A noite do BaianaSystem no Circo Voador
Foi tudo aquilo que a gente já imaginava - e mais um pouco
Publicado em 12/2017
Que os outros palcos da cidade não nos levem a mal e nem fiquem ressentidos, mas os shows no Circo Voador têm uma energia diferente. Shows do BaianaSystem deveriam ser sempre anunciados como “compre um e leve dois”: é um no palco e o outro na plateia. Nessa sexta-feira (8), teve show do BaianaSystem no Circo Voador, então pensa no poder da reunião dessas energias todas debaixo de uma mesma lona mágica.
Talvez você esteja meio cansado de nos ver falando sobre o Baiana, afinal, este é o terceiro zine do ano sobre/ com a banda, mas é que não tem como ignorar a força do grupo fundado por Beto Barreto, ainda mais em uma noite que começou a ser desenhada como histórica já no anúncio da data marcada na agenda do Circo. A dois meses do show, os ingressos esgotaram em dois dias. Pá-pum, bobeou, dançou.
Independente do local escolhido, um dos elementos mais fortes dos shows do Baiana são as rodinhas - ou “furacões”, como eles gostam de chamar. Rolam várias pequenas ou uma enorme ao longo das duas horas em que eles estão no palco. E o Circo Voador é redondo, então imagina só. Pois é, foi histórico.
B Negão abriu a noite com um DJ set inspirado e gostou tanto da energia que foi ficando, ficando e participou de boa parte do show, como um embaixador carioca recebendo os soteropolitanos. Não que eles precisassem de ajuda para quebrar o gelo, afinal, quando a música bate tão forte, os fãs viram íntimos do artista já na primeira vez que o escutam. É terapia, como eles dizem, ou religião, como definiu o Padilha, dada a potência e devoção que rolam nos encontros.
Casa cheia e ávida, pronta pra catarse, e o palco ficou todo azul e preto pra entrada do time. A torcida foi à loucura. Mesmo. Já tinha passado a primeira meia hora de show quando Padilha me mandou uma mensagem: “tá impossível trabalhar”. É que o Circo Voador é tão livre que não tem o tradicional fosso entre o palco e o público, de onde, geralmente, os fotógrafos registram os shows. É contato direto mesmo. E a galera estava tão coladinha em sintonia que o nosso Padilha não conseguia nem uma brechinha pra levantar a câmera e clicar. Uma massa homogênea em fermentação, a mais de mil decibéis, tipo bolo crescendo no forno, com a força do fermento que é voz de Russo Passapusso.
Além dos tradicionais hits dos discos “Baianasystem” e “Duas Cidades”, rolou improviso e também uma nova versão da “Dança do Patinho”, de B Negão, com recados diretos pra Marcelo Crivella, Sérgio Cabral e Geddel Vieira Lima, e também o single mais recente, “Capim Guiné”, parceria com a angolana Titica lançada dias antes do casamento deles no Rock in Rio.
Foi “Capim Guiné”, aliás, que deu o pontapé inicial da “doideira”, como definiu Russo: a parte final do show, quando o caldeirão quase transbordou - e, pra garantir que tudo corresse bem, nosso amigo Diegão Moura tomou pra si a tarefa de produzir e organizar a enorme roda para o hit “Playsom”. É nessas horas que a gente sabe que tem as amizades certas.
Esse foi o último show do BaianaSystem em 2017. Nos sentimos honrados. Mas, se você não conseguiu ir e agora tá com (mais) vontade, afinal, como já dissemos, só dá pra entender "a onda" do Baiana num show deles, relaxa porque em janeiro eles voltam. Dizem até que, talvez, quem sabe, a bordo de um tal navio pirata - aquele mesmo que incendeia as ruas de Salvador no Carnaval. Ôxi, dá arrepio só de imaginar.