Mestres da rima, profissionais do rap
Batalha do Real completa 13 anos com maior estrutura já vista no evento
Publicado em 09/2016
Em 13 anos de história, nomes como Emicida, Marechal e Maomé (da Cone Crew Diretoria) emergiram de lá. Seu começo despretensioso, em uma sinuca na Lapa, jamais poderia projetar na cabeça dos organizadores o presente consolidado e o futuro promissor que a Batalha do Real representa para a cena do rap e hip hop. No entanto, neste tempo de trajetória, pouca coisa mudou no perfil dos participantes do evento, que teve mais uma etapa realizada neste 13 de setembro, na Lona Cultural Jacó do Bandolim, em Jacarepaguá. A primeira batalha tomou o palco do Imperator, no Méier, em 31 de agosto. E ainda haverá disputas na Arena Carioca Fernando Torres, em Madureira, no dia 2 de outubro, na Arena Carioca Dicró, na Penha, dia 30 de outubro, até chegar a grande final, no dia 20 de novembro, nos Arcos da Lapa. É só chegar.
“O perfil é sempre o mesmo: jovem, quase sempre da periferia, ambicioso e sonhador. O que muda hoje é que a indústria do hip hop está mais forte e descentralizada. Talvez, hoje, os MCs tenham um perfil mais empreendedor”, diz Aori Sauthon, um dos fundadores da Batalha, que hoje conta com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, por meio de edital. “O fomento da secretaria foi fundamental para podermos criar algo de alto nível, investir em profissionalismo e criar um palco assinado por três artistas urbanos que elevou o nosso evento a outro patamar”, analisa Aori.
Em um papo com I Hate Flash, ele ainda comenta sobre a presença das mulheres entre os inscritos, as bases exclusivas que vêm sendo usadas nas etapas do concurso e sobre o futuro da Batalha. Confere aí!
I Hate Flash: Nesses 13 anos de Batalha do Real, vários nomes que surgiram no concurso foram catapultados ao estrelato. Lá no começo, era certa na cabeça de vocês essa longevidade do projeto?
Aori Sauthon: Nunca imaginamos chegar tão longe. Começou tudo de uma forma tão espontânea! Eu e o Marechal fomos para a Sinuca da Lapa, cada MC jogava R$ 1 como inscrição, e quem ganhava levava aquela grana, que não passava de R$ 20. Mas, depois da quarta semana, a gente viu que a cena era muito maior do que imaginávamos e que estava carente de eventos próprios, feitos por quem é realmente do rap. E, na medida em que a ideia foi se espalhando, o maior objetivo virou preservar a autenticidade do que criamos. A Batalha removeu a barreira entre o público e o palco. E o público tem um papel primordial. É ele quem decide quem é o melhor. Nosso público participa muito e dá um espetáculo à parte.
O que mudou no perfil dos participantes? Há como diferenciar o MC que disputava lá em 2003 do que disputa em 2016?
Aori: O perfil é sempre o mesmo: jovem, quase sempre da periferia, ambicioso e sonhador. O que muda hoje é que a indústria do hip hop está mais forte e descentralizada. Talvez, hoje, os MCs tenham um perfil mais empreendedor. Todo mundo tem seus clipes, mixtapes, canais de YouTube, produz suas camisetas... A cena se retroalimenta. A grana tem que circular entre nós. Por isso tomamos a decisão de, após iniciarmos a era de eventos abertos na rua, aqui no Rio, voltar a ocupar grandes teatros: fazer a galerinha entender que os dez contos da bilheteria pagam o prêmio do vencedor, os DJs, o cenário.
Qual o fomento prático de um edital da Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro? É o primeiro ano de Batalha com esse apoio?
Aori: A Secretaria nos deu acesso aos aparelhos públicos e recursos financeiros. Isso foi fundamental para criarmos algo de alto nível, investirmos em profissionalismo e criarmos um palco assinado por três artistas urbanos que elevou o nosso evento a outro patamar. Chegamos a um nível de produção nunca antes visto na Batalha do Real. Essa é a principal mensagem que a gente quer passar nessa temporada: profissionalismo e dedicação vão trazer frutos para toda a cena.
As batalhas estão sendo feitas em cima de bases criadas exclusivamente para esta edição. Isso, digamos, traz mais “sofisticação” às batalhas? Faz com que o evento sirva não somente como trampolim para os MCs como também para os produtores?
Aori: Nossa proposta é promover a cena como um todo: designers, fotógrafos, equipe de produção, todos são jovens do Rio e engajados com a cena. As batidas realmente fizeram a diferença no espetáculo, e algumas já viraram hits entre os MCs. Cada um dos beatmakers escolhidos tem uma importância-chave para a cena carioca e brasileira.
São quatro MCs mulheres entre 16 participantes. Vocês consideram o número ainda baixo? A força da mulher dentro da cena do hip hop cresceu de forma considerável nestes 13 anos?
Aori: O número ainda é pequeno. Esperamos que, na próxima Batalha, tenhamos um número igualitário. A mulher hoje manda no hip hop , vide o sucesso de Karol Conka, Flora Matos e MC Carol. E ainda temos estrelas como Deize Tigrona. Todo o poder às mulheres! É importante ressaltar que a Batalha do Real não tolera qualquer tipo de preconceito e homofobia. Isso é dito em todas as batalhas, está nas nossas regras, e é algo sagrado para nós. As quatro MCs que estão com a gente têm um brilho especial e um estilão.
Visivelmente, a Batalha do Real cresceu, se estruturou e parece ser uma ambição constante este aprimoramento do projeto. Quais os próximos passos?
Aori: Continuar o processo de elevação da cena como um todo! Continuar sendo referência e inspiração para todos. A gente quer formar uma equipe maior e mais forte. Fazer a nossa marca soar em todos os cantos , não só no YouTube, mas na rua também, onde a gente começou. Na Brutal Crew (organizadora da Batalha do Real) temos esse DNA do hip hop do Rio bem forte, e é obrigação passar isso adiante. A gente estava presente quando esse mercado foi criado e sabe que a missão não é correr atrás, e sim ir na frente! Afinal, nossa história com a Batalha do Real vem justamente de um punhado de jovens num bairro pobre que se organizou em torno de uma ideia. Essa ideia germinou e se espalhou por todo o país! Respeitamos muito essa energia.