JOÃO PIMENTA: SOU DE ALGODÃO
A Inspiração do estilista na fazenda de algodão.
Publicado em 11/2018
Esse ano fui convidado pela ÀMdC para acompanhar a visita do estilista João Pimenta a uma fazenda de algodão em Goiás, de onde ele tiraria inspiração para criação de sua nova coleção feminina que foi lançada na #SPFWN46 que acabou de acontecer. A convite da Sou de Algodão, João esteve na fazenda para conhecer a lavoura de algodão e acompanhar todo o processo do material que seria base da sua coleção.
Foi muito inspirador ver um estilista da importância do João Pimenta entrando em contato com todo o processo de produção do algodão e retirar dessa visita grande parte da sua inspiração para criação da sua coleção. Para o material desenvolvido para o SPFW, foi preciso entender mais do significado dessa visita para ele e como isso refletiu na sua criação.
Conversamos com ele para entender mais do significado dessa visita para ele e como isso refletiu na sua criação.
Como foi a sua experiência de visitar uma fazenda de algodão?
Foi muito incrível porque foi a primeira vez que eu estive em uma plantação de algodão, já tinha visto imagens, já imaginava a energia que tinha aquilo, mas foi muito contagiante. Eu gostei muito de ver a plantação, de ver a forma com que a colheita é feita. Essa coisa da terra é muito incrível, você ver esse poder que a terra tem, de trazer pra gente uma fibra que vai virar um tecido, uma plantação daquele tamanho… foi muito bacana, curti muito ter ido lá.
Você acha que é uma preocupação do designer de moda, pensar em sustentabilidade, na origem do seu produto?
Poxa eu acho que todo designer de moda tem que saber a origem da fibra que está trabalhando. A gente tem que ficar muito atento com tudo que a gente tá movimentando, né? A linguagem que você faz com o trabalho, a forma com que você faz o trabalho, que você lida com as pessoas que colaboram com você, que você escolhe a matéria prima, o que você quer contar com a sua criação… eu acho que a gente da moda, fora desenvolver um produto, também consegue fazer uma comunicação, existe uma linguagem muito forte na moda, então aproveitar disso tudo eu acho que é o ideal! A gente tem muitas fontes, saber usar essas fontes realmente é uma coisa que pode alavancar o trabalho do estilista.
A sustentabilidade já é uma preocupação recorrente sua?
A sustentabilidade é uma grande preocupação minha desde o começo do meu trabalho. A forma como eu faço a minha roupa e o tamanho que eu escolhi para a minha marca estão muito ligados a questão da sustentabilidade. Eu nunca quis ter uma marca que produzisse em quantidade, que fizesse da mesma peça um milhão de peças, e a forma também de fazer. Eu gosto muito de trabalhar dessa forma pequena, de estar junto o tempo todo, de conhecer as pessoas que estão fazendo o meu produto, de saber como elas vivem, quais são os desejos delas, a forma com que eu envolvo as pessoas que me ajudam a produzir a roupa, a importância que elas têm dentro do trabalho... tudo isso eu somo na questão de ser sustentável. A gente tem uma preocupação muito grande em não ter descarte, essa coleção inclusive que a gente fez agora com o algodão foi uma coleção toda pensada em recortes para ter um aproveitamento de 100% do tecido na mesa.
O que a gente pode esperar da sua passarela com o resumo de toda essa experiência?
Vai um desejo muito grande de que as mulheres entendam essa fibra do algodão, que elas consigam abrir espaço no guarda roupa delas para o algodão. A gente sabe que as mulheres querem muita praticidade e o algodão não tá muito focado dentro desse universo da moda feminina porque ele amassa… só que é uma fibra muito incrível, muito maravilhosa, muito boa de trabalhar, ela absorve muito bem suor… eu quero muito que as pessoas tenham desejo pela roupa para entender que essa roupa é feita de algodão e tentar fazer com que as mulheres sintam que o algodão é uma fibra interessante.
E como foi a inspiração em visitar uma fazendo de algodão, acompanhar esse processo, acompanhar o bordado.. como isso te inspirou para criar essas peças?
A minha inspiração nesse trabalho ficou muito focada nessa coisa da terra. Desde a visita a plantação a essa coisa do natural… então eu comecei a buscar essa personagem, de onde eu tiraria essa personagem, essa mulher… e aí eu encontrei na índia, numa índia brasileira. Eu desenvolvi alguns tecidos na amazônia, levei esse algodão pra lá e a gente trabalhou a questão do látex com índios seringueiros, então eu pensei muito nessa mulher que tem muito o pé na terra, mas que é uma mulher contemporânea, não é uma índia da mata, é uma mulher da cidade. Eu quis muito transportar essa coisa da terra, da natureza, de uma fibra natural… não usei zíper, não usei botões… usei meus alinhamentos todos de algodão… foi a primeira vez onde foquei totalmente numa coleção que só trabalho com uma fibra, então isso eu acho que veio mesmo de ter conhecido o projeto do algodão.
Você falou sobre comunicar. Tem algo mais que o seu produto comunique nesse desfile que aconteceu?
Eu to tentando fazer um olhar com uma brasilidade mesmo, por exemplo, nós somos um país com 50% de negros, então eu tenho no meu casting a maioria de negros, eu to tentando trabalhar isso dentro da coleção de uma forma que as coisas sejam verdadeiras, que faça um trabalho muito focado com a realidade. Foquei cores e shapes que vão ficar bacana com essa cor de pele, então tem esse desejo de não ter uma cara gringa. quero muito que seja uma coleção com olhar de brasilidade.
Veja o vídeo acompanhando a visita do João e sinta um pouco dessa experiência, tanto para o estilista conhecendo a plantação como para nós fazendo o registro desse momento de inspiração.
Créditos:
Fotos e Vídeo: Leonardo Guimarães
Idealização e Direção: Bia Vianna