As novas cores do Porto
Evento celebra a arte urbana e ajuda a colorir as ruas do centro do Rio
Publicado em 11/2021
A arte como propulsora do desenvolvimento da cidade. Esse foi o mote da primeira edição do Fórum de Arte Urbana do Rio, que reuniu artistas, produtores, representantes de governos e empresas, e profissionais de diversas áreas no Museu de Arte do Rio (MAR), nos dias 8 e 9 de outubro. Além de uma série de conversas, o evento marcou o lançamento do Distrito de Arte do Porto, uma ideia que começa a sair do papel e a colorir os muros e as ruas de uma das regiões mais importantes da cidade. Em tempos duros, nada melhor do que um pouco de arte para nos lembrar a beleza que a vida na cidade pode conter.
Ao longo de dois dias, com mais de 50 convidados e 26 horas de programação, o Fórum juntou algumas das mentes mais brilhantes para as discussões atuais sobre o espaço urbano, em debates sobre temas essenciais, como a transformação social através das artes e a criação de ambientes mais seguros para a presença das mulheres nas ruas. No time de curadores, artistas do quilate de Airá O Crespo, ACME e Juliana Fervo. A íntegra das conversas está no Youtube e vale a pena conferir.
Por trás das duas ideias, do Fórum e do Distrito, está o Núcleo de Ativação Urbana (NAU), um movimento que desenvolve projetos visando a ocupação e o desenvolvimento inteligente em espaços abandonados ou pouco utilizados da cidade, por meio da economia criativa, da cultura e do entretenimento. Conversamos com o CEO do NAU, Hiroshi Shibuya, que conta que a proposta do grupo é inserir o Fórum no calendário anual da cidade.
Ele acredita que o principal ganho este ano foi o reconhecimento e a visibilidade que o evento trouxe aos artistas, especialmente frente ao Poder Público. “Por mais que a sociedade já reconheça, muitas vezes os governos não compreendem o potencial de transformação que a arte urbana traz para a cidade e para a vida das pessoas. No Fórum, pudemos colocar numa mesma mesa os artistas e um secretário municipal, por exemplo, e conectá-los”, destacou.
Durante o evento, foi anunciado o lançamento de um edital específico para a arte urbana, pela Secretaria Estadual de Cultura e Economia Criativa, que vai disponibilizar mais de R$ 6 milhões para 48 projetos em diversos formatos: grafite, stencil, pintura livre, mosaicos, stickers, lambe-lambe, muralismos, pinturas etc. Serão R$ 125 mil para cada projeto selecionado. Quem quiser saber mais, pode clicar aqui.
E não foi só isso: o próprio MAR se transformou com a chegada do Fórum. Uma pista de skate foi montada no pilotis do espaço e as paredes do museu foram coloridas pelos artistas presentes. “Conseguimos levar o grafite para dentro do museu, com um mural que expressa toda a representatividade carioca. O Museu de Arte do Rio abriu as portas para a discussão de arte urbana, isso é muito importante para todos nós”, comemora Lucas Antunes, responsável pela Comunicação no NAU.
Galeria a céu aberto
Um dos momentos centrais do Fórum foi justamente a apresentação de como vem sendo construída a maior galeria de arte a céu aberto do Brasil: o Distrito de Arte do Porto, que inaugurou seus primeiros 18 painéis de arte, totalizando 11 mil m² de intervenções na Zona Portuária do Rio. Para quem passa ou trabalha nos arredores, a nova vizinhança colorida dá aquela alegria instantânea.
As obras, de artistas como Ananda Nahu, Marcelo Ment e Nadi, tocam em temas contemporâneos, como equidade de gênero, machismo, desigualdade social, cultura popular, identidade racial, entre outros. Um dos painéis que se destacam, de Nadi, retrata um encontro entre os sambistas Beth Carvalho e Arlindo Cruz, com o título “O último dueto”. Outro grande mural, de ACME, retrata líderes do movimento pelos direitos civis norte-americanos, como Martin Luther King e Rosa Parks.
“A arte urbana tem esse papel pedagógico. Ela é reflexiva e provocativa, além de melhorar a relação do cidadão com o ambiente que está ao redor dele. Essa é uma função fundamental da arte, que nos ajuda a ver a cidade e a nossa própria vida por esse prisma reflexivo”, comenta Antunes.
“Além disso”, completa Shibuya, “ela trabalha em favor da segurança da região. Não no sentido fechado de segurança pública, mas uma região ativada por arte dá uma sensação melhor às pessoas, faz elas se sentirem num mundo distinto daquele presente nos jornais. É muito diferente andar numa cidade cinzenta e dura, e em uma região provocativa, que gera reflexões cotidianas, em que as pessoas olham para as paredes e se enxergam”.
Os murais estão concentrados no entorno do Passeio Ernesto Nazareth, que fica entre as ruas Equador, Professor Pereira Reis e a avenida Cidade de Lima, no bairro do Santo Cristo. É uma localização próxima a atrações conhecidas como a roda-gigante RioStar e o Destrave Bar, mas a expectativa dos organizadores é que as intervenções se estendam por toda a região portuária.
A primeira fase do projeto vai até dezembro, quando deverá ocorrer uma grande ocupação com diversas manifestações artísticas se exibindo nas ruas da região. Até lá, a área já deverá contar com 18 mil m² de painéis de arte. As próximas fases, ao longo dos próximos anos, preveem intervenções temporárias e permanentes em outros bairros do Centro, como a Rodoviária, o Caju, a Saúde e a Gamboa.
Um dos grandes objetivos do projeto é criar uma ligação mais orgânica entre a área onde o Distrito deu seu pontapé inicial - que também deve passar a concentrar maior atividade gastronômica, com novidades que serão anunciadas em breve - ao Boulevard Olímpico, espaço já muito frequentado por cariocas e turistas. Baseado em experiências internacionais e casos bem-sucedidos aqui mesmo no Brasil, o NAU espera desenvolver um “corredor cultural”, marcado por ativações e intervenções artísticas de diferentes formas.
“A ideia do Distrito não é restrita a um local ou um perímetro específico. A intenção é que se espalhe por todo o Porto. Na verdade, ele vem para potencializar uma característica natural da região. Aqui é uma área onde historicamente a arte do Rio de Janeiro se desenvolveu, a começar pelo samba. Um local que ficou degradado por muito tempo, mas que vem se recuperando nos últimos anos. O Distrito de Arte é um passo muito importante para construirmos uma região onde as pessoas se sintam mais acolhidas”, acredita Shibuya.
Os olhos miram um futuro em que o Porto seja uma zona efervescente de arte, cultura, tecnologia e inovação. Para colaborar com isso, o NAU faz parte de uma rede que reúne diversas outras instituições presentes no bairro, desde entidades e empreendedores locais até grandes empresas que estão investindo na região - uma construtora com grandes projetos imobiliários na área é uma das principais patrocinadoras do projeto. “Nosso desejo é transformar o Porto em referência de desenvolvimento para o Rio. A ideia é que ele seja o horizonte de onde o Rio de Janeiro quer chegar”, declara Shibuya.
Um futuro de arte, cores e encontros. Acho que nunca estivemos tão ansiosos por ele!