I Hate People: João Brasil
O João que a gente achava que conhecia
Publicado em 05/2015
Veja também: I Hate People #0: Dosnoventa
Escrever sobre o João Brasil deveria ser mais fácil pra gente porque ele é, além de amigo nosso de longa data, alguém que dispensa apresentações. Ou era. O João que encontramos numa manhã ainda aqui na Gávea é um João um pouco diferente do que fez sucesso estrondoso com mashups misturando ritmos tipicamente brasileiros com hits internacionais, ou com moleque transante ou com a apresentação no Domingão do Faustão ou por ser citado como referência por ninguém menos que Fat Boy Slim ou… Melhor parar, porque a lista é imensa e nós não temos a vida toda.
Quando marcamos a conversa e fotos com o João ele sugeriu um horário ingrato para pessoas noturnas como nós. Madrugamos, chegamos no horário na Gávea, e lá entendemos o motivo da mudança de hábito do DJ: fomos recebidos por sua filhinha Maria de 2 anos de pijama. Tomamos um café e subimos até o terraço do prédio dele para fotografá-lo – o mesmo prédio que ele passou a infância e agora voltou, nostálgico, para ter mais espaço para a família.
Nosso “sinistro da gávea” certamente ganhou fama pela irreverência com que misturou o Brasil com o Egito mundo através de sua produção artística, mas o João com quem conversamos falou mais sobre maturidade, familia, grana, negócios e mudanças. A sensação que fica pra gente é que já sabemos de onde veio, mas a questão agora é: para onde vai João Brasil?
Misturar sempre foi o forte do João e agora, com a paternidade, tudo ficou ainda mais latente: se um dia o processo criativo dele era um momento separado do dia, ser pai embolou tudo, e, ao mesmo tempo, tornou tudo mais natural. João recentemente desmontou o estúdio que tinha aqui no Rio e tem incorporado cada vez mais a produção com a rotina doméstica. A idéia pode assustar muito, mas ele tem levado tudo isso com muita tranquildade.
Com certeza esssa tranquilidade se deve a bagagem que João acumulou ao longo da vida, tendo feito graduação fora do Brasil, morado em Londres por um longo período e vivido quase como um embaixador da brasilidade. “Eu aprendi a criar” nos diz o produtor, que é metódico para fazer render o tempo, aprendizado que vem muito a calhar com as responsabilidades de pai.
Falando em tempo real, João acabou de pegar um avião e partiu para passar 3 meses com a família em Los Angeles. Vai passar um tempo reforçando seu conhecimento profissional com cursos por lá, um dos mais globais polos de entretenimento no mundo.
Profissionalmente, tanto a mudança quanto a simplificação e incorporação do processo criativo na rotina diária estão em acordo com seu interesse em produzir música eletrônica mais global, embora ainda com identidade brasileira (mais especificamente do Rio de Janeiro, como fez questão de reforçar) para fazer música alegre, leve, mas sem perder a autenticidade. Seu maior interesse atual é em comunicar e conectar mais com menos firula, alcançar mais gente e ser menos caricato.
“Eu quero fazer uma música mais humana”, é um bom resumo do que conversamos com João. Fica a sensacão de que uma nova pessoa e um novo artista nasceram da Maria também. Para João, a paternidade e seus desdobramentos trouxeram uma humanidade que ele agora quer transmitir em seu trabalho.
Acompanharemos daqui ansiosos.