De nós pra nós
A edição da Puff Puff no engenhão com o Luccas Carlos
Publicado em 07/2018
A Puff Puff é um evento que gosto muito de trabalhar por que consigo produzir um material muito irado registrando o público da festa e o rolê em si. Mais que isso, é foda poder ajudar a construir uma comunicação da festa através de um registro verdadeiro e próximo. Próximo aos organizadores, artistas envolvidos e também no meio da galera, transformando isso em um registro final que dialoga com todos juntos.
Sabendo do caminho que a festa já percorreu e a importância desse rolê acontecendo no engenhão, achei que seria interessante ter mais pontos de vista dos envolvidos sobre a festa e o que ela representa. Conversei com o Totonete, um dos produtores, o Luccas Carlos, artista convidado para a edição, a Tamy, dj residente e o Tago, que frequenta desde a primeira edição. É muito legal ver a visão de cada um e como elas conversam!
TOTONETE
A Puff Puff Bass é uma festa que vem da zona norte, já passou por diversas etapas, tem uma proposta inclusiva e cada vez conquista mais espaço e arrasta uma multidão fiel. Como é ver que tanta dedicação investida retornar em um reconhecimento e crescimento?
É muito recompensador. A cada ciclo conseguimos mobilizar mais pessoas pros nossos rolés, inserir mais artistas na cena, estimular eventos do mesmo estilo e oferecer entretenimento de qualidade de uma forma acessível. Cada vez mais nos sentimos realizados por atingirmos o público que realmente precisa de uma festa como a Puff Puff Bass - e nós estamos aqui pra ser isso pra eles.
Como vocês percebem o apoio do público em relação ao movimento da Puff? Isso ajuda no crescimento e na caminhada?
A Puff Puff Bass é um coletivo formado por vários amigos, antes de tudo. Artistas, produtores, fotógrafos, videomakers, designers, promoters... tudo só acontece porque um exército acredita, apoia, bota a mão na massa e faz acontecer. Acho que o público mais cativo sente isso e devolve essa energia pra gente. Sabem que são parte de uma família e agem como tal. Seguem nossas ideias doidas, sempre procuram formas de expor o que acham, defendem quando alguém fala algo com má intenção, mas reclamam de coisas que aconteceram buscando melhoria... nosso público nos abraça e move a gente de verdade. Sou muito grato por toda essa fé e expectativa depositada em cada edição.
Qual é a sua visão da Puff enquanto festa e movimento cultural? O que isso representa para vocês e para o público?
Representamos uma alternativa acessível. Vivemos uma fase em que o Estado, que devia ser responsável por apresentar alternativas de acesso à cultura pra galera jovem nos abandonou em todos os níveis - principalmente a prefeitura. Só resta nós por nós e a Puff Puff Bass é isso. Jovens de periferia fazendo um evento para jovens de periferia. Mostramos a outros jovens que a gente também pode. Este é o empoderamento que buscamos, da auto-suficiência, da disposição de lutar, de correr atrás dos seus objetivos.
Quais foram os momentos mais marcantes da festa até essa edição do Engenhão?
Nossa, foram muitos! Acho que cada um vai ter uma leitura, mas na minha cabeça, vem nossa primeira festa na rua - na Praça do Méier. No meio do rolé, com umas 1.500 pessoas na festa começou a chover. Uma minoria se escondeu embaixo das marquises, mas a grande massa ficou lá curtindo. A chuva apertou a ponto da luz dos postes piscar várias vezes e a galera não parava de curtir o som, os DJs não paravam de tocar numa chuva absurda em plena praça pública, num domingo qualquer. Foi incrível ahahahaha
Quais os planos para o futuro da Puff?
O plano é tornar o diálogo cada vez mais próximo da periferia, sendo um canal entre produtores e artistas dela pro público dela mesmo poder acessar.
LUCCAS CARLOS
Qual a sua visão em relação a trajetória da festa e a sua? Existem coisas em comum?
É uma festa que vem da ZN e eu sou uma pessoa que vem da ZN, muitas vezes fiz rolé por aqui perto, assim como a festa. Ela tem um público que é muito fiel e só cresce. É muito louco ver isso acontecer hoje, realmente, parando pra ver, estar aqui hoje embaixo dessa estrutura, fazendo um bagulho na nossa área, isso é muito louco!
E você acha que o público tem a mesma percepção que você?
Acho que sim, acho que compartilham do mesmo sentimento, tá ligado? Tipo, nós viu o cara! Tem esse lance de você ver a coisa acontecendo, tá ligado? E eu sinto que é mais um marco, chegamos aqui, 8 de junho e fizemos isso, ó, juntos! Isso que é foda!
Qual o seu sentimento quando você está no palco e vê que a galera tá ali acompanhando, tá junto, vibrando junto… O que você acha disso?
É muito genuíno, é um bagulho que se dá naturalmente, e vendo isso acontecer, olhar pra cara da pessoa, ela tá tipo, se esgoelando... é muito louco! Ainda mais no quintal de casa, vários amigos! Cara, nem sei, tô muito feliz!
O que você acha dessa trajetória da Puff, vir de um rolé independente e conseguir fazer uma festa desse tamanho, em um estádio?
Ah, esse é o hype real, não o hype pros outros, tá ligado. De você olhar pra sua caminhada e falar, mano, é isso! Eu vi o bagulho ser em lugares muito menores. Fico feliz de fazer parte de uma parada dessa magnitude. Podia ter sido em qualquer outro lugar, qualquer outro ano, mas tá sendo hoje aqui! Vai ser foda!
Que que você acha que desse corre da festa de sempre estar buscando valorizar a ZN?
Pô é isso mano, de nós pra nós, tá ligado!
O que você diria como inspiração pra galera que tá no corre também tentando alcançar alguma coisa?
Aí, rapaziada, não sou exemplo pra ninguém, mas eu acho que se você acredita num bagulho e você acha que esse bagulho é sua vida mesmo e se dedicar muito pra isso acontecer, não tem força no mundo que não vai deixar isso acontecer. Nós somos a prova dessa porra ai!
TAMY
Como é fazer parte de um movimento como a Puff? Você acredita que a festa desempenha um papel cultural importante para os artistas envolvidos e também para o público?
É divertido, a Puff é um coletivo que traz interação e lazer pra nossa galera, pra nossa área. Apesar de ser uma festa a princípio focada em Bass, é um rolé aberto e que vários grupos se identificam. Acho esse mix sonoro e cultural irado!
Como foi a experiência de tocar nessa edição do Engenhão, a maior de todas até agora?
Achei legal demais! Geralmente quando acontecem eventos em grandes estádios aqui no Rio é por que os eventos são grandes e têm sua realeza sabe? Me senti assim, importante tocando ali, num estádio de futebol, no mês da copa do mundo rsrs. Fora que o Engenhão recebe algumas produções de shows e movimentos maneirássos, acredito que era pra estarmos ali!
TAGO
Para você, o que representa a PUFF PUFF?
É um pouco difícil falar o que representa a Puff pra mim porque eu acompanho o crescimento desde a primeira edição em que comemorei meu aniversário de 20 ou 21 anos. Lembro que era uma festa que eu ia para ouvir música boa e dançar e até hoje isso não mudou. É o lugar que eu me sinto mais à vontade para fazer isso. Também se eu quiser conversar eu encontro pessoas boas para isso, lá é o lugar onde a troca de energia acontece muito natural e sempre energia boa. Eu acho também que a puff veio quebrar muito tabu do hip hop, sabe, essa coisa engessada de macho e hétero. A Puff não é uma festa gay mas acolhe esse público. Acho que é onde a galera pobre se junta e dali saem várias possibilidades. A galera nao vai mais pra Puff só pra dançar, vai pra se conhecer, falar de trabalho… Eu acho lindo quando vejo duas pessoas lá, uma falando que fotografa, outra falando que é modelo, já marcam logo um editorial… Eu acho que é isso que a Puff representa pra mim, é muito mais que uma festa, é um lugar onde eu posso trocar energias com pessoas legais.
Como foi essa experiência no Engenhão?
Achei incrível, porque essa coisa da Puff ser além de um lugar pra dançar, é que deu oportunidade a várias pessoas a terem acesso de coisas que não podiam antes, tipo, é uma festa barata, pra gente pobre, dentro de um estádio, cabia muita gente, um som incrível, djs incríveis... tanto que lotou!