Tá fixe, o baile tá fixe
A conexão entre Rio de Janeiro e Luanda que virou música - e clipe!
Publicado em 11/2017
Passamos 17 dias em Angola em janeiro de 2017. Viajamos para conhecer e pesquisar mais sobre a cena de kuduro de Luanda e criar algum tipo de conteúdo aqui na firma, qualquer que fosse, para registrar isso e ter uma troca. Voltamos com um documentário (que você pode assistir aqui), uma música e um clipe.
A música começou a ser feita de uma forma muito espontânea, ficamos até surpresos. Saímos daqui pensando que seria muito legal tocar em uma festa em Luanda (o que aconteceu), produzir alguma coisa com alguém de lá e também trazer músicas de artistas angolanos com quem tivéssemos colaborado para mostrar pro pessoal daqui o que a galera de lá está fazendo. Então, já fomos pensando nisso de produzir uma música. Não sabíamos que poderia rolar, mas quando vimos a possibilidade, embarcamos com tudo.
Em Luanda, nos hospedamos em uma pousada pequena e fizemos amizade com o pessoal que trabalhava lá. Um deles, sabendo do nosso interesse por música e que tínhamos viajado por causa disso, nos chamou para tocar numa festa com alguns amigos dele. Um desses amigos era o Pitxú, que é produtor musical e nos convidou para, a princípio, ensaiar na casa dele o que iríamos tocar na tal festa.
Chegamos lá com algumas músicas, umas batidas e queríamos ver como poderíamos incluir algumas interferências de tambor ao vivo. Encontramos vários amigos do Pitxú, conhecemos o espaço onde ele produzia e do nada ele começou a fazer uma música. Nem ensaiamos, que era a intenção inicial, e acabamos montando uma música, a “Tá fixe”.
Marcondes levou alguns beats e o cara pirou, já jogou pro computador e começou a experimentar. Aí um dos amigos dele já foi gravando uma voz, fizemos o refrão na hora, todo mundo junto. O Pitxú pediu e gravamos frases soltas com gírias cariocas para ele usar em outras faixas. Misturamos beats de kuduro com os que o Marcondes levou e a coisa foi acontecendo.
O “Tá fixe” surgiu na hora. Queríamos um refrão, uma frase, que simbolizasse um pouco do que estava acontecendo no nosso rolê, uma frase que fosse deles, mas que nós conseguíssemos entender pela vibe. E esse foi um lance que achamos curioso e que todo mundo fala - 100% da galera fala “tá fixe” ou só “fixe”, que tem o sentido de “maneiro”, “legal”, ou “tá tudo bem”. Na entrevista do DJ Ketchup, por exemplo, ele fala “fixe” o tempo inteiro.
Tivemos só dois dias de estúdio, o que é muito pouco para finalizar uma música, ainda mais nesse caso, em que levamos um tempo para trocar ideia e geral se conhecer e também porque começamos a construir a música realmente do nada. Além disso, não estávamos acostumados a produzir com os recursos que ele tinha, não usamos os mesmos programas, os beats e instrumentos eletrônicos são diferentes, faltou tempo mesmo para fazer uma imersão.
Então, o Pitxú nos mandou o material para finalizarmos a faixa aqui no Rio. Adicionamos mais harmonias, refizemos as batidas - foi mais prático de trocar os timbres, deixar parecido e não tirar a essência, mas também colocar uns samples para que a gente conseguisse mixar melhor e fechar a música.
O clipe
Quando estávamos produzindo a música, decidimos fazer também um clipe. A galera de Angola tem o costume de lançar a música com um clipe. Sempre rola um vídeo no Youtube pra divulgar a música através dele, eles não lançam um EP ou um álbum com várias faixas, gravam uma música com um vídeo. O pessoal já saiu com várias ideias lá no estúdio mesmo, como se fazer o clipe já fosse parte do projeto, mesmo que ainda não tivéssemos conversado sobre isso.
No último dia de viagem nós gravamos o clipe. Filmamos tudo pelo bairro dos moleques, o Talatona, que era a uns dez minutos a pé de onde estávamos hospedados. Tudo foi espontâneo porque não tínhamos muito tempo. Construímos uma história de um dia pro outro, pensando sempre nas nossas limitações: tínhamos pouco tempo, pouco espaço, pouca equipe e pouco equipamento.
Levamos pra Angola apenas uma câmera para filmar, uma câmera fotográfica que não filmava, uma lente e lá compramos um monopé. Só podíamos filmar durante o dia porque precisávamos aproveitar a luz do Sol. Transformamos nossas limitações em linguagem.
Queríamos fazer o clipe com a pegada dos vídeos angolanos que víamos muito, com uma galera dançando e cenários bem legais. Daí surgiram a barbearia do irmão do Pitxú e os grupos de dança de amigos dele, do Savio Show e do Socílo Xeriff: Os Makambos, Os Mvuama e Os Botsuwana. Os moleques criaram os passos da coreografia na hora, foi muito irado. Assim que começamos a filmar, apareceu muita gente nos seguindo, molecada mesmo, querendo aparecer e fazer parte do clipe. A cada hora ia chegando mais gente, todo mundo cantando na rua e foi um desafio captar essa vibe. Achamos que conseguimos.
"Tá fixe!"
Música produzida por Johnny Ice e Elpitxú, com as vozes de Savio Show e Socílo Xeriff
Clipe
Produzido e dirigido por Alexandre Marcondes e Suryan Cury
Edição: Alexandre Marcondes e Clarissa Ribeiro
Finalização: Alexandre Marcondes
Com participação de Os Makambos, Os Botsuwana e Os Mvuama
Co-produção: I Hate Flash
Design: André Duarte
Edição de texto: Beatriz Medeiros