Nomoto no Japão, um diário
Nosso japonês querido voltou pra terra natal e conta as novidades, doideiras e perrengues da nova rotina
Publicado em 11/2017
Saudade de amigo é um negócio chato, né? Especialmente se o tal amigo se muda não pra cidade ao lado, mas pro outro lado do mundo - literalmente. O Japão pegou nosso Victor Nomoto de volta, não só ele como a família inteirinha. Mas ao invés de só chorar e sentir saudade (parte ruim), agora temos um correspondente no Japão (parte irada e muito chique).
Ninja das imagens que é, Nomoto comprou uma câmera portátil para carregar por aí e fazer um diário fotográfico da nova cidade, rotina, cenários, costumes e relações. Para cada imagem, um texto curto que, em poucas palavras, não só contextualiza as fotos como resume o turbilhão de novidades que estão rolando naquele coração tatuado.
Aqui, estão alguns dos cliques que mostram como é a vida real de um japonês-brasileiro que agora tem Tóquio no endereço de correspondências. Pra gente matar a saudade e a curiosidade. Se ainda assim não for suficiente, segue o Nomoto no Instagram (@victornomoto) - e pode comentar "lindo, tesão, bonito e gostosão" que ele adora e a Beta (@ninjabranca) sabe que é verdade.
08 de Novembro de 2017
"Fuck humans, I'm gonna pee here.
Os gorilas estavam tristes, uma das fêmeas teve um filhote e teve que ser separada do bando junto do bebê.
Daí geral tava bem pra baixo, saudades, né.
Foda."
07 de Novembro de 2017
"Contraste.
A vida aqui continua maneira, consigo passar a maioria do tempo com minha família ao mesmo tempo vou tocando os projetos pessoais e do trabalho também. Meus círculos de amizade e de trabalho são praticamente os mesmos, isso vale pra família também, tudo uma coisa só.
Não me defino pelo meu trabalho, talvez pelos meus amigos, com certeza pela família, sou um pai, um marido, acho que são as funções que mais me esforço pra ser o melhor.
Tenho pavor de 'mor correria', orgulho de acordar tarde por ter ficado até de madrugada assistindo seriado, dentro do kotatsu, nesse frio delícia, isso sim eu gosto. A vida não mudou muito, só melhorou.
Melhorias e caminhada, não corre não.
Vai."
05 de Novembro de 2017
"Reflita.
Tudo reflete, faz uma coisa ali, fede ali, cheira aqui, sente assim.
Sei lá.
Dias frios e preguiçosos esses aqui, não é uma reclamação, tá mais pra ostentação mesmo.
Vou tentar sair mais com a câmera, igual fiz no começo daqui. Sempre rende algo.
Eu comprei nessa intenção né.
Vou tentar."
02 de Novembro de 2017
"Nunca subi na Tokyo Skytree.
Acho caro demais.
Do lado tem um prédio que também é alto e grátis, hehehe
Queimei a língua hoje de novo, com misoshiru, tá doendo e não sinto gosto de nada. Inferno."
29 de Outubro de 2017
"Normal days in Tokyo.
Just normal.
Já tinha ouvido falar do Halloween de Shibuya, mas é bem mais intenso e maneiro do que achava.
As ruas se lotam de pessoas fantasiadas, todas felizes e muitas delas bem dedicadas com suas fantasias, geralmente em grupos, tipo esses destruidores de planetas aí.
A chuva foi chata, cagou um pouco o rolê, mas foi interessante de se ver :)"
14 de Outubro de 2017
"Segundo job que fiz pro pessoal do Gizmodo daqui. Engraçado pensar que há alguns anos atrás eu fui convidado pra trabalhar com eles e quase saí do Brasil pra isso, a vida dá umas voltas loucas, né.
Hoje estou mais do que feliz na empresa que estou e ainda posso fazer uns bicos pra esse pessoal.
Já conhecia o projeto m-flo desde novinho, então foi uma puta honra conhecer pessoalmente.
A ideia do block.fm é ser um Tinder de música, você vai ouvindo e dizendo se gosta ou não, achei bacana por não ser 100% livre, tipo os Netflix da vida que estamos acostumados, às vezes eu só que quero dar play numa parada sem pensar muito se quero ou não. Liberdade demais cansa.
É. "
26 de Setembro de 2017
"異世界
Luzes de neon e chuva criam um clichê que eu não consigo resistir, meu ponto fraco. Se eu consegui vencer a preguiça de sacar a câmera, lá vou eu pro meio da chuva.
Confesso que quase sempre a preguiça ganha, minha relação com o lance de fotografar é complicado, amo, mas não gosto de me prender nisso, sei lá, queria saber desenhar, pintar, dançar, me expressar de outras formas. Na fotografia eu consigo, mas queria algo além, nem minha profissão atual é mais FOTÓGRAFO, né, agora eu tenho um título novo que tá sendo bem legal de se viver. Eu hoje em dia me expresso por outros olhares e artistas, possibilidades infinitas que me permitem trabalhar com pessoas que eu sempre quis um dia dar um oi.
Tanta coisa.
Só vem."
24 de Setembro de 2017
"Aperto
Ao fundo luzes de felicidade, sejam elas alegrias momentâneas ou não.
Na penumbra a realidade.
Como diria meu sábio amigo Raul Aragão: 'A vida não é um morango'.
Infelizmente não é mesmo. Me apertou o coração ver um senhor olhando com muita tristeza para a entrada do metrô, sem pedir esmola nem nada, ele só observava com um brilho triste no olhar aqueles que tinham um lugar para voltar. Confesso que não consegui nem registrar isso, não sou bom nesse lance de tirar fotos de pessoas me olhando, não sem elas quererem, deixa de ser o meu olhar e vira uma troca, nem sempre boa.
Essa semana me bateu uma ansiedade estranha, deve ser por causa duma semana cheia que tá por vir, muita coisa nova pra fazer, estranho.
Merda."
22 de Setembro de 2017
"Choveu
Parece regra, no dia que combinamos de sair, chove.
Mesmo assim foi maravilhoso, que passeio legal.
Fomos no Museu de Ciências de Tokyo, engraçado ver como tava lotado de pessoas. De sexta o museu fica aberto até às 20h ao invés de fechar às 17h, assim deu pra aproveitar muito mais.
Entramos pela exposição especial que tá rolando lá agora sobre o Mar Abissal. Betinha ama esse tema, não sei quem era a criança mais feliz, ela ou Kazuki, sei que os dois estavam fofos. A entrada dá direito a curtir o resto do museu também, foi a primeira vez deles olhando para dinossauros, gigantes, né, tinha até uns fósseis que saíram do Ceará por lá, achei foda.
Ao sair, puta chuva de novo, a cidade fica tão bonita, uma pena ter tanta gente morando nas ruas ali na região, na chuva tudo fica mais difícil né, pra eles o difícil já é normal, complicado.
Tirei muitas fotos, provavelmente a semana vai ser sobre isso, ou não, sei lá, me aguentem :) Viver é bom.
Obrigado vida."
12 de Setembro de 2017
"NOMATH
Finalmente fotografei esse show.
Tivemos muitos, mas muitos problemas.
Primeiramente, fora Temer, mas descer com esse equipamento todo para a ilha deserta foi uma MISSÃO. Fomos de van até a cidade, umas 3, 4 horas de carro daqui de Tokyo. Chegando lá, fomos guiados até o topo da montanha, onde descemos os equipamentos e nós mesmos, por um carrinho movido a gasolina, num trilho, tipo uma montanha russa, mas bem lenta, porém igualmente assustadora, isso na madrugada. Pensando na segurança dos equipamentos todos, a descida deles foi feita de noite: amps, instrumentos, inclusive a cadeira de rodas elétrica que é a bateria da banda. TENSO.
Como tamo nesse mundão pra se foder e ser feliz, claro que minutos antes do show começou a chover, bem fortinho até, isso já era pra lá da meia-noite, chuva passa, amp quebra, guitarra fica sem distorção, luzes não acendem, mas o público tava animado, eles seguraram a onda e o show foi bem foda, galera gritando e até soltando fogos de artifício.
Me senti livre pra mandar uns desenhos de luz, tão 2009, tão maneiro, naquela época eu fazia isso sempre, na real só sabia fotografar assim, tô bem velho já né.
Foi uma experiência absurda de foda, uma banda tão cheia de tecnologia e personalidade, numa ilha deserta, ao ar livre.
Ah, eles tocaram sem a vocalista porque ela tinha um compromisso no dia. Não vejo a hora de ver um show com a banda completa :) Da até vontade de ter banda de novo..."
11 de Setembro de 2017
"ZENZAMAN
Esse é um outro artista que tenho a honra de trabalhar ao lado, também membro da metacraft e bicho solto do mundão, punk até hoje e um papai irado, sou muito fã do trabalho dele e da pessoa.
O set dele começou e acabou parando com uns 5 minutos, mas o mundo gosta tanto dele que começou um coro uníssono de pessoas chamando o nome ZENZAMAN, que é essa persona registrada nas fotos.
Recomeço o set desde o início, passando pelo pop, caos otaku e Atari teenage Rio, assim podendo se sentir à vontade num freestyle de noise até o som dar mais um problema e colocando ali um fim no show. Foi intenso. Foi maneiro pra caramba.
Além de estar discotecando e projetando, é ele mesmo quem cria e produz as máscaras, inclusive aquela que é usada na NOMATH.
Enquanto isso tem gente criando as mesmas bandas chatas com os mesmos sons chatos chupados de algo que já existe e ta vendendo em algum lugar.
A vida é curta poxa, bora criar mais."
07 de Setembro de 2017
"Subida.
Essa aí é a ladeira daqui de casa, ela é tão íngreme quanto as minhas odiáveis subidas do bairro de Perdizes, aquelas que ficam perto da antiga MTV, sempre odiei elas.
Mas essa aqui eu amo, descer ela significa ir fazer algo novo, conhecer alguém legal, sempre tem novidade, nem que seja checar as promoções do supermercado. Subir ela me trás aconchego, cheiro de ofurô quente, comida, abraço, beijo e cafuné.
Ladeira boa.
Ah, estamos com internet :) <3"
04 de Setembro de 2017
"Esfriou.
Por aqui anda esfriando, engraçado que enquanto não muda oficialmente pelo calendário a estação, o povo daqui não muda de roupa. Hoje por exemplo, mor frio, geral de camiseta na rua, nem é questão de resistência e sim bobeira mesmo.
Verão não se usa agasalhos, então pra essa, não usarei.
ACHO que essa semana, lá pelo meio dela, chega nossa internet. Oba.
Não aguento mais andar até o Lawson.
Valeu, Lawson."
01 de Setembro de 2017
"Suporte.
Porra, cada dia mais eu percebo como essa criatura aí me mantém vivo.
Sem ela nada funciona, ainda mais nesses dias que tô tendo que fazer tudo que mais odeio no mundo, burocracias.
Sério, odeio papéis, odeio lidar com dinheiros, valores, se foder, mas com ela dá. Ela me passa a sensação de que tudo vai ficar bem.
Aos poucos tudo vai se acertando :3
Ainda estamos sem internet em casa e isso tá sendo a coisa mais merda de todas. Obrigado, Lawson, que fica a 800m de casa, está fortalecendo não só movimento dos sem net, mas também minhas pernas.
Ontem fomos na prefeitura avisar que nos mudamos, eles registram seu endereço no próprio cartão de identidade daqui, assim você já tem um comprovante de residência sempre ali. Achei prático.
Ganhamos uns eletrodomésticos, amanhã vão retirar na casa desse migo e domingo teremos tudo geladinho, roupas limpas e bentôs reaquecidos :) Viu? Uma hora tudo se ajeita, assim disse esse mulherão da foto. Ela tem razão, sempre tem <3
Ah e como tamo sem internet, vai saber quando ela vai ver isso aqui :3"
25 de Agosto de 2017
"夕陽がきれいだね。
Acho que fui pra janela umas cinco vezes pra fazer essa foto, cada hora ficava mais bonito, mais e mais.
Cada vez que a boniteza desse céu subia de nível, a Beta me chamava pra ver. Engraçado que esses dias tava falando com um amigo de trabalho sobre pessoas que não ligam para por do sol, era um papo sobre escritórios, pessoas frias e etc, ele disse que ficava muito triste no trabalho anterior porque geral cagava pra esse tipo de coisa e achavam ele esquisito. Triste, né.
E eu casei com uma pessoa que vibra não só com o por do sol, mas com as mudanças dele, placas de rua, folhas das árvores, formatos de nuvens, bueiros, embalagens de produtos de limpeza, ela vibra pra cada detalhe nesse mundo e eu acho lindo demais a carinha de maravilhada que ela faz, sou um cara de sorte por ter alguém assim na vida, obrigado por existir, Beta.
Te amo pra caramba. Mesmo.
Vamo continuar vibrando com tudo juntos, cada vez mais coisas, mais juntos. Obrigado <3"
24 de Agosto de 2017
"Vidão.
Hoje foi um dia estranho, tive contato com ex-fotógrafo que registrou por mais de 60 anos a evolução do bairro de Shibuya, parece legal né, mas não foi.
O cara era um poço sem fim de ego, um escroto. Foi muito, muito desagradável com a repórter que tava comigo, pra mim não sobrou muita nojeira além de 'hoje em dia qualquer um é fotógrafo', claro, sou homem, no final ele tava tão perdido falando nele mesmo e tentando me dar dicas de vida que nem sei mais o que rolou, desliguei minha mente durante isso e tentei puxar o máximo desse lixo pra mim. Foi estranho, doeu em mim.
Doeu em todos.
O lado positivo foi conhecer a pessoa do outro lado, amparei como pude, as pessoas aqui são mais fechadas, mas às vezes aceitam um abraço.
Compartilhei com ela um adesivo da SHN, esse aí da foto, algo que adotei como lema da vida, mestre.
Depois mais tarde ela me mandou uma mensagem e disse que apesar de tudo 'obrigado vida', pois é.
Ter contato com o poder do ser humano também é algo que devemos agradecer, sempre bom lembrar que o mundo não é um morango, somos fracos e precisamos sempre ajudar um ao outro. O mundo fede, mas isso não vai nos derrubar, ninguém aqui tá sozinho, aliás, algumas pessoas se trancam numa caverna de ego cheia de espelhos e só enxergam isso, elas que morram nessa merda, deixa nois ser nois.
Obrigado vida."
21 de Agosto de 2017
"Mé.
Uma coisa que a galera daqui curte muito: beber.
Tem gente que o ritmo das saídas pós-trabalho é diário. Sozinho ou com a galera do trabalho, importante é a auto recompensa duma bebidinha no final do dia. Tanto que aqui, claro que os trens lotam às 17h, 18h, mas o trem que lota mesmo é o último, a maioria das pessoas não volta direto pra casa no final do expediente e não é incomum ver uma galera trançando as pernas pelas ruelas daqui.
Se você ficar até o último trem vai poder ver os funcionários das companhias de trens retirando os bêbados dos vagões quase jogando eles pra fora, é uma cena que deve ser maneira até, não vi ainda, eu mesmo bebo pouco.
Aí na foto tá um barzinho que fica no caminho de volta do 'escritório', as aspas vão aí porque ele não se parece nada com um escritório normal que estamos acostumados, uma hora eu posto uma foto disso. Era mais de meia noite e ele tava lotadinho de pessoas, um cheiro delicioso dos petiscos vinha lá de dentro, espetinhos, cozidos e afins.
Se pá ainda tô com fome, mas vou dormir.
Beijos Brasil, bom dia pra vocês."
20 de Agosto de 2017
"Família.
Sempre disse que família se escolhe sim, sou a favor de poder moldar e fazer um casting de quem você quer colocar nesse lineup da vida, hoje encontrei um dos poucos amigos de infância que tenho, mesmo sem uma gota de sangue em comum considero ele um irmão, já me ferrei um bocado nessa vida agindo desse jeito, o ser humano é falho e tem uma tendência de falhar bem na minha frente e cagar tudo, mas a vida é assim.
Eu não sei amar mais ou menos, tudo ou não, ichi ka bachi ka, vivo assim e não pretendo mudar, não pela mancada alheia. Gosto de amar e tenho orgulho daqueles que eu amo, aquela história do 'cola em mim que você passa de ano' eu de fato as vezes me dedico até demais tentando ajudar as pessoas, temos que nos ajudar, somos fracos sabe.
Hoje foi um dia tão legal, fomos comer okonomiyaki em Harajuku num lugar mega aleatório, ver o sorriso no rosto dessa minha família é meu combustível, tudo vale a pena por eles, mesmo.
Ultimamente mais do que nunca tenho sentido o prazer em viver, é bom demais. Me sinto realmente abençoado por algo que não sei explicar, a vida, gente, é boa mesmo.
Mas não pode parar, se não, vish, o mundo te atropela, o lance é ter um bom time de enfermeiros pra te segurar nessa caminhada.
Amo vocês minha família, com ou sem sangue, amo de verdade <3
E você, fala aí um eu te amo pra alguém que você lembrou vai, espalha essa felicidade e para de ser egoísta. <3"
19 de Agosto de 2017
"Mudança.
Trocar de apartamentos já tínhamos vivido muitas vezes, nossa vida cabia num caminhão, dessa vez tudo se resumia em algumas malas.
Nessas horas fica tudo tão pequeno, móveis, decoração, roupas caras que nunca foram usadas ou tênis que pisaram só algumas vezes no chão, tudo vira 'meh'. Engraçado que são coisas que chegam a significar status e 'qualidade de vida' pra muita gente, porra nenhuma, chegando aqui você tá pelado de tudo, sozinhos e largados, ou assim deveria ser.
Temos sorte de ter um apoio foda de amigos e pessoas que estão fazendo parte dessa nova etapa de vida, mas fica aí a reflexão, até onde você sabe seu real valor e a partir de onde você é só um outdoor ambulante sem conteúdo.
Seja bom em algo, não precisa viver disso, mas seja de fato bom em alguma coisa nessa vida.
Ah e usem preto.
Sempre."
18 de Agosto de 2017
"Shibuya.
Sempre achei esse lugar meio 'meh', mas morando aqui a relação tá indo pra amor e ódio.
Tipo, não odeio totalmente, mas não tinha nada que me atraia, sempre gostei mais dos bairros nerds e afins.
Ultimamente temos ido muito pra lá para ver coisas para a casa nova e também porque fica a uma estação daqui do Airbnb, daí num é que pode ser legal? Se perder de leve nas ruelas de lá pode ser uma experiência muito louca, parece uma torre de Babel ao céu aberto, pessoas de todos os tipos com várias intenções agrupadas tudo ali, tem nerd, maloqueiro, engravatados, pessoas da noite e tipos que ainda não foram catalogados pelos rótulos ocidentais, sei lá se aqui já são.
Essa é outra coisa que não rola muito aqui, rótulos e afins, meio que o povo não tem essa de rockeiro, emo, seja lá o que for.
Mas eu entro nesse assunto outra hora.
Deu sono. Jetlag acabou, correria tá sendo bem vinda é maneira demais.
AHHHHHHHHHH que saco dormir.
Obrigado vida."
17 de Agosto de 2017
"Trabalho.
Me perguntam muito sobre o que eu vim fazer aqui no Japão, o lance é, eu não vim fazer uma coisa só, não sou uma coisa só e não sei fazer uma só coisa. Não sei fazer nada ao mesmo tempo sei um pouco de tudo, mas basicamente vim pra ter ideias, ajudar e direcionar processos criativos.
Sei lá, uma outra hora falo melhor sobre, mas eu não vim pra fazer foto ou melhor, não vim apenas para fazer foto e isso é muito libertador, no Brasil eu me via numa posição que para ir além teria que fazer coisas que não estou disposto, não sou isso, eu sou a parte de trás, as ruas sujas, aquilo que ninguem quer ver, não sorrisos.
Aqui dificilmente se vê alguém atendendo uma pessoa mal, acho pelo fato das pessoas separarem muito bem o SER e ESTAR, não colocar o trabalho na frente do peito como se fosse uma armadura, que na verdade é frágil feito papel, feita de ego e soberba. Assim você se foca em apenas executar duma maneira melhor, sem essa de "MAS EU", aquele desespero alheio que me dá agonia.
A vida é leve, gente.
Simples e leve.
Sei lá, hoje eu quis escrever assim, amanhã talvez eu poste num horário melhor, pensando no impacto, números e likes. Ou não.
Caba não, mundão <3"
15 de Agosto de 2017
"Metade.
Braço direito, parceira da vida, minha parte boa, aquela que mantém tudo vivo e acontecendo.
Essa é a Beta, se não fosse ela nada estaria acontecendo nessa life muito louca.
Ela é quem me empurra e me faz ter vontade de andar, a razão da porra toda e mais um pouco, tapa na cara da mente que insiste em tentar sabotar tudo.
Obrigado por todos esse anos e por mais outros que tão vindo.
Hoje estamos aqui realizando mais um sonho, viver nesse país novo e nos conectando com coisas desconhecidas.
Te amo mulher, mesmo.
Orgulho de ver ela aprendendo tanta coisa, se arriscando, experimentando e superando tantas coisas.
Hoje comemos num sushi de esteira, daqueles que rodam, um prato saiu da parada e voou em mim, ganhei sushis gratis, ela riu, somos assim, bem bobos.
Pegamos chuva em Shibuya e mais uma vez vimos aquela estátua do Hachiko, uma decepção pra mim, sempre imaginei ela maior, mas faz sentido ter o tamanho dum cachorro né, mas podia ser um tiquinho maior.
Chove pra caramba por aqui, mesmo assim continuamos bem bobos <3"
14 de Agosto de 2017
"O contraste.
Sim, aqui também existem pessoas sem teto e algumas delas pedem esmola na rua, com essa postura, quase pedindo perdão por estar fazendo isso.
O reflexo desse capitalismo frenético daqui se vê nesses momentos, as pessoas que não conseguem acompanhar acabam ficando para trás.
Esse homem tava ali, no meio da passagem das pessoas em Ikebukuro, sendo ignorado por 99% dos passantes, eu registrei, o máximo que posso fazer é isso, mostrar um pouco dessa realidade pro mundo.
Desculpa, obrigado.
Porra, foda."
13 de agosto de 2017
"Hoje eu fui comprar minha câmera do dia a dia.
Era uma vontade que tinha faz um tempo, ter uma câmera sempre comigo, compacta e tals. Foi nessa loja que conheci esse senhor da foto, aliás, ele me conheceu. Se aproximou de mim enquanto olhava para as câmeras duma vitrine pequena, perguntou das tatuagens, elogiou minha família e disse que a mistura de raças é o futuro da humanidade. Disse também que sempre usou filme e queria partir para o digital agora, tinha acabado de comprar uma Nikon, pediu para fazer um retrato meu.
Daí ele percebeu que não tinha cartão de memória, descemos alguns andares juntos para comprar um cartão, eu também não tinha levado os meus, estreamos nossos cartões um no outro. O retrato que eu fiz ficou assim. O que ele fez eu não vi.
Nos despedimos dizendo que nos vemos por aí.
A vida é muito legal.
Muito mesmo."