Relato de Quarentena #4
O dia-a-dia de uma profissional de saúde por Samira Barros
Publicado em 06/2020
Meu nome é Samira, tenho 28 anos e sou técnica em enfermagem em um hospital privado na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Minha rotina segue firme e forte no trabalho durante essa quarentena. Meu plantão é de 12 horas noturno, e pelo meu contato próximo aos meus pacientes durante essas 12 horas costumo dizer que eu entro na vida dessas pessoas por esse período. Com alguns construímos um laço de respeito e boa amizade com outros não.
Eu moro há uns 30 minutos do hospital. Minha rotina começa às 19hs, noite sim e noite não no setor de Unidade de Internação. Rendo meu colega do serviço diurno. Ele me passa como foi o dia dos pacientes. Se ele comeu, bebeu, se fez exames e se teve alguma alteração nos sinais vitais. Após a definição da escala de pacientes, definida pela equipe de técnicos ou pela enfermeira supervisora imediata, me encaminho aos quartos dos meus pacientes desse plantão para conhecê-los e me apresentar. Para eles, digo meu nome, função e os comunico que serei a responsável por dar continuidade aos cuidados e medicamentos a partir daquele momento. A partir disso eu já entro na vida daquele paciente que por um momento me olha com um olhar desconfiado e que às vezes logo muda. Normalmente mais de um pessoa fica sob os meus cuidados. Já fiquei com 10 pacientes na mesma noite. Isso depende do número de técnicos em relação ao número de pacientes.
Após conhecê-los, relato na folha de evolução individual de cada um. Como os encontrei num estado geral e vou relatando durante a noite todo o cuidado que eu presto para esses pacientes. Sejam intercorrências, agravamentos e toda informação relevante para a equipe multidisciplinar (médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionista). Verifico os sinais vitais dos meus pacientes caso apresentem alterações comunico a minha enfermeira supervisora, para que possamos fazer as intervenções cabíveis, caso não resolva, comunicamos ao médico plantonista para serem feitas outras condutas.
As medicações de cada paciente são enviadas para mim pela equipe da farmácia. Ao chegarem no posto de enfermagem faço a conferência junto a prescrição médica, uma a uma, cada dosagem, nome, por cada paciente, para seguir corretamente a prescrição. Para não causar danos aos meus pacientes, após a conferência, será preparada e identificada cada medicação. É feita administração em cada paciente, por mim, nos horários determinados na prescrição, momento o qual considero de muita responsabilidade.
Nos cuidados observo as necessidades dos meus pacientes, alguns não andam, não comem sozinhos, usam fraldas e dependem de mim para limpeza e troca de roupas. Registro aqui que todo esse serviço é feito pela equipe de enfermagem, na madrugada nos revezamos para um momento de descanso, não deixando em nenhum momento que nossos pacientes deixem de ser assistidos e que eles sejam acolhidos a cada atendimento.
Logo amanhece, faço meus últimos cuidados daquele plantão, fecho minhas anotações da noite e aguardo a minha rendição chegar, para que eu passe como foi a noite dos meus pacientes e que os meus colegas continuem os tratamentos.
Profissionais da saúde são expostos a todo e qualquer tipo de doença contagiosa todos os dias. Em tempos de pandemia dobramos nossa atenção. No entanto, temos que nos cuidar sempre. E precisamos do reconhecimento público em todos os momentos, o ano inteiro. Em cada cuidado relatado aqui usamos equipamento de proteção individual padrão e alguns específicos conforme a patologia de cada paciente.
Pra quem está entrando para área da saúde e principalmente para área de enfermagem é importante saber que todo esse cuidado faz parte do dia-a-dia e é super necessário o interesse em cuidar do outro. Até porque estamos falando de pessoas passando por dificuldades e nem todos os plantões são perfeitos, nem todos os dias eles estão bem. Intercorrências acontecem e nem sempre as intervenções são um sucesso. Nem sempre as notícias são boas para as famílias. Temos que ficar atentos a todos os sinais.
Nesses dias , em tempos de pandemia, a maior emoção durante meu trabalho é quando um paciente que passou pelas minhas mãos tem alta hospitalar. O agradecimentos por esse cuidado são sempre muito emocionados.