco ou povoando o memorial. Me senti representada pelas artistas, pelas falas e as lutas.
O festival GRLS representou pra mim o início de algo maior. Se ao mesmo tempo que trabalhar em um festival com uma equipe 100% feminina é algo novo e revolucionário, também traz aquela sensação de deveria ser algo normal, cotidiano e sem estranhamento. Por dentro da equipe o clima era de equilíbrio e sintonia, uma verdadeira prova de que tudo que falaram sobre rivalidade feminina era só pra nos afastar e nos enfraquecer pois juntas, nossa, juntas o mundo vai ser nosso. E o mais gostoso dessa experiência pra mim, é poder dizer que nós mulheres, não somos cópias, temos o conhecimento técnico que nossa profissão exige, porém nosso olhar é diferente, nossa estética é própria e a cada oportunidade uma experiência como essa fica óbvio que o mundo que vivenciamos como mulheres se revela de outra forma na entrega, e isso é lindo, é perfeito! Ter voz própria! Por mais jobs chave assim!
Quando se vive em um mundo dominado pelo patriarcado e sexismo é urgente pensar coletivo e organizar meios de quebrar esse sistema, desestruturar a pirâmide que nos coloca no papel de sustentar esses padrões e paradigmas ditados que violam nossos corpos e pensamentos. Estar no festival GRLS e poder escutar mulheres como Conceição Evaristo, Carla Akotirene, Ludmilla e Iza é combustível para continuar lutando e tendo cada dia a confirmação de que Mulher Negra é a Revolução.
Na letra “Rito de Passá” MC Tha inicia com uma ordem: abram os caminhos...
E acredito que seja nessa transformação comportamental e social que queiramos marchar.
Foi importante ver tantas mulheres do audiovisual/produção trabalhando, mas foi inevitável não sentir falta de uma operadora de câmera no palco principal. Marchemos!
Sobretudo acredito na força da mudança e ter o Festival Grls nesse combate anual e evolutivo é necessário e urgente.
Abram-se os caminhos