Nação Zumbi embala noite pernambucana no Circo Voador
Último show da turnê comemorativa pelos 20 anos de "Afrociberdelia" festejou artistas com o sotaque de Chico Science
Publicado em 05/2017
Noite de sexta-feira é oficialmente para curtir shows. E na última sexta (5), a Lapa, como sempre, estava lotada de gente de todos os gostos, origens e estilos. Dentro do Circo Voador, mesmo cenário. Nação Zumbi é coisa séria pra muita gente (inclusive pra nós) e aquela era noite de show de encerramento da turnê comemorativa pelos 20 anos do álbum “Afrociberdelia”, lançado em 1996.
A casa estava enchendo rápido, e o DJ Lencinho chamava a galera pra pista com músicas de China, Karina Buhr, Otto e companhia, já anunciando que aquela seria uma noite de ode à efervescência cultural de Pernambuco - e as dezenas de camisetas estampadas com a bandeira do estado que avistamos na plateia só confirmaram nossa suspeita.
Mas foi quando começou o show de Lira que os espacinhos na frente do palco realmente foram preenchidos. Sempre performático, o antigo vocalista do Cordel do Fogo Encantado cantou as músicas da carreira solo, clássicos do Cordel que a plateia conhecia bem e declamou, fervorosamente, algumas poesias. Não foi um show longo - e o público estava aflito pra ouvir Nação.
Àquela altura, o Circo já estava lotado, nem o lugarzinho-quase-secreto na lateral da lona era mais tão secreto assim, e chegar perto do palco foi uma tarefa árdua. Luzes apagadas, banda no palco, e o setlist seguiu a ordem do disco, começando com "Mateus enter", seguida por "Cidadão do mundo", "Etnia" e assim em diante. Os hits do álbum, "Macô", "Manguetown" e "Maracatu atômico", foram acompanhados por uma rodinha de pogo espremida ali no meio da tenda, mas com tanta empolgação que o vocalista, Jorge du Peixe, disse ter se sentido no carnaval de Olinda.
A participação especialíssima do cantor e compositor Siba foi de uma delicadeza que atravessava os graves intensos e as luzes perfurantes daquele show tão envolvente. Era um sorriso leve num momento de intensidade. Quase um transe de alfaias, baixos marcante e solos carismáticos de guitarra, com toda aquela cara dos anos 90.
Acabou o show e todo mundo queria mais. E teve. Rolou música do disco mais recente, de 2014, que leva o nome da banda, teve mais Siba e mais rodinha em "Quando a maré encher", faixa do álbum Rádio S.Amb.A”, de 2000, lançado já com Du Peixe à frente da banda.
Muita gente ali, eu inclusive, não tem idade pra ter visto o Chico Science ao vivo, ou, pelo menos, lembrar de tê-lo visto, mas não há quem negue o que há de presença dele naquele show. A homenagem é muito forte na lembrança viva, especialmente na celebração de décadas de um legado marcante como o do Nação.