BAIXADA EM CENA: A CULTURA LOCAL EM ASCENDÊNCIA
Marcão Baixada fala sobre o movimento artítisco da área
Publicado em 06/2016
A cena cultural da Baixada Fluminense, antes tímida e pouco conhecida em outras áreas do estado do Rio de Janeiro, anda chamando cada vez mais atenção. Com apoio das prefeituras e de moradores interessados em propagar cultura em suas regiões, os movimentos artísticos de municípios como Nova Iguaçu, Belford Roxo e São João de Meriti vêm ganhando espaço.
Na estrada há sete anos, Marcus da Silva, o Marcão Baixada, é destaque desse momento vivido pela periferia. Emplacando músicas como “Psico” e “Baixada em cena” nos DJ sets de toda a cidade – inclusive na Zona Sul –, o artista fez um show completo no evento MPB – Música Popular da Baixada, na última sexta-feira (27), com direito a projeções visuais e convidados.
O projeto MPB, que visa promover artistas locais, fica abrigado no Complexo Cultural de Nova Iguaçu – que, segundo Marcão, é um ícone da representatividade artística da Baixada. “Esse espaço é um berço da música na região”, comentou o artista depois de tocar no evento.
Eventos como o MPB são responsáveis pelo aumento do fluxo cultural na região. A mudança, aliás, é acompanhada com alegria por Marcão. “Hoje, é legal que se você quiser curtir um evento, um show, você não precisa ir para longe”, observou. O músico ainda ressaltou que houve um aumento no número de eventos musicais na Baixada, o que tornou o acesso à arte mais fácil para quem reside longe dos centros culturais. E mais: se antes a cena hip hop era restrita aos fãs do gênero, hoje o estilo alcançou as mais diversas tribos. “Às vezes eu canto em eventos aqui mesmo na região, e uma galera que não é do público do rap vai lá curtir. As coisas eram muito segmentadas, e, hoje, não são tanto”, explicou.
Ainda na visão de Marcão, as manifestações culturais da Baixada têm uma forte ligação com o empoderamento da cultura negra, sendo arma na luta contra o racismo. O próprio cantor foi vítima de preconceito em sua juventude e vê uma mudança no comportamento do jovem negro de hoje. “Na escola, funcionários chamavam minha atenção por causa do meu cabelo. Hoje você vê negros saindo na rua com trança, turbante, black power... Dando a cara a tapa. O racismo e o preconceito não conseguem mais calar esse sentimento de empoderamento”, disse, confiante.
No caminho da música desde 2009, Marcão acredita no poder transformador da arte. Apoiador da ONG Instituto Enraizados, que usa o hip hop como instrumento de educação, o músico visita escolas e promove oficinas de rap para os estudantes. A brincadeira contagia até quem não é fã do estilo. “A gente desenvolve um tema, faz um rap na hora e grava. Às vezes tem uma galera que não quer participar, mas aí alguém toca em um assunto com o qual o grupo se identifica e, dali a pouco, estão todos trocando ideias”, contou. O objetivo do projeto é capturar a atenção de jovens que largaram a escola. “Eles conseguem enxergar a escola com outro olhar. A gente também vai dialogando com professores para que as aulas sejam mais assim. Educação vai além do quadro”, afirmou o rapper.