Sinta-se bem com Boogie Naipe
Como foi o show de lançamento do novo disco de Mano Brown pelos olhos de uma fã inveterada
Publicado em 05/2017
Quem conhece e acompanha a carreira do Racionais MC's, grupo do qual Brown faz parte, seguramente carrega na mente a imagem de um Mano Brown sisudo, cenho sempre franzido, com uma postura firme e certeira, tanto nos palcos quanto nas entrevistas ou outras aparições públicas. Já o público entusiasmado que lotou o Circo Voador no último sábado, para o primeiro show do Boogie Naipe no Rio de Janeiro, encontrou um Brown surpreendentemente sorridente, brincalhão e relaxado. Sabe quando você vê a alegria nos olhos de alguém que está realizando um sonho? Então, foi o que vimos acontecer no coração da Lapa.
Também, não era pra menos: o vocalista do Racionais entrou no palco junto de um time pesadíssimo de 14 músicos, que compunham uma banda cheia de swing repleta de elementos do funk estadunidense, da disco e soul music dos anos 70 e 80, quatro dançarinos do grupo Funkeados e contou ainda com participações ilustres de Ed Motta, Hyldon e Fernando Vidal. Seguindo na contramão da cena nacional e internacional do rap, Brown faz um resgate a black music e olha para o passado mirando no futuro. Lino Krizz, que canta todas as músicas com Brown, dá um espetáculo à parte e o ajuda a conduzir o show com maestria.
Apesar desta ter sido apenas a terceira apresentação do projeto solo, o flow entre os músicos, dançarinos, o próprio Brown e, especialmente, a sequência de músicas escolhida para noite não deixaram o público esfriar. Aliás, o show só foi interrompido por dois coros vindos do público e apoiados pelo Brown: “Fora Temer” e “Libertem Rafael Braga”.
Ainda que o clima de celebração fosse uma constante, falar de Mano Brown é, necessariamente, falar sobre política. Se nos Racionais a poesia é sutil como um direto na cara, no Boogie Naipe a política aparece nas nuances das juras de amor a uma “Mulher Elétrica” que tudo manda e pode, ou no pedido de perdão a uma “Flor do Gueto” ou ainda em um mundo sem armas nem traumas da música “Nova Jerusalém”.
O que a gente teve oportunidade de ver foi um show cadenciado com excelência, músicos e cantores excepcionais, dança, alegria e uma faceta inédita de um dos quatro pretos mais perigosos do Brasil. Existe algo de fundamental aí: a humanização do mito. Quando o líder do Racionais fala de outros temas, todas e todos nós nos lembramos que por detrás da militância existe um homem negro que tem outras palavras a dizer, e que isso importa. O show começa com a música “Sinta-se bem com o Boogie Naipe” e, com certeza, a gente sai do show se sentindo muito, mas muito, melhor.
Boogie Naipe é:
Lino Krizz - Cantor
Dri - DJ
Thiago Sonho – Bateria
Luis Augusto de Oliveira Guerra (Gugu) – Sax/Flauta/Gaita
Israel Lucio Ferreira – Baixo
Allan Abbaia – Trombone
Maurício Venâncio - Trompete
Melvin Santhana - Guitarra
Dado Tristão – Teclado/Vocal
Roberto Cerqueira – Teclado
Augusto Dario Ribeiro (Bocão) – Percussão
Duani – Guitarra e líder da banda
Francine Môh – Backing Vocal
Rosenaye Mello-Backing Vocal
Técnica: Freak House