I Hate People: Primo Factory
Muito além de uma marca de skates
Publicado em 05/2015
Um sogro marceneiro, uma mania intensa de não jogar as coisas fora e um trabalho final de curso: esta trinca inusitada pode ser apontada como gênese da Primo Factory, marca de Niterói especializada em shapes de skate com madeira reaproveitada, mas cujas manobras criativas vão muito além, de acordo com “o que der na telha”, segundo o lema da própria empresa.
“Na primeira vez que viajei ao exterior, voltei com 29kg de papel na mala. Todo papel que eu pegava, guardava”, argumenta Mario Lewicki, um dos fundadores da Primo, justificando o transtorno obsessivo por reciclagem que se tornou fundamento básico da marca. Um traço logístico que brotou quando Mario e o amigo Yuri Salles decidiram utilizar peças de madeira dispensadas da oficina de marcenaria de Luis, sogro de Mario, para construir o projeto final do curso de confecção de skates que os dois faziam.
Tal projeto acabou se tornando o pontapé oficial para o início de uma trajetória expressa de sucesso, nascendo ali a Primo Manufatura. Com a chegada de Roger Caldeira (ex-designer de estampas da Cantão e ex-proprietário da marca Brow, especializada em bonés e vestuário para skatistas), terceiro vértice do negócio, surgiu, em abril de 2013, a Primo Factory, “muito mais que uma marca de skates” (outro lema adotado pelos rapazes). “Com o know-how do Roger, pudemos abrir o leque, criar outros produtos que dialoguem com o lifestyle que miramos, da galera do skate”, comenta Mario.
Por falar em lema, um dos mais fortes preconizados pela Primo diz respeito à tentativa quase integral de reutilizar peças de madeira, em vez de comprar material para seus projetos. “A busca pela não-terceirização é um ponto forte”, ressalta Roger, enquanto Mario faz questão de relembrar que a Primo funciona em uma fábrica artesanal. “Se hoje a gente está fazendo skate, é porque queremos isso. Amanhã a gente pode fazer uma vitrola”, brinca o rapaz. Bem, enquanto não faz vitrola, a Primo já tem em sua vitrine virtual produtos como abridores de garrafa, uma mesa em formato de prancha de surfe, handplanes e, claro, skates.
Mario, Yuri e Roger, há aproximadamente um ano, se dedicam exclusivamente à Primo e fazem questão de defender o caráter autoral da marca. “Você quer andar de skate? Você não precisa aprender a bater ollie. A gente vai ter um skate pra você dar rolê. E um skate que vai te gerar vontade de andar de skate”, explica Mario, lembrando que, certa vez, ao receber a encomenda de 30 shapes para um curtíssimo período de tempo, respondeu ao cliente que conseguiria entregar apenas 10, e num período de 45 dias. “Fazemos o produto da forma mais cara, artesanal, em um oficina, o que demanda mais tempo e testes. Você não vê esse comportamento por aí, inclusive em grandes marcas, que criam tutoriais e criam skates da forma mais simples”, dispara Roger.
E nessa oficina efervescente do lado de lá da ponte, entre novas ideias que vão surgindo aos poucos, emolduradas por toneladas de madeira de segunda mão, nascem novos produtos da Primo. Lucro? Que nada. A palavra que funciona como carro-chefe no horizonte dos meninos é outra: apego. “Que nosso cliente, ao comprar um skate, não compre um skate. Compre uma peça da Primo”, profetiza Mario. Que assim seja.