FAU da Gratidão #1ANO
O festival que abraçou os corações cariocas em 2018 e que ainda vai dar muito o que falar.
Publicado em 01/2019
O Festival de Ativação Urbana - FAU, completou sua décima primeira edição no dia 29 de dezembro de 2018, realizando o FAU da Gratidão, edição de 1 ano, abarrotando o Passeio Público Ernesto Nazareth, também conhecido como o NAU - Núcleo de Ativação Urbana. Em uma edição que contou com 3 palcos (Bass, Eletrônico e Conceito), mais de 10 coletivos, pra lá de 50 DJ’s e uma produção impecável, o festival fechou 2018 mostrando ao que veio: movimentar e impulsionar o cenário cultural carioca - principalmente os segmentos da música eletrônica - promovendo muita oportunidade, acessibilidade, diversidade, inclusão e respeito.
Essas 5 palavras sem dúvidas descrevem o FAU e o colocam em um patamar de destaque enquanto evento na cidade do Rio de Janeiro. E nós, do I Hate Flash, não poderíamos ficar de fora dessa. Fomos até lá pra fazer a cobertura da noite, buscando compreender qual era a percepção de quem movimentava e fazia acontecer o festival: desde os idealizadores, Hiroshi Shibuya, Daniel Kraichete e André Silvestre "Choco", passando pelos diversos coletivos e DJ’s que botaram abaixo as 3 pistas, os produtores que tão no corre, até a galera que frequenta.
“FAU é um estudo, de observar tudo que acontece na rua, desde o mainstream ao underground. Entender o que funciona e o que não funciona, o que precisa de força e velocidade para decolar. A gente sempre teve o entendimento de que existe muita coisa boa acontecendo na cidade, mas faltava força de alguém que potencializasse esses coletivos, esses projetos, curadores e artistas”. Para Hiroshi, é sobre amor ao que se faz; enquanto idealizador do festival e produtor cultural, ele aponta que se faz necessário estudar o cenário cultural da cidade e valorizar o que se deve ser valorizado, o que é feito com amor, com dom, com humanidade e, realizar um trabalho de base mesmo, acompanhar esses artistas e trazer pra superfície, fazer com que sejam notados: é a fórmula perfeita. “O FAU é sobre valor x propósito. Usei minha bagagem no mercado, minha relação com patrocinadores para fazer acontecer e ativar urbanamente os projetos da cidade. Ao mesmo tempo manter valores acessíveis e com uma entrega de qualidade, de forma colaborativa. É possível. Tomamos muita porrada em 1 ano, mas com muito amor e resiliência estamos aqui. 2019 vai ser muito melhor”. Choco, a outra mente criadora do festival, complementa dizendo que o FAU é sobre representatividade: “As pessoas precisam se ver representadas nos ambientes que circulam e no FAU não é diferente. O evento visa dar oportunidade pra todo mundo e se manter com uma proposta que não seja sexista, racista, homofóbica, gordofóbica e/ou de qualquer outra forma de discriminação, tem que ser inclusivo e natural”.
No palco Bass, falamos com Rodrigo S e Fabio Heinz, criadores da festa Wobble - que nessa edição de 1 ano foi convidada a se juntar nesse palco -, DJ’s, produtores culturais e impulsionadores da noite. Rodrigo S é curador da pista Bass (que ele prefere chamar de pista de sons periféricos), que vai do garage ao grime, passando pelo dubstep e o trap, até o funk.
Para ele é um desafio: “Realizar um evento gratuito em uma cidade como o Rio de Janeiro, na rua, é complicado. O custo é alto, tem diversas questões de liberação de lugar, mas acaba sendo muito gratificante e recompensante”. Ele tem seus sets preferidos nesses 6 meses, como o do Marginal Men de manhã na penúltima edição e o do Omulu na última. A possibilidade de conhecer novas sonoridades, dar oportunidade e se surpreender positivamente é o que movimenta e deve movimentar a cena; nomes como Rodrigo Sena, Glau Tavares e Evehive tão na lista do curador de trabalhos excepcionais que o FAU, de uma maneira ou de outra, ajudou a impulsionar. “Nesses seis meses eu tentei fazer uma curadoria das pessoas que tem uma certa relevância ou que tão fazendo um trampo bacana”.
Já para Fabio, a palavra é acessibilidade, por ser um evento em uma região central da cidade, que une os mais diversos nichos de pessoas e de sons: “Por ser um evento de graça, todo mundo pode colar, tem três palcos, curtir vários sons diferentes, é uma iniciativa muito legal. Você pode colar cedo, tarde e até cedo do outro dia que vai tá rolando alguma coisa que você vai se identificar.”
Na pista conceito, que reuniu grandes nomes nacionais e internacionais do eletrônico (house, disco, techno, etc), fomos atrás do Alex Pasternak (USA), Yann Lefrit, do Psycho Tropiques (FRA), Rodrigo Tata (Manga Rosa) e Felipe Fella (Base), artistas de extrema relevância pra cena, seja aqui ou seja fora.
Foi muito interessante entrevistar o Alex e o Yann, porque ambos compartilharam que em seus países/estados de residência eventos gratuitos e na rua são raridades; existe uma série de embarreiramentos seja da prefeitura, do governo até mesmo uma cultura muito pouco difundida e explorada que dificultam essa prática. Mas na perspectiva do francês, isso está mudando: “Eu realizo um trabalho na França de promover eventos na mesma pegada da FAU, gratuitos, em espaços fora do eixo turístico da cidade, valorizando e trazendo novas visões sobre o mundo, a cidade e a cultura, principalmente nas periferias”. ´Para Yann, é primordial que a cultura da festa de rua que o FAU mobiliza se perpetue, misturando diversas tribos em um mesmo lugar, promovendo respeito, inclusão e trazendo outras pessoas que possam agregar ao cenário da música eletrônica e, a qualquer cenário de uma maneira geral; ele conclui dizendo: “É sobre ser um festival que valoriza a música eletrônica e é acessível, ativando o espaço o urbano culturalmente”
. O norte-americano Alex, compartilha, indo no mesmo sentido, de que nos EUA a cena eletrônica gratuita e democrática só é mais forte em San Francisco. Para ele, que também é produtor de discos, ativista e tem um projeto chamado “Saidera” com um artista brasileiro da favela da Mangueira, mesclando música eletrônica com samba, realizações como o FAU são políticas também e esse deve ser o caminho a ser seguido, fomentar cada vez mais esse tipo de ação, para que as festas se tornem cada vez mais humanas.
Os DJ’s Felipe Fella e Rodrigo Tata arrematam acrescentando que a sintonia do público com os DJ’s no FAU é única e inexplicável; “A galera consegue entender exatamente o que você tá querendo passar com seu som, diferente de eventos com caráter mais comercial, que a relação é menos orgânica” isso só pode ser resultado da preocupação e engajamento que o público tem por ser um evento que oferece um serviço excelente.
A terceira pista, mais voltada pro House e Trance, também tinha um line de renome, com figuras como Roger Lyra do Ultra Music Festival e Mortagua, da Timeless Moment.
Para Roger, “Não ter a barreira do ingresso traz uma vibe completamente diferente, democratiza, agrega, traz novas visões; o público se torna mais aberto a apreciar musicalmente a música eletrônica”. Lyra compreende que a música eletrônica ganhou um lado muito mais popular de uns anos pra cá, tendo grande alcance midiático, através dos clipes e das rádios, mas do que consistem esses artistas? De onde eles buscam inspiração? Para o DJ, o FAU é o grande centro de reunião dessas inspirações e motivações, é ali onde tudo começa, e é por isso que deve ser tão valorizado; é como se para se obter uma relevância, para se ter seu trabalho reconhecido, é necessário potencializar esses artistas, que é o maior objetivo do festival. “O FAU pode proporcionar uma experiência sem filtro”. Por sua vez, Morttagua, que é também produtor musical e dono do selo Timeless Moment, o FAU é uma grande porta de entrada pros DJ’s tocarem um “som de verdade”, conceitual, da maneira que seja, tirando a obrigatoriedade de um som comercial: “traz a verdadeira cultura eletrônica”, para o produtor, que é carioca, já rodou Brasil e mundo afora “Não tem preço tocar em casa, ainda mais em uma estrutura como essa, a nível de festival internacional”.
E o que seria desse festival sem esse público fiel e maravilhoso? Nos embrenhamos no meio da galera pra trocar uma idéia com quem também faz acontecer o festival. Achamos dois gringos, Matthew e June, do Canadá que aterrissaram nas terras do FAU pela primeira vez. Eles falaram um pouco sobre a experiência de estar ali: “É muito inspirador ver tanta gente diferente reunida no mesmo lugar. O festival exala diversidade e isso é o que importa. Lá no Canadá tem eventos de graça na rua mas não nessa proporção, meus parabéns pra quem tá organizando, vou indicar pra qualquer pessoa que venha pro Rio e nós sem dúvidas vamos voltar”.
Já Gabi, estudante de São Paulo que mora no Rio há 5 anos e frequenta o FAU desde sua primeira edição, diz que sempre vem sozinha e se encontra: “Venho em todas os FAUs e nunca combinei com ninguém, sei que vou encontrar minha galera, um dia pode ser uma, no outro outra, mas sozinha sei que nunca vou ficar. É nítido o esforço do festival em proporcionar qualidade, isso que traz cada vez mais público entrada 0800, bebida acessível e música eletrônica boa. Acho que é sobre isso, música eletrônica nos seus primórdios: ser de rua, ser do povo, da periferia, democrático.”
Por fim, não podíamos deixar de falar com quem tá no corre, dando o sangue pro evento acontecer sem aresta nenhuma sobrando: a produção; do FAU e de outros eventos que movimentam o Rio de Janeiro que fazem ser o que é. Falamos com o pessoal da Puff Puff Bass, o Vinicus Torres, a Marta Oliveira e o Totonete. Para o Totonete: “O Fau existir e se manter acontecendo é uma parada surreal na cidade que a gente vive; qualidade de som, de imagem. A gente teve um boom desses eventos de rua em 2015, mas por diversos fatores como a mudança da prefeitura, etc, acabou se perdendo um pouco. Mas é um corre de produção infinito, temos também que perceber mais o corre pra realizar um evento nessa proporção, a quantidade de funcionários, tudo que é mobilizado e tal. Pra mim é e sempre vai ser sobre resistência.” Vini e Marta continuam, dizendo que: “estar em um lugar acessível não necessariamente reúne a diversidade, mas a FAU consegue agregar isso muito bem; que em 2019 os votos sejam de mais prosperidade ao evento, pra que as pessoas possam se expressar cada vez mais, se encontrar, existir e resistir em segurança, pois será necessário”.
Em 2019 não vai deixar a desejar em nada ao que a FAU foi em 2018, vai ser muito maior. Junião, um dos produtores do evento, revelou pra gente que os planos pra esse ano são muitos: revitalizar a zona portuária, abrir oficinas de arte, dança, música, grafiti, dança, colocando as mais diversas potencialidades que temos na cidade pra acontecer, dando oportunidade e visibilidade, porque talento não falta; além disso, o FAU pretende se expandir a nível nacional: Belo Horizonte, São Paulo e Porto Alegre tão no radar. Vamo que vamo, dando mais apoio e fomento à esse festival que nos proporcionou tantos momentos, tantos encontros, tantas possibilidades nesse ano, nos fortalecendo e seguindo juntos nesse 2019 que mal começou mas tem muito pra rolar ainda.
Abaixo algumas fotos do que rolou durante a noite do festival