Novidade no front dos viadões
Festa que deu empurrão para cena de drag queens no Rio expande seu reinado
Publicado em 02/2016
Já são dois anos e meio desde aquela noite de quinta-feira, quando uma festa voltada para o público gay e realizada em um verdadeiro bunker histórico da comunidade, se tornou marco na história recente da noite alternativa carioca. Nascia a V de Viadão, criada pelas mãos (e mente inquieta) do designer Edu Castelo. “Estava insatisfeito com a cena de festas LGBT no Rio, tanto quanto às músicas como quanto ao público”, relembra Edu, também DJ residente da V.
De agosto de 2013 para cá, muita coisa mudou. Inclusive a V: a festa foi abrigada em espaços maiores, nasceram filhotes pelas pistas da cidade, e, principalmente, surgiu um debate muito interessante envolvendo a representatividade drag na cena noturna carioca. “Inevitavelmente fizemos parte desta maior visibilidade da cultura drag no Rio. Mas não foi nada intencional”, confessa o produtor, que, hoje, pode espalhar por aí que sua vida se tornou um verdadeiro Éden. No bate-papo a seguir você conseguirá entender melhor do que estamos falando...
I HATE FLASH: Quando você teve a ideia da V, qual era sua intenção inicial?
EDU CASTELO: A primeira V aconteceu no dia 15 de Agosto de 2013. Ela começou com a minha insatisfação com a cena de festas LGBT no Rio, tanto de música quanto de público. Antes da V eu sentia que cada “sub grupo” gay frequentava um respectivo lugar e não se misturavam, o que é muito chato e empobrece a experiência das festas, na minha opinião. Mas, inicialmente, fiz a festa pensando em algo para mim e meus amigos curtirmos juntos.
IHF: Você acha que a V tem uma participação forte no crescimento de uma cena drag na noite alternativa?
EDU: Inevitavelmente fizemos parte dessa maior visibilidade da cultura drag no Rio. Mas não foi nada intencional. Sempre curti drags, desde os tempos em que morava em São Paulo e frequentava a Blue Space nos domingos. Acredito que criamos um espaço que permitiu o crescimento desse rolê, apoiando e oferecendo um palco para esses artistas, o que sempre foi muito positivo. As pessoas que dividem algumas ideias e gostos por drag puderam fazer parte disso e reconheceram a festa como destino.
IHF: Como você se sente vendo a sua festa sendo canal para um debate que transcende o mundo da noite, esbarrando em questões de representatividade?
EDU: Eu me sinto bem! Acho que é mais uma maneira de fazer política! Proporcionar um lugar de encontro das pessoas que se sentem rejeitadas, ou fora do lugar, é essencial. A intenção é somar e mesmo que em pequena escala gerar alguma discussão, contribuir com alguma coisa, sempre com bom humor. Uma das experiências mais legais foi fazer uma festa para financiar o Tem Local, por exemplo, que é um projeto de amigos que pretende mapear os casos de LGBTfobia no Brasil. Essas conexões só são possíveis porque a festa tem esse engajamento. Em termos de representatividade eu acho que o GGGG normativo já tem muita, queremos dar visibilidade para quem não se encaixa nesse molde.
IHF: Quais são os filhotes da V, outras festas e projetos que tiveram origem na festa?
EDU: Temos três filhas além da V! A filha mais velha é a Haus Of Viadão, que ficou em hiato em 2015, mas está de volta esse ano, e está sendo foda. Nessa festa basicamente celebramos os sons originários da música eletrônica: house, disco e techno. A última edição foi belíssima! Depois da Haus, surgiu a M de Melancolia (ex-D de Depressão, já que mudamos o nome para não ofender ninguém). A M se refere a um momento específico da V, que é o final da festa, tipo a última hora e meia, quando só toco hits românticos, melancólicos, slow jams, rockinhos e etc. As pessoas gostaram tanto que virou uma festa independente. Tenho feito de dois em dois meses, e é sempre ótima! A filha caçula, que só teve uma edição, é a Mi Amore, dedicada a sons latinos, clichês e afins. É como se fosse uma festa brega, só que debochadíssima. Toda a comunicação da festa é inspirada nas estampas de rycas, Versace, Hermés, essas coisas.
IHF: E quais filhotes estão para nascer?
EDU: Bom, meu último filhote é o Éden, casa nova que eu e mais duas sócias (a Cris Pinheiro, que faz a cenografia da V, e a Letícia Dantas, que fazia o Bar) administramos na Sacadura Cabral, na Zona Portuária do Rio. Definitivamente é outra história: além das nossas festas, levo para essa casa outros produtores com eventos bacanas. Já rolaram algumas festas incríveis lá. Mas estamos começando, ainda tem muita coisa por vir! Fora isso, esse ano quero consolidar a Haus, fazer mais Mi Amores, repaginar a V (vocês vão ver em março) e fazer edições dela fora do Rio. Tenho dedicado algum tempo a produzir alguns remixes, já que, na verdade, eu faço todas essas festas porque eu amo ser DJ.
Aos viadões de plantão, fica registrada a convocação: neste sábado, no Éden, tem a segunda edição em 2016 da Haus of Viadão. A partir das 23h, na Rua Sacadura Cabral, 109, Gamboa. Entrada gratuita até 1h. R$ 20, depois de 1h, mandando nomes para [email protected].