Lost Picnic: o festival num domingo ensolarado na Austrália
Em Sydney, festival é pra reunir música, comida e a família inteira no parque
Publicado em 10/2017
Não é por nada não, mas nós estamos chiques demais. Depois de um correspondente no Japão, nosso Victor Nomoto, que está dividindo com a gente alguns detalhes da vida em Tóquio, agora também temos uma cúmplice na Austrália! Catarina Rangel é baiana, mas morou no Rio por quase sete anos e, há três semanas, tá chamando Sydney de lar.
Após trabalhar como produtora cultural e de TV, nos bastidores de minisséries, novelas, grandes eventos e programas, como o Caldeirão do Huck, Catarina decidiu renovar os ares e se mudou de mala e cuia pro Novo Continente com mil planos, inclusive se dedicar mais à fotografia.
Ela já apareceu aqui no Zine há alguns meses, quando clicou o incrível show da Gal Costa no Circo Voador, e, a partir de agora, vira e mexe vai voltar para falar da vida de uma brasileira num país tão ensolarado quanto o nosso, só que do outro lado do mundo.
Explorar novos lugares e novas culturas é estimulante e enriquecedor, e eu precisava sentir isso.
A Austrália foi uma escolha natural. As cidades australianas estão entre as melhores do mundo em rankings de qualidade de vida. O clima similar ao nosso, as praias, os parques, a vida ao ar livre, todas essas características fazem da Austrália um ótimo destino para quem, como eu, desejava passar um período sabático e aprimorar a língua inglesa. A minha namorada estava com esse mesmo desejo e os irmãos dela já moravam em Sydney. Esse aconchego familiar também foi muito importante para a nossa escolha.
Fui recebida com um lindo e colorido pôr-do-sol em Bondi Beach, umas das praias mais famosas de Sydney. A cidade tem uma cor linda e agora, com o horário de verão, fica mais legal sair pra fotografar.
Aqui você pode andar livremente com a câmera no ônibus, na rua ou em qualquer lugar que ninguém vai te abordar. Aliás, ainda não tive problema em abordar as pessoas para tirar foto, pelo contrário – a primeira mulher australiana que abordei foi supersimpática e me deu conselhos pra vida. Ela estava sentada no ponto de ônibus, super arrumada e maquiada. Ver pessoas de todas as classes pegando transporte público e frequentando os mesmos restaurantes me impressionou bastante.
Outra coisa que me chamou atenção é que é supernormal ver australianos andando descalços pelas ruas, shopping, mercados. Eles sentem um prazer indescritível ao andar assim.
Pelo fato do alcoolismo ser um problema grave aqui, o governo tenta restringir ao máximo o uso de álcool. Existe uma lei que proíbe beber na maioria dos espaços públicos. Ou seja, beber na praia, em parques, é proibido. Muito estranho ir na praia e não ver ninguém bebendo. Só é permitido comprar bebidas alcoólica em Bottle Shops ou em pubs. E se você estiver muito bêbado, eles têm o direito de não te vender álcool.
As praias aqui são lindas e muito bem cuidadas. Além de não beber, eles não montam barraca. Estendem suas cangas e pronto. A estrutura ao redor das praias também me chamou atenção: fui em três praias e todas tinham banheiro público e lanchonetes.
Atualmente está sendo discutida a legalização do casamento gay. Grandes empresas e artistas de alto escalão têm apoiado a campanha para a aprovação. A cidade está fervorosa. Em todo canto que se olhe, tem a bandeira gay e o voto YES, para o casamento. É lindo ver essa mobilização.
Recentemente, passei pela minha primeira experiência de participar de um festival de música em Sydney, o Lost Picnic. Diferentemente do Brasil, a maioria dos festivais aqui ocorrem durante o dia e são feitos para toda a família.
Esse evento aconteceu de meio-dia às 20h e teve uma programação exclusiva para crianças, como mágicos, teatro e muitos brinquedos. As famílias australianas são grandes, eles têm de dois a três filhos em média. E a galera se organiza, leva cangas, travesseiros, brinquedos, tudo para passar o dia inteiro no festival.
Percebi que eles ainda não entendem muito de organização em termos de atendimento ao público no bar e na alimentação. Pra comprar qualquer coisa, você tinha que enfrentar uma fila imensa. Só tinham quatro bares pra atender 8.500 pessoas, e não tinha nenhum ambulante (acho que não existe isso por aqui) pra salvar com aquela cervejinha. Por falar nisso, a cerveja acabou no início do último show.
Toda alimentação só podia ser comprada antes do evento, através do site. Eram 17 restaurantes, oferecendo diferentes tipos de combos. E não podia entrar com nada, nem água. O que parecia organizado, gerou um caos na hora da retirada da senha e dos kits. Nunca vi nada parecido no Brasil. Eram combos grandes, que serviam até quatro pessoas, com um valor super em conta.
Foram sete bandas em oito horas de show. Destaque para as performances da cantora australiana Montaigne e pra Fat Freddy’s Drop, banda da Nova Zelândia que tem um som extremamente dançante.
O que me chamou muito a atenção foi uma ação em relação ao lixo do evento: cobravam um dólar a mais nas bebidas e poderiam devolvê-lo no final do festival, mas só para quem levasse o lixo até a área de reciclagem. O parque ficou limpo em questão de minutos. Vi famílias recebendo 300 dólares.
Foi uma experiência interessante fotografar o evento. Tinha muita criança, famílias inteiras, avós. Eles viram a maior parte dos shows num clima de picnic, sentados. Destaque para o último show, que fez a maior parte da plateia se aproximar do palco e dançar. Me senti livre e superconfortável pra registrar todos esses momentos.
A Austrália tem me ensinado a ter mais calma no olhar e mais leveza ao clicar. Quero fazer nessa minha estadia lindos registros para compartilhar com todo o mundo.