Mulheres que Fotografam: Duda Portella
A pernambucana que tem a fotografia no DNA
Publicado em 01/2018
A excursão do Mulheres que Fotografam pelo Brasil aterrissa hoje em Recife, para conhecer a Maria Eduarda Portella, ou só Duda Portella, nossa personagem do dia. Uma pernambucana do sotaque gostoso, que atualmente mora em São Paulo.
Sabe aquela história de filha de peixe, peixinha é? Se aplica aqui. A Duda está imersa no universo da fotografia desde pequena, por conta do pai fotógrafo e da curiosidade infantil que tudo pergunta e em tudo quer mexer. Mas só depois que ele faleceu, quando ela já estava na adolescência, Duda pegou na câmera de verdade e se apaixonou de vez. Ainda bem.
Nos encantamos pelo trabalho dela no Instagram e, numa passagem pelo Rio, a encontramos no nosso QG carioca. Além de ter um olhar incrível, delicado e poético, a Duda é uma querida, como você vai ver na entrevista aqui embaixo.
Ah, em tempo: conhece alguma fotógrafa incrível que a gente precisa conhecer? Conta aqui nos comentários! Viajar pelo país é a nossa meta de 2018 :)
Quando você começou a fotografar? O que despertou a vontade de trabalhar com fotografia? Eu comecei a trabalhar com fotografia “oficialmente” no final de 2015, com 19 anos. Mas meu contato com ela vem de beeeem antes. Meu pai era fotógrafo, então eu cresci limpando lente, organizando as fotos dele, perguntando como isso ou aquilo funcionava etc. Sendo que, mesmo tendo crescido dentro desse universo, nunca passou pela minha cabeça trabalhar com fotografia. Eu pensava em ser médica, jornalista, arquiteta, psicóloga... TUDO, menos fotógrafa! Hahaha. Mas como a vida é uma caixinha de surpresas, depois que meu pai faleceu e a câmera dele ficou comigo, eu comecei a fotografar cada vez mais e não consegui mais largar.
Chegou a trabalhar (ou ainda trabalha) com outra coisa além de fotografia? O quê? Eu fazia faculdade de Psicologia em Recife, mas não cheguei a ponto de estagiar nem nada. Tranquei o curso porque me mudei pra São Paulo, surgiram oportunidades de trabalho aqui e eu decidi cair de cabeça na fotografia. Mas a Psicologia ainda é uma área pela qual eu me interesso muito! Tô sempre lendo sobre, apesar de não querer voltar pra vida acadêmica, por entender que outras vias de aprendizado funcionam melhor comigo. Mas enfim, acho que estudar sobre outros assuntos ajuda muito a ampliar o olhar, sabe? Quanto mais eu navego por outras áreas, mais eu sinto que minha fotografia se enriquece.
Fez algum curso ou aprendeu a fotografar sozinha? Não fiz graduação, mas fiz alguns cursos livres e, por mais confuso que isso possa parecer, os cursos que eu fiz me ensinaram a aprender a fotografar sozinha. A pegar o manual e fuçar a câmera, a meter as caras nos livros de história da arte, a colocar um espelho no quarto e ficar treinando poses pra fazer retrato... Foi lá em Recife, no Instituto Candela, que me deram uma apostila em branco – e não uma daquelas apostilas clichês cheias de regras pra todos os lados – pra que eu anotasse minhas ideias, meus sentimentos e os conhecimentos técnicos do jeito que fizesse mais sentido pra mim. A didática lá do Candela foi um empurrão pra que eu conseguisse caminhar com minhas próprias pernas, hahaha. <3
Qual equipamento você usa? Uso a Canon 5D Mark II e uma 24-70mm. E fotografo muito com o celular também!
O que você mais curte fotografar? Eu ainda tô no começo da minha história com a fotografia, então eu tento fotografar de tudo um pouco! Mas, até agora, a preferência é pelos retratos e pela fotografia de rua. Sentar, conversar, ouvir as histórias. Eu gosto da troca, de construir junto, de dar voz pra pessoa que tá na frente da câmera também
Tem algum projeto pessoal de fotografia? Qual? Tenho, mas ainda tô maturando ele aqui dentro da cabeça, escrevendo, estudando... Acho que no final desse ano ele nasce pro mundo!
Diz aí quem são as mulheres que influenciam o seu trabalho. Tentando fugir um pouco desse mar de referências eurocentradas, tenho estudado o trabalho de Aida Muluneh e Atong Atem, duas fotógrafas africanas incríveis. Acho que a beleza é uma coisa muito diversa e ficar se prendendo sempre aos mesmos referenciais que são ensinados pode gerar alguns preconceitos. O mundo é enorme e a gente tem mesmo é que circular o olho por aí, no exercício contínuo de se abrir a novos horizontes estéticos. Sem falar que a fotografia pode ser influenciada por qualquer tipo de arte, né? Pela música, pela dança, pelas artes cênicas... tudo! Acredito que tá tudo interligado e por isso as minhas influências são as mais variadas possíveis.
Por que é importante termos mais mulheres trabalhando com fotografia no Brasil? Primeiro porque precisamos de representatividade feminina em todos os lugares. Segundo porque, por mais que existam cada vez mais mulheres entrando no mundo da fotografia, o mercado ainda é predominantemente masculino. Isso quer dizer que a visão que objetifica as mulheres ainda é maioria. A luta por mais espaço é fundamental pra equilibrar os pontos de vista, sabe? O nosso olhar sobre o mundo PRECISA ser mostrado porque já ficou no escuro por muito tempo.
Para acompanhar mais do trabalho da Duda, segue lá no Instagram.