Super Violão Mashup temperado com dendê deixa gosto por mais
Último fim de semana do festival levou Gui Amabis, Marcelo Cabral, Luisão Pereira e Lívia Nery ao palco do Oi Futuro Ipanema
Publicado em 04/2017
Nem toda despedida precisa ser melancólica, mas é bem verdade que o céu desabou no último fim de semana do Super Violão Mashup, que ocupou as sextas e sábados do Oi Futuro Ipanema desde o dia 17 de março. Recapitulando, foi sempre alguém no violão e alguém na produção, e pelo palco passaram duplas inesquecíveis, algumas até improváveis. O I Hate Flash conversou com geral, olha só: Lucas Santtana e Kassin, Iara Rennó e Cibelle, Qinho e BadSista, Arthur Nogueira e Jonas Sá e, finalmente, Gui Amabis com Marcelo Cabral e Luisão Pereira ao lado de Lívia Nery, para encerrar.
Os protagonistas dessa sexta já se conhecem há quase 20 anos. Gui Amabis canta, toca, compõe e produz, começou na música fazendo trilhas sonoras. Assinou algumas de sucesso, como a do filme “Bruna Surfistinha” e a do seriado “Cidade dos Homens”. Tem três álbuns solo gravados, sendo o último o “Ruivo em Sangue”, que saiu em 2015. Violonista do dia, ele conta:
“Meu primeiro instrumento foi o canto. Foi a voz primeiro. Eu tinha uma outra profissão, estudava Educação Física. Nunca pensei em ser músico, mas eu gostava de cantar. Adolescente, tinha uns amigos que tocavam violão e aí tiravam uns blues do Robert Smith e eu cantava. Meu pai tinha me dado um violão com 16, mas eu não peguei ele muito”.
Somente aos 23 anos, ao entrar na escola de música, onde conheceu Cabral, que aprendeu a tocar, de fato, ao ter aulas com Levy Miranda. Sua ideia era tocar guitarra, mas o professor o ouviu cantando e resolveu trabalhar nisso, aprendendo o violão “para acompanhar, entender harmonia, os acordes, essas coisas de música”, resume.
Já Marcelo Cabral, que também é músico e foi baixista em bandas reconhecidas como o Passo Torto, acabou se consagrando como produtor. Seu primeiro instrumento foi, de fato, o violão: “sempre foi o violão, ele que deu o espaço de tudo, conhecimento harmônico, até de conhecimento do baixo, de tudo”.
Como produtor, o début foi o disco de Lurdez da Luz, mas foi em seguida que ele ganhou grande projeção, ao guiar Criolo, inclusive nos arranjos, na concepção de “Nó na Orelha”, o elogiado segundo disco do rapper paulistano. Segundo ele, as coisas foram acontecendo “muito aos poucos” e teve muita influência do próprio Gui. E ele complementa: “Minha mãe morava fora, aí ela trouxe pra mim um M-Box, um computador. Na hora que eu entendi o que era, fiquei dias em casa. Aí fui atrás de ver como as pessoas trabalhavam”.
O derradeiro dia trouxe uma dupla da Bahia. Luisão Pereira, de Juazeiro, e Livia Nery, de Salvador. Ele, ao violão e voz, e ela sampleando, produzindo e também cantando.
Nacionalmente, ele ficou conhecido como guitarrista da banda de rock Penélope, sucesso nos anos 1990. Até o ano passado, dividiu com sua ex-mulher, a violoncelista Fernanda Monteiro, o projeto Dois em Um, que já teve um DVD gravado com a participação especial de Tulipa Ruiz. Como ele conta, seu primeiro instrumento foi um cavaquinho, presente do tio sambista Ederaldo Gentil. O violão entrou em sua vida muito cedo, tendo, inclusive, um irmão compositor. Conterrâneo de João Gilberto, ele revela que ambos moravam na mesma rua.
“Meu pai era o médico da cidade e o João Gilberto morava quatro casas depois da nossa. Tenho memórias dele frequentando a minha casa. Mas, na época, eu era mais moleque que sou hoje, né? Eu ouvia muito metal, punk, não dava muita bola. Aí eu cresci de verdade, passei a entender e comecei a admirá-lo”, conta. Curiosamente, o show deste sábado foi o primeiro que ele fez neste formato, só com o violão em punho.
Ao seu lado, Livia Nery também faz uma estreia, ao produzir outro músico. Cantora e compositora, a soteropolitana brinca em seu laboratório caseiro produzindo a si mesma com teclado, sampler, voz e loop stations, sendo autodidata. Ela explica: “Trabalhava em rádio, fui comprando equipamentos e investigando. Na época da rádio eu já tinha um home studio. Em 2014, eu saí da rádio e botei um show, em que eu gravava toda essa coisinha. Dava muito mais errado do que dava lá em casa. Essa coisa de ser produtor, é a primeira vez que eu decidi externar essa função. Porque, na verdade, eu sou produtora das coisas que eu tô gravando, ajudo alguns amigos, tipo ‘faz um beat aqui pra mim’, ou finalizando algumas coisas”.
Quando perguntados se já se conheciam, ela ri: “lá em Salvador todo mundo se conhece, a gente se esbarra na rua”. E Luisão completa: “a gente sempre se via e eu chamei ela pra tocar no DVD”. E essa sintonia de velhos conhecidos se fez presente no palco e fechou o Super Violão Mashup com muito dendê.
Aliás, Julianna Sá e Gregório Tavares, deixamos aqui uma sugestão para o próximo festival, nascida em uma conversa com Cabral e Amabis. Quando falávamos sobre a produção de "Nó na Orelha", Cabral comentou que Criolo não sabia tocar nenhum instrumento e chegava com canções como "Bogotá" e "Freguês da meia-noite" cantarolando, para serem desenvolvidas. Eis que Amabis sugere: "Isso era uma boa ideia de um projeto, né? Alguém canta uma música, a capella, e chama uns produtores. Cada um vai fazer de um jeito totalmente diferente". Bem, nós adoramos as boas ideias.