Fahrenheit BXD
O bonde da Mormaço conta sua trajetória e o que vem pela frente
Publicado em 07/2018
Quando cês pensam em Mormaço, vem o que na mente? Eu só consigo pensar num clima que me faça querer ficar com menos roupa possível e se pá, curtir uma piscina ou uma praia. Mas né, nem tudo são flores, e morando em São Gonçalo na Baixada, você sabe como é, pelo menos 2 horinhas, com trânsito favorável, pra poder chegar no mar, caso não tenha aquele fechamento que salve a piscina.
Mas, como pra toda treta na métropole, sempre surge uma solução, Diego Bion, Tatch Pereira e Jon Thomaz vêm tocando há quase 2 anos a Mormaço, principal rolé de Nova Iguaçu que conta com um cardápio recheado de qualidade musical, cenográfica, intervenções, performances e obviamente, como eles mesmos dizem, uma dose rebolativa de sarrada saudável e suor refrescante.
O papo rolou num pico escondido no centro de Nova Iguaçu, uma praça abraçada pelo matagal de um dos diversos montes que cercam a cidade. No caminho pra lá, eles me contaram como o público ainda estava falando do DJ set da Mormaço que rolou no aniversário de 12 anos e 200 edições do Cineclube Buraco do Getúlio - projeto também criado por Bion junto a outros parceiros - que havia acontecido no Sábado anterior.
Iniciamos falando do conceito da festa, considerando todo o contexto de grandes demandas ligadas à música, a necessidade de ir a capital pra curtir e dançar, pela baixa diversidade dentro do mundo da Música Popular Brasileira e o déficit de espaços para realizar os rolés, englobando ritmos e sotaques diferentes.
“Mormaço era um nome que existia na cabeça pra um outro projeto, que acabou não acontecendo, mas o nome ficou e começamos a trocar muita ideia pra desenvolver a identidade visual que desse conta do conceito da festa, já que não queríamos ir para o que hoje tem sido mais difundido por aqui, que é o Rap. Optamos por uma pluralidade de ritmos brasileiros, como o Carimbó, Forró, Mangue Beat, e claro o Funk.”, Bion conta.
Complementando, Tatch explicou que a identidade visual foi o definidor da vibe que eles queriam pra festa, principalmente por ela estar estreando no Verão.
“Com a continuação da festa, entendemos o público; houve uma Parada LGBT na Via Light - principal avenida da cidade, que passa pela Praça dos Direitos Humanos, onde aquela edição aconteceu - que foi o ponto-chave, pois abraçamos uma galera mais diversa e por estarmos em contato com a produção da Parada, pudemos casar bem os dois eventos, o que proporcionou a gente entender que a festa é um espaço pra galera ser livre ali.
Não há outra opção que ofereça o mesmo tipo de som atualmente, tanto na rua quanto nos espaços fechados que fizemos. Então é a melhor forma de ser suporte pro público e receber apoio dele mesmo.”
A Mormaço não é uma festa pela festa, o que se percebe com a forma como a produção trabalha pelas redes e durante o próprio evento, como em um caso recente de uma das edições de rua, onde um cara passou a mão na bunda da namorada de uma mina. Deram o mic para a namorada poder dizer o que houve e a acompanharam até onde o vacilão estava, deram um papo reto nele e o retiraram do local sob exclamações de “não é não” da galera, puxadas por Bion na mesa de som.
Não só a segurança, mas todo ecossistema da Mormaço é pensado para ser receptivo e acolhedor. “A Música Brasileira está cheia de representações que falam e se posicionam dos mais diversos grupos, precisamos ser da mesma forma, não só nos sets, mas em tudo que criamos pra experiência rolar. Isso que motiva a gente”, contam.
Criar pontes é um desses motivos, Qinho, Beach Combers e Biltre já passaram pela Mormaço, Ana Frango Elétrico, Letrux e Mahmundi estão na mira para o segundo semestre; eles deram o papo que querem trabalhar cada vez mais a lógica de “furar as bolhas”, ampliar o circuito de música independente que corre por fora do que está posto, provocando uma circulação dos artistas pra fora da capital e conectar com o que há de local.
“Queremos trabalhar com uma galera que está disposta em transcender o eixo Centro-Zona Sul e com os da nossa área, como a Baphos Periféricos, Eclética e a Guetto, que compreendem que é importante circular com o próprio trabalho para que a experiência com suas músicas seja mais orgânica. Bancar uma estrutura de show é mais puxado, todo um backline, mas é algo que temos buscado fazer a partir das edições com bilheteria. Conectar essas galeras provoca outras possibilidades de colaboração e criação.
Por conta da baixa diversidade musical nas opções de diversão, parte do público vem descobrindo toda uma cena a partir da festa, com isso, eles sacaram que formar o público musicalmente e estimular a pesquisa é outro investimento necessário. “Toda edição recebemos mensagens perguntando de músicas dos sets, uma recente foi uma menina que perguntou de “Jamburana” da Dona Onete. Pegamos essa missão de apresentar outras cenas e ramificações musicais, atravessando sons de todas as regiões do país. A Mormaço nasceu e desde então tem muita gente animada para que role mais vezes, consideramos que é um reflexo da falta de um ambiente assim, mesmo fugindo do hegemônico”, dizem.
Em relação ao ambiente, eles procuram ser ao máximo código aberto, entendendo que para que o circuito funcione, contatos e acessos a meios e produtos devem ser de todos para todos, o que é um puta desafio, mas tem se provado sustentável. É aquela parada, podemos agir pelo paradigma da escassez ou o paradigma da abundância.
Escolha o seu, faz o corre e procura colar na próxima Mormaço que vai rolar em Agosto.