Nova Parada LGBT do RJ
12/10/2014 - Sem Meias Palavras
Publicado em 10/2014
Às vezes eu esqueço que moro no Rio. Saí de casa às pressas, arrisquei minha vida me tacando na frente do primeiro táxi que apareceu, andei quase metade do caminho a pé pra fugir do engarrafamento que tava absurdo: tudo para chegar na concentração da Nova Parada Gay às 14:30, meia hora depois do início programado, e ainda encontrar as pessoas se arrumando. Das vantagens de morar no Rio. Chora, pontualidade paulista
Quando fui me aproximando, suando bicas (não sei se do calor da ansiedade, do calor dos quilômetros que andei correndo pra chegar ali ou do calor dos boys que já tavam reluzentes com purpurina pelo corpo), não pude deixar de lembrar daqueles primeiros protestos lá de junho do ano passado - não sei, na verdade, a diferença técnica entre "protesto" e "parada", mas também isso meio que não importa, a sensação era que os dois estavam rolando ali. Um misto de insatisfação coletiva, vontade de gritar e certa felicidade por poder gritar: toda essa mistura me transportou de volta à Presidente Vargas de 2013. Só que com mais cores. E mais música. E gays. E com a praia, claro, que deixa tudo mais agradável - ou menos quente.
No meio dessa confusão homo-hormono-temporal, fui aos poucos tomando consciência da variedade da fauna LGBT presente naquele lugar. Tinha de tudo: viado, viadão, pintosa, urso, sapatão, vadia, puta, prostituta, preto, pobre, travesti, drag, transex, intersex, bissex, flex; ou como quisesse se chamar (ainda que esse lance de classificação seja tão demodê). Um lugar onde as possibilidades de ser quem você é eram tão plurais que nem mesmo o próprio plural da nossa língua seria capaz de alcançar.
Tão diversas quanto as sexualidades e gêneros presentes eram as bandeiras que esses corpos purpurinados levantavam. Um sem-número de cartazes coloridos postos para o alto, ao lado de caveiras cor-de-rosas com a cara de nomes como Levy Fidelix, Silas Malafaia e o filho pródigo Paulo Gustavo. Mesmo sendo uma reunião de "puta e de viado", a Parada tava longe de ser bagunça. Tinha agenda, e uma agenda clara, #SemMeiasPalavras. E faço questão de mostrá-la sempre que possível.
- Criação do casamento civil igualitário
- Criminalização da homofobia com penas socioeducativas para agressões verbais e atos discriminatórios, e agravamento da pena para crimes de lesão corporal e homicídio
- Distribuição de material educativo para a prevenção do HIV, da homofobia e da violência contra a mulher em todas as escolas do Brasil
- Criação de políticas públicas para a promoção de qualidade de vida para pessoas *trans, com aprovação da Lei João Nery
- Liberação imediata dos mamilos femininos
- Tributação fiscal de todas as instituições religiosas
- Plena igualdade e mais facilidade para casais hétero ou homossexuais no processo de adoção
A nossa parada é todo dia: contra o machismo, o racismo, a homofobia a e transfobia.