De celular na Chapada Diamantina
Sem câmera à mão, vale fotógrafo fotografar com celular?
Publicado em 01/2015
Imagina a seguinte situação: Você viaja até Salvador, pega 6 horas de ônibus até Lençóis, gasta uma grana de hospedagem, transporte e guia, e, na estrada indo pra o principal passeio marcado, repara que a câmera ficou ligada a noite inteira e que a única bateria reserva que levou molhou no hotel e não está funcionando! Fu-deu!
Sim, fiquei muito puto. Não é como se eu estivesse indo para um compromisso em que essas fotos eram a razão de ser ou que a viagem não fosse muito maneira independente das fotos, mas o potencial era muito grande de gerar imagens incríveis. Bateu um aperto, principalmente por ter escolhido 'viajar leve' e não ter comigo a cota extra de recursos que geralmente levo pra evitar essas coisas.
15 minutos chorando derrota e me veio a ideia: "Vou fazer o melhor possível com as condições que tenho." Meu iphone estava com a bateria cheia, e, honestamente, o fotógrafo ainda estava lá, mesmo sem seu equipamento.
Estufei o peito, estalei os dedos e aceitei o desafio.
No final das contas:
. Leve. Deixei a bolsa com meu equipamento no carro, e, nossa, acho que nunca me senti tão livre. A gente só repara o peso desse monte de tralha que levamos quando não estamos com elas.
. Tecnologia. O meu iphone (5s) gera imagens com 3264x2448px, então tem uma margem boa de crop. Vários celulares hoje em dia tem tanta resolução quanto e vários recursos para disparo rápido. O processamento também é porrada, dá pra disparar num fluxo bem parecido de uma câmera. A lente é f/2.2, bastante clara e com um bokeh até bonito.
. Controle manual. A atualização pro IOS 8 deu alguns controles manuais para a câmera (coisa que já existia em aparelhos android faz tempo), permitindo algumas experiências mais controladas. Ainda é bastante limitado pela falta de ergonomia, mas isso foi um avanço enorme. O foda é o foco, no touch nunca vai ser a mesma coisa.
. Armazenamento. Misturar tudo, músicas, apps, vídeos e fotos, em um aparelho com memória limitada é um problema. Tem que ficar atento, porque essas fotos ficam enormes, 2-5mb cada uma. Backup sempre!
. Pós. É óbvio que um arquivo raw tem muito mais latitude para tratar na pós. As mudanças de white balance e exposição são muito limitadas. Mas todas as aplicações de 'filtros' funcionam perfeitamente bem, dando ao resultado final, principalmente quando a saída é internet, uma impressão razoável de qualidade. Tratei tudo no lightroom, cropei pra 3x2, botei um texturinha de grão de filme pra dar mais alma e foi.
. Exercício fotográfico. Esse pra mim foi o ponto mais legal. O sensor e o software são super limitados, então a foto tem que ser boa para ser útil, é um pulo pra parecer completamente amadora. Você tem que estar sempre caçando o lado certo da luz, não pode ter muita latitude de luz e sombra pra recuperar na pós, tem que dar uma atenção extra a cada disparo.
. Lentes x acessórios. Eu viajo com uma 50mm, uma 24mm, uma tele e uma fisheye. Muito peso, mas muitos recursos para diversas situações. Se eu tivesse tomado a decisão prévia de viajar com o iphone, eu teria levado um case a prova dágua, um pau de selfie, aqueles adptadores de lentes, se bobear até uma go pro.
No final das contas, óbvio, ainda prefiro fotografar com uma DSLR, um celular ainda está muito longe de ser tão recursivo quanto. Mas se o rolê é de dia, e as circunstâncias são complicadas pra carregar peso pra todo lado, eu realmente vou pensar duas vezes na próxima.
Dá só um confere no resultado: