Queremos: Franz Ferdinand
02/10/14 @ Vivo Rio | RJ
Publicado em 10/2014
Lançamos aqui mais um dos nossos novos formatos de cobertura, trazendo, como complemento as fotos, textos de jornalistas convidados sobre suas experiências nos shows que fotografamos. Esse aqui é nosso piloto, feito pela recém chegada Bia já direto com o Queremos, nossos parceiros de longa data! Maneiro quando tudo se encaixa, né?
Circo Voador, o ano é 2006 e a situação, a primeira aterrissagem do Franz Ferdinand no Rio de Janeiro: puro frenesi. Agora corta pra 2014, 2 de outubro, Vivo Rio, quarta passagem do quarteto irlandês pela cidade e... puro frenesi. Do início ao fim, a cada reboladinha de Alex Kapranos e exclamações de "ficamos longe daqui por muito tempo! Muito tempo!".
Essa foi a vibe do show que o grupo fez por aqui na semana passada e eu acompanhei de perto, assim como os milhares de fãs que cantaram a plenos pulmões todas (eu disse todas) as 22 músicas do setlist - do hit supremo "Take me out" à (não tão) novinha "Right action".
Definitivamente o Franz já entrou na lista de bandas que podem ser consideradas os novos clássicos. Uma galera blasé insiste em falar que já nem vê mais graça, que eles não são novidade e sempre estão aqui no Brasil e blá blá blá, mas o furor e a qualidade musical são os mesmos de sempre – pude comprovar. Os caras sabem fazer shows como poucos, têm a maturidade de quem é sucesso mundial há mais de 10 anos e fôlego de sobra.
Se sentem tão em casa no Brasil e à vontade no palco que até atenderam ao pedido de um sortudo fã e o chamaram para tocar guitarra no lugar de Alex em "Tell her tonight" - o cara (vulgo Edu) mandou super bem e desceu de volta à plateia sob gritinhos de “uhul” e com alguns fãs no currículo. Sabe a Coca-Cola que não precisa trazer nenhuma novidade fantástica e "só" trabalha para se manter no mercado porque os fãs são fiéis e se renovam? O Franz é tipo uma Coca-Cola do rock.
Antes do show começar, aproveitei as regalias da pulseirinha de livre acesso e entrei no fosso que separa o palco do público pra conhecer alguns daqueles fãs enlouquecidos que levam faixas, cartazes e passam horas na fila para serem os primeiros a entrar. Coladinhos ali na “grade”, logo vi o sorriso gigante do estudante Henrique Mota, de 23 anos, que matou aula na faculdade de engenharia civil por duas semanas para realizar o sonho de correr atrás da banda e cantar/ pular/ dançar nos shows que rolaram aqui no Rio e em São Paulo. "Fui para o hotel deles em São Paulo às 11h de terça-feira e fiquei até as 14h esperando alguém aparecer - sem comer, beber água ou ir ao banheiro. Aí me distraí por alguns segundos e me disseram que os caras tinha acabado de sair. Fiquei revoltado! Esperei até as 17h e nada de eles voltarem. Saí pra comprar uma coxinha e, quando voltei, contaram que eles tinham acabado e voltar ao hotel. Inconformado, esperei mais 20 minutos e, finalmente, o Alex passou e consegui tirar a minha foto", contou o rapaz de Salvador, já quase rouco e me mostrando, todo orgulhoso, as polaroides que tirou e autógrafos que conquistou no ingresso do show que rolou do outro lado da Dutra.
Simone Goldenberg, de 32 anos, conseguiu acumular umas boas milhas com essa vinda do Franz à América Latina. Parte do time do site Franz Ferdinand Brasil, ela acompanhou a turnê, que passou por Santiago, Buenos Aires e Montevidéu, além da ponte Rio - SP. Assim que chegou, ela pendurou na “grade”, de frente para o palco, uma bandeira do Brasil e se posicionou exatamente no meio do palco – obviamente bem de frente pro Alex. "Tô viajando desde o dia 20 de setembro. Pedi férias no trabalho e estou faltando às aulas da faculdade, mas tudo vale a pena. A banda já reconhece a gente", disse.
Mãe e filha, Damiana e Lais Eirin, de 52 e 22 anos, não viajaram tanto assim, mas estavam igualmente ansiosas na fila do gargarejo. Perguntei à Damiana se ela estava ali para acompanhar a filha e rapidinho ela esclareceu: “é, ela me chamou, mas eu também gosto da banda, tá?”. Enfermeira lá em Macaé, ela ia pisar no hotel para cochilar algumas horas antes de ir, logo cedo, de volta para casa. Na real, de volta para um plantão de 24h no hospital, praticamente virada. É, a gente conhece muito bem essa estratégia e sentimento de que perder algumas noites de sono pode valer a pena, bate aqui!