I Hate People: Silva
Entre o Quarto e o Mar
Publicado em 05/2015
O jeito calmo, a voz mansa e o timbre tranquilo são pistas que facilitam o trabalho de investigação: Silva é um cara meio preguiçoso. Traço, aliás, que não foge sequer de seu processo criativo. “Preciso me forçar, senão faço um disco a cada 10 anos”, confessa o cantor capixaba durante o nosso papo.
E além do estímulo próprio, Silva precisa de conforto para dar vida às suas obras. “Gosto de criar em casa, sem me preocupar com o feijão no dente. Assim, posso produzir o quanto quiser e escovar os dentes depois”, metaforiza o rapaz, de formação musical clássica, mas sem se deixar prender a raízes. “Cansei de música branca, quadradinha, construída em cima de harmonia”, desabafa. “Tenho conseguido, recentemente, misturar elementos que eu sempre amei, como música negra, com itens de minha formação tocando em orquestra”, comenta, dando o exemplo de “A visita”, sua primeira canção de maior alcance, com arranjo moldado em violinos. “Não é que eu não goste da música, mas ela não representa mais o momento que vivo, apenas isso”, argumenta.
Aliás, sobre momentos diferentes na carreira, Silva consegue traçar facilmente a distinção entre “Claridão” (2012) e “Vista pro mar”. “O primeiro foi feito num quarto, é mais intimista e angustiante. Já ‘Vista pro mar’ é leve.. o nome surgiu quando eu passava uma temporada em Miami Beach, num hotel barato, relaxando”, relembra.
Mas entre o quarto e o mar, há um mecanismo pouco comentado publicamente sobre o processo criativo de Silva. “Faço terapia há pouco mais de dois anos. Venho de um ambiente protestante, além da minha já citada origem musical clássica. Tudo muito sério. Mas sempre gostei de outras vertentes”, conta Silva, batendo forte na tecla da fuga do lugar comum.
“Gosto de me inventar, sair da zona de conforto. Recentemente tenho tido mais coragem de misturar pontos do ambiente em que cresci com outros que eu sempre curti, como hip hop, músicas com muito groove”, aponta Silva, ainda em busca de uma fórmula ideal para tal mistura. “Só sei que não gosto de projetar meu tédio nas pessoas".
Quanto a isso, meu camarada, pode ficar tranquilo. Seu sucesso é prova de que seu som desperta em todos nós tudo que é tipo de sensação, menos tédio.