Fazer junto, colorido e misturado é mais gostoso e divertido!
Última parada do festival Rider #DáPRAFAZER coloca o Recreio para fazer rima, arte, música, dança e debate
Publicado em 04/2017
Se o MC Bola de Fogo tivesse nosso telefone, temos certeza de que teríamos recebido a seguinte ligação nesse sábado (8): “E ai, tá de bobeira? Vamos dá um rolé na praia? Mó solzão... praia do Recreio...”. Mas mesmo sem o convite, batemos ponto na Praça do Pontal, onde as praias do Recreio e da Macumba se encontram, para a quarta e (infelizmente) última edição do festival, que fez acontecer em vários cantos do Rio.
Com um time forte de fazedores e programação mais recheada que bolo de chocolate de vó, nos últimos três sábados o festival Rider #DáPRAFAZER aterrissou na Gamboa, em Madureira e em Caxias. E a galera decidiu fechar o rolé com o pé na areia e brisa do mar.
Para aproveitar tudo o que o cenário tinha a oferecer, as atividades começaram cedo, como um bom dia de praia. Às 10h30, Mahmed já estava tocando no Palcão e abrindo espaço para o papo de fazedor com a galera do Hermes & Renato, o time que moldou nossa adolescência e caráter. Felipe Torres, Franco Fanti, Adriano Silva e Marco Alves falaram sobre o início do grupo, as primeiras esquetes feitas no quintal de casa e o espírito de fazedor que os motivou a produzir, mesmo sem a abundância tecnológica que temos hoje em dia - afinal, estamos falando do início dos anos 90. Os vídeos eram editados na câmera mesmo e os efeitos de áudio, infinitas combinações de assovios e qualquer outro som que pudesse ser feito com a boca. E os caras tão aí há 20 anos nos fazendo rir – agora com mais recursos e estrutura, né? Foda!
O início da tarde foi embalado por shows de Chad Valley, uma edição histórica da Batalha de Passinho e pelo time do Tropitek Cru, formado por Autonomia, Lagang Rap, SD, SOS, Gaber Ktt, Lekin, Torrxs, Hanimec e Dree Beat-Maker. Quando a Biltre subiu ao palco, dezenas de vendedores ambulantes, que estão sempre ali com caipirinha, pizza, açaí e pipoca, já se aglomeravam por perto para participar do festival também. Até os vendedores de churros serviram de inspiração para os caras da banda improvisarem uma música! Carrocinhas, carrinhos, barracas e food trucks convivendo muito bem, obrigado - uma simbiose maneira de ver, comer e beber.
Lá na Arena, Sabrina Ginga, dançarina e musa do Heavy Baile, comandava uma oficina de dança pouco antes da RAXA começar o bate-papo sobre Maternagem com Helen Ramos, que também atende pelo codinome Hel Mother (sim, aquela do Youtube mesmo), as cariocas Gabriela Moura e Thayná Trindade e Amnah Asad, da Noix, agência que fez o festival acontecer. Mas porque Maternagem e não Maternidade? Maternidade é o processo biológico de ser mãe, está ligada ao laço sanguíneo entre mãe e filho, já a maternagem é caracterizada pelo amor, cuidado, laço e aprendizado com aquele serzinho que está crescendo.
Enquanto Dandara e Morena, filhas de Thayná e Amnah, respectivamente, corriam, pulavam e brincavam de boneca pelo espaço, o quarteto falou sobre sexualidade, a descoberta da gravidez, os desafios de ser mãe hoje em dia e em como quebrar paradigmas e conceitos datados está ligado ao feminismo. “O machismo está todos os dias na maternidade. Aprendi que eu não dou conta de tudo sozinha - e tudo bem. Quem foi que disse que a mãe tem que ficar 24 horas com a criança? Podemos e precisamos pedir ajuda e sair para nos divertir também”, disse Helen.
E Thayná lembrou as diferenças entre as mães brancas e negras. “Não consigo definir o que faço como feminismo, mas como método de sobrevivência. Não me digo feminista, eu sou uma mulher preta, porque existem muitas diferenças entre o feminismo da mulher branca e o da mulher preta. Eu levava a Dandara para a sala de aula nos cursos que eu fazia e abri a minha marca de acessórios, a Uzuri, que é meu segundo filho. Eu me senti viva a partir do momento em que fiz algo além da maternidade. E todos os dias eu converso com a Dandara e mostro para ela que eu não sou menos mãe por não estar com ela o tempo todo”, contou.
Ih, peraí, que batida é essa? Cara, era a final da Batalha do Papo de Roda! Eram quatro competidores improvisando rimas pelo prêmio de R$ 10 mil: Lili, MZ, Aika e Samurai. Feminismo, corrupção, educação, capitalismo, racismo, legalização e amor foram alguns dos temas que entraram na roda. O confronto final rolou entre Samurai e Lili, que rimaram sobre desigualdade, direitos humanos, privilégios, indústria farmacêutica, aborto e política.
E quem levou o prêmio foi Lili, a garota de 17 anos que veio de São Paulo com sua melhor amiga especialmente para participar do concurso e, caraca, arrepiou todo mundo! Que força, que talento! Depois de receber seu checão e seu troféu, encontramos a moça atrás do palco, onde ela não parava de receber abraços. Natural de Ribeirão Preto e atualmente moradora do Ipiranga, na Zona Sul de São Paulo, a vencedora contava que vai aplicar o prêmio em música e na sua minha família. “Vou investir num apartamento e em som, gravar meu CD nesse ano”, disse.
Até que Aika chegou e pediu: “faz aí o freestyle dos 10 mil!” E Lili começou: “É freestyle dos 10 mil, mané, só na bacana. Queria que esses 10 mil fosse aqui 10 mil manas, que era pra entender que na saga é as mulher, os cara quer, mas não vai chegar, não, pois é, tá ligado nessa? Eu confio no meu axé, confio em Iemanjá, confio na minha fé e onde ela me guia eu sei que não vai dar migué, por isso eu continuo a caminhar”.
E Aika continuou: “Vai caminhar em qualquer lugar! Rio de Janeiro, você veio e colou pra cá pra nós improvisar, fazer a conexão, fazendo aqui, sempre, e rimando pros irmão que tá no dia-a-dia, na batalha. Em qualquer lugar a gente faz um bom lugar com muito axé e energia de Iemanjá. Na beira da praia, a Lili chegou e levou 10k!”
Até aí a gente já estava arrepiado, mas Lili lançou mais um: “Vim de SP pra RJ, sim, sem ironia, mas eu falo que primeiro eu agradeço não a quem me deu a vida, mas a Dona Maria, que me fez ser cria, sim, e ser cria da nata. Criou cinco neta na difícil, mas não embaça, cê tá ligado? Eu sei o quanto foi difícil, mas valeu cada suor e valeu cada sacrifício pra chegar aqui e ganhar 10 mil reais - e ainda ganhar 20 mil manos leais e mais 40, as minas que são sagaz, que vão matar esses 20 mil e deixar eles pra trás!”
Para embalar a comemoração, Baco Exu do Blues começou seu show, e ainda convidou Coruja BC1, que cantou no intervalo das batalhas, para subir ao palco de novo, ao lado de Samurai, Aika e Lili. Clima de confraternização do rap mesmo, sabe?
Aí Tássia Reis chegou com seu rap jazz, cabelão alaranjado e música que envolve em a gente em cada batida. Crianças, adolescentes, casais recentes ou com décadas de parceria, grupos de amigos e quem estava ali trabalhando: não teve uma pessoa fora da sintonia. As músicas do disco recente, “Outra esfera”, foram as protagonistas do setlist, mas também deu pra galera dançar juntinho com “Good Trip”, aquela que fala de uma viagem pro Rio, e, é claro, “Meu rap jazz”.
Um ponto de luz coloria surgiu no horizonte: era a bananobike do do Minha Luz é de LED, que comandou uma mega alongamento com o pessoal do Bunytos de Corpo, porque dançar, malhar, rebolar e trabalhar andam de mãos dadas, não é verdade? Fazer junto, colorido e misturado é mais gostoso e divertido!
Que o digam as Raxa Jam DJs, que fecharam a noite com um set cheio de funk e o palco cheio de representantes de cada parte da equipe que fez o festival Rider #DáPRAFAZER acontecer, em uma comemoração mais do que merecida. Parabéns, galera! Foi incrível! E pode nos chamar nos próximos, porque se tem uma coisa que gostamos (muito) de fazer, é festa!