#VIDASNEGRASIMPORTAM
Um Rio que desagua sangue preto
Publicado em 06/2020
Hashtags como: #paremdenosmatar #vidasnegrasimportam #blacklivesmatter #BASTAeuvouagir foram entoadas e escritas em todas as redes sociais em uníssono no dia 31 de maio de 2020, marcado pelo primeiro ato criado e pensado por ativistas periféricos, onde a população se concentrou estrategicamente em frente ao Palácio da Guanabara.
Um levante negro brasileiro, com a finalidade de provocar o Estado que até agora não ofereceu nenhuma solução pontual, e urgente para as comunidades e periferias do Rio. Gritos organizados, inúmeras tentativas de pedidos erguidos na garganta, para que os manifestantes mantivessem a distância de um metro e meio, e que estivessem atentos as pautas, foi um ato de provocação, e não um ato de rebelião.
É loucura pensar que em meio a pandemia fomos obrigados a colocar nossos corpos em risco multiplicado, e como bem disse o ativista social Raull Santiago na primeira fala do Ato: “nossa opção não pode mais ser, morrer de vírus ou de tiro”. Então, lá estávamos, engajados, corajosos, enfrentando o mal que assola o nosso povo há mais de 300 anos.
BASTA! Clamamos pelo fim das operações policiais, pelo fim da violência racista e genocídio do povo preto e um basta de militarização do Estado. E as perguntas surgem: Vale a pena? Muda alguma coisa ir para as ruas? Adianta?
É fato que, não fomos estimulados historicamente a lutar nas ruas todas as vezes que nos sentimos desamparados ou reprimidos socialmente. Mas é nosso dever provocar e pressionar os poderes, e sobretudo entendermos que, a ação de hoje será a sombra de ações futuras, e que a cada saída coletiva, estimulamos outras vozes sedentas por expressarem suas indignações e angústias.
Esse levante não é uma responsabilidade da população preta do país, e sim uma responsabilidade de todes, principalmente da branquitude que herda os benefícios desse racismo estrutural que seleciona. Infelizmente a pele preta completou quase que 99% das ruas nesse primeiro Ato, e agora o meu o convite é que essa porcentagem reduza a metade, e nossos corpos se confundam entre as peles brancas, e que o fronte seja tomado por aliados, a ponto dos militares passarem por um colapso visual e perceberem de uma vez por todas que essa guerra também é sobre eles.
Domingo a gente se encontra. #deusqueira
Jornalista, diretora de conteúdo áudio visual, Renata Novaes (@renattanovaes) é líder do estudo sobre “Respeito às diferenças” no grupo Globo. Umas das fundadoras do primeiro coletivo negro da Globosat - Diáspora - Ativista, busca construir novas narrativas de acesso às minorias políticas sociais em espaços de poder.