Tássia Reis quer furar a bolha do rap feminino
Atração principal do palco TNT Energy Drink no MECAInhotim, cantora fala sobre a resistência das mulheres no rap nacional
Publicado em 07/2017
Tássia Reis quer furar a bolha do rap feminino e fazer só rap. “[Por mais que seja importante compor esse grupo para se fortalecer como movimento], fica a impressão de que você pode ser muito boa, mas muito boa dentro da caixinha do rap feminino. Ninguém, geralmente, compara uma rapper mulher a um cara. É como se o rap feminino estivesse aqui e o rap ali”, explica a cantora fazendo uma marcação de distância imaginária com as mãos.
O papo rolou a convite do TNT Lab, estúdio móvel criado pela marca de energético para levar discussões atuais sobre cultura e comportamento a espaços diferentes – literalmente. Depois de passar pela SPFW e pela Campus Party, a parada foi a segunda edição do MECAInhotim, que rolou no último final de semana, em Brumadinho, ‘pertin’ de Belo Horizonte. O festival, que é nosso velho conhecido, combina shows, performances, workshops e palestras feitas de e para uma geração que desafia a lógica do mercado – em três dias, as pautas foram desde novas formas de trabalhar a outros jeitos de consumir ou até enfrentar a crise de meia-idade.
Tássia nos recebeu enquanto era maquiada e ganhava a última camada de batom preto a poucos minutos de se apresentar. Atração principal do palco TNT Energy Drink, que concentrou nomes da cena independente ao lado do TNT Lab itinerante, uma espécie de aquário humano, ela falou sobre as suas referências musicais e a geração de artistas questionadora da qual faz parte.
“Ao mesmo tempo em que a gente é a resistência do rap feminino, a gente quer furar essa bolha e ser só [representante do] rap. É complicado, né?”, indaga. “E eu tô falando num sentido geral, porque nem tenho mais essa pretensão. Apesar de eu fazer o meu rap, já não estou nesse circuito, eu faço outra coisa. Eu tô aqui”, diz fazendo referência ao evento realizado dentro do Instituto Inhotim.
Cenário dos sonhos, o parque de 140 hectares de jardim com mais de cinco mil espécies botânicas abriga um dos mais relevantes acervos de arte contemporânea do mundo. Está cheio de gringos e bem longe do habitat natural da cantora, a rua, onde ela conheceu a cultura hip-hop e começou a dançar aos 14 anos - como nos contou em um papo nos bastidores do Circo Voador, há alguns meses.
“Eu faço música para todos os ouvidos. A gente tá na batalha para chegar a espaços como esse. É importante como forma de resistência e ocupação. Até porque a gente entende que os line-ups de festivais são super complexos, machistas e, por muitas vezes, não contemplam raça”, reflete. O MECAInhotim teve como headliners Karol Conká e Jorge Ben Jor no palco principal.
Prestes a completar 28 anos, ela lembra que, como quase todos os amigos do rap, o Racionais foi sua primeira referência. Aos poucos foi encontrando outras vozes: Negra Li, Lauryn Hill, Erykah Badu. Hoje, tendo criado um gênero para si, seu rap-jazz, ela faz parte de um coletivo que é referência do hip-hop nacional. O Rimas e Melodias reúne algumas das minas mais conhecidas desse rolê. São elas a DJ Mayra Maldjian, a rapper Tatiana Bispo, Drik Barbosa, Karol de Souza, Stefanie e Alt Niss – além dela mesma, que garantiu um EP da trupe para os próximos dois meses.
“A gente, enquanto rap, não tem opção. Se quiser continuar na parada tem que resistir mesmo. Acho que como a própria palavra ‘resistência’ sugere, isso não é algo que você escolhe. Ou você resiste, ou cede, cai, desmorona, desiste,”. Ela não. #PODEVIR, que aqui tem resistência.