Super Violão Mashup celebra encontros entre o violão e a música eletrônica
Festival ocupa o Oi Futuro Ipanema unindo sempre um músico e um produtor para recriações ao vivo
Publicado em 03/2017
Presente nas rodinhas do colégio ou num luau na praia, o violão sempre foi uma vocação brasileira. Tanto que nossos músicos foram responsáveis por inventar novos jeitos de se manusear o instrumento, que reverberam internacionalmente. Exemplos não faltam, como a genialidade de Baden Powell, o dedilhar do pai da bossa-nova João Gilberto ou as cordas percussivas de Jorge Ben - que disse ter se inspirado no baiano e acabou soando tão original quanto.
Pois foi em 2009 que o cantor, compositor e produtor baiano Lucas Santtana, em seu quarto álbum “Sem Nostalgia” lançou a faixa que empresta o nome ao festival Super Violão Mashup, que está ocupando o Oi Futuro Ipanema desde o dia 17 de março até 1º de abril - sempre às sextas e sábados.
Julianna Sá, da Dobra Comunicação, é a idealizadora e curadora e divide a responsabilidade com Gregório Tavares, da Faz Fazendo, que assumiu a direção de produção. O projeto surgiu, segundo ela, a partir de dois pontos centrais: um é o festival Dobradinhas, que aconteceu em 2013, e reunia dois artistas no palco que nunca haviam trabalhado juntos. O outro, como já era de se imaginar, foi a música-título do Lucas, em que ele já fazia uma releitura do conceito voz e violão, com elementos eletrônicos.
“Sempre admirei o trabalho que ela faz, com a música independente, a nova música. Eu sempre fui um consumidor desses sons, a gente começou a conversar e foi lapidando, colocando as coisas no papel, chamando os parceiros para chegar junto. Ano passado, fizemos nosso primeiro projeto juntos, o Circuladô, que percorreu diversos pontos da cidade e foi super legal”, fala Gregório.
Seguindo a faixa-inspiração, a proposta do festival é justamente unir as cordas - de aço ou nylon - ao eletrônico: seis músicos e seis produtores recriam suas obras com diversas intervenções, tudo ao vivo. Na lista de encontros, estão o próprio Lucas Santtana e o amigo Alexandre Kassin, Iara Rennó e Cibelle, Qinho e BadSista, Arthur Nogueira e Jonas Sá, Gui Amabis e Marcelo Cabral e Luisão Pereira e Lívia Nery.
Além do formato inovador, o festival traz outros desdobramentos, como a produção de um EP, que será lançado em maio, com distribuição digital, e também de um mini-documentário, com a participação dos músicos e produtores convidados e de outros artistas. O Oi Futuro ainda recebe a iluminação de Alessandro Boschini e projeções do VJ Notívago, promovendo quase uma extensão do espetáculo.
Julianna conta, ainda, que alguns artistas andavam afastados do violão, como é o caso de Iara Rennó e Qinho. Ele, depois de anos sem tocar o instrumento, levou o seu para as ocupações estudantis em escolas da cidade e ficou muito emocionado, soltando um clássico “lembrei porque tô nisso”.
Quem inaugurou a programação, na última sexta-feira (17), foram Lucas e Kassin. Curiosamente, os dois já haviam trabalhado juntos nos anos 1990, quando o segundo tocou baixo na primeira banda do primeiro. Logo depois da passagem de som, conversamos com a dupla no camarim.
Como dois velhos camaradas, eles trocavam risadas e ideias sobre suas participações. “É legal fazer isso no formato que ficou tradicional aqui no Brasil, banquinho, voz e violão. É um formato que merecia ser mexido assim. O violão é um instrumento bem delicado e é um desafio mexer com ele desse jeito”, comenta Santtana.
Sobre a improvisação ao vivo, Kassin manda: “Toda vez que a gente está tocando, não acontece a mesma coisa. Tem coisa que ele canta na hora e eu sampleio a voz dele, se der errado a gente acerta. O fato de a gente se conhecer há bastante tempo, muita convivência, ajuda também, vira meio um jogo. Não é um show exatamente de canção, porque as canções são a base da improvisação”.
Quando perguntado sobre a diferença entre o “Sem Nostalgia” e o show, Lucas explica: “no estúdio você tem um puta controle de tudo. No show, você tem limitações, mas, ao mesmo tempo, é ao vivo, né? É meio selvagem.”.
E qual seria a familiaridade que os dois encontram entre seus trabalhos? “Os meus discos e do Kassin têm uma preocupação com o som muito grande. Tem a ver com quem gosta de som, com detalhes do som. Não é só um cara que toca bateria no ritmo certo, tocar bem. É um cara que toca bateria de um jeito, que tira um som daquela bateria, são coisas específicas. É esse amor pelos detalhes que nos une”, finaliza o cantor. E que bela união a gente viu no palco.
Na noite seguinte, as protagonistas eram Iara Rennó e Cibelle. Diferente do show de estreia do Super Violão Mashup, quando os limites entre músico e produtor estavam bem definidos entre Lucas Santtana e Kassin, as convidadas do sábado traziam novidades. Paulistanas, Iara Rennó e Cibelle são cantoras, compositoras e produtoras e já prometiam se revezar no palco, com um repertório plural, incluindo canções de parceiros, como Negro Léo e Ava Rocha. Num rápido bate-papo, elas comentaram sobre seus trabalhos e as participações.
Iara veio de uma família de artistas, dizendo já ter nascido praticamente no camarim. A cantora, que lançou no ano passado o elogiado “Arco e Flecha”, diz que sabe o nome de poucos acordes e filosofa: “Para mim, a música é um condutor, é como se fosse eletricidade. Um bom condutor é a água, por exemplo, então ela (a música) é fluida como a água”.
Já Cibelle frequentou o conservatório Marcelo Tupinambá desde os seis anos de idade e também passeia pelas artes plásticas, performance, produção musical, entre outros agitos. Enquanto produtora, ela manda: “Hoje a gente está falando mais de empoderamento. A gente está começando a entender que quem nasce com uma buceta também produz coisa”. E coisa muito boa, vale ressaltar.
Sobre produzirem juntas, Iara diz “não ser boa de matemática, como a Cibelle. Botões, computador, software… Ela tem maior aptidão pra isso”. Então, Cibelle devolve: “Em produção, mesmo, você tem a ideia, a sensibilidade e a visão. Esse ‘sentar no computador’, que eu sei fazer também, é uma coisa mais ‘operária’”. Juntas, elas misturaram a filosofia e fluidez da água com a precisão de operárias da música.
Na próxima semana, será a vez de Qinho + BadSista e Arthur Nogueira + Jonas Sá subirem ao palco, na sexta-feira e no sábado, respectivamente. Todos os detalhes estão no site do Oi Futuro (clica aqui). Nos vemos lá!