Slam das Minas: a revolução feminina através da poesia
Primeira edição do torneio poético no Rio de Janeiro reuniu pessoas, experiências e arte no Largo do Machado
Publicado em 05/2017
Um grupo de mulheres poetas reunidas em um apartamento. Debatíamos sobre como romper as paredes e irromper a rua com poesia. Não a poesia das academias, mas aquela que surge das próprias ruas como um grito. Como a escuta em um mundo de ruídos? Como o diálogo em um mundo de monólogos? Como quebrar a palavra até que ela seja apenas o que é: uma ponte.
O Slam das Minas já acontecia em capitais como São Paulo e Brasília, e decidimos produzi-lo no Rio, à nossa maneira. "Mas quem somos nós, as minas?" Letícia, que tivera a ideia do slam, questionava a própria identificação com o gênero feminino. Somos todas: mulheres, trans, queer, não bináries. Todas as que historicamente foram silenciadas. Somos, sobretudo, este espaço vazio, livre de rótulos, a ser preenchido por uma liberdade radical. Somos a soma das nossas vozes, que se escutam, acolhem, empoderam. Somos juntas. Vamos juntas.
Quem veio viu o Largo do Machado se encher. Quem veio viu Neide, Monique, Fabi, Marias. Viu mulheres virarem monstras, viu palavras virarem facas. Veio a mulher da favela, veio a mulher preta, veio a mulher falar daquilo que se calava, daquilo que não se vê. A violência, a opressão, o padrão, o controle, o estupro, a delicadeza cotidiana. Vibramos, choramos, rimos, nos arrepiamos juntas, que é para isso a poesia: para fazer ver.
A competição como pretexto para brincar: lado a lado. As minas que traziam desenhos e zines para somar. Os livros doados. E a energia... de voz represada quando sai, de palavra certa esperada pelos ouvidos, de encontro de almas, de pertencimento, de identificação... Caramba, alguém sonha como eu, alguém sofre como eu... ou... alguém vive absolutamente diferente de mim, mas por um minuto eu vi, eu estive na sua pele e foi pela palavra em sua potência, pela poesia que eu soube. A vida é muito larga. E a arte nos rasga para caber mais.
Quando acabou, não acaba. As mulheres seguiram subindo nos bancos da praça, declamando seus poemas vivos, sangue correndo, despertos. Eu quero falar. Eu quero falar. A praça ainda cheia de poesia e dessa energia transformadora de gente que descobriu a própria voz.
A revolução já está sendo...