Paulinho da Viola - 50 anos de Carreira
14/11/14 @ Circo Voador | RJ
Publicado em 11/2014
Não há, no mundo, um homem como Paulinho. Não há, no mundo, um sorriso como o de Paulinho. Não há, no mundo, versos que toquem as paredes do coração como tocam os versos de Paulinho. E, na sexta (14), no Circo Voador, algumas centenas de privilegiados tiveram a oportunidade de juntar as palmas das mãos repetidamente, por algumas vezes, para reverenciar a obra e a vida de Paulinho, o da Viola. Cinco décadas de samba, sete décadas de vida.
Em cerca de 90 minutos, Paulinho transportou a todos para um mundo paralelo em que a doçura dos versos se torna lei e seu sorriso, sempre ali em alerta no seu rosto moreno, vira holofote a iluminar todos que estão do lado de cá, a alguns metros de distância de seu corpo, mas a quilômetros de distância de sua genialidade e sofisticação.
Portelense, Paulinho é dono de um dos sambas mais bonitos já escritos para a maior rival de sua escola. Como também é dele um dos hinos mais emblemáticos já construídos para exaltar a agremiação de Madureira. Paulinho é gênio em verde-e-rosa. Paulinho é gênio em azul-e-branco. Paulinho é Sei lá, Mangueira. Paulinho é Foi um rio que passou em minha vida. Paulinho é Coração leviano. Paulinho é Timoneiro. Paulinho é Dança da solidão.
A certa altura do show, botou o cavaquinho embaixo do braço e decidiu revelar alguns segredos que, se ainda não eram de conhecimento geral, poucos faziam idéia sobre sua existência. “Sabe... Quando escrevi ‘Foi um rio que passou em minha vida’ ela não tinha esse ‘laiá, laiá’ no final, não. Quem colocou o ‘laiá, laiá’ foi meu saudoso Jair Rodrigues, em uma gravação. A música se popularizou assim e, em meus shows, quando tentava voltar pra primeira estrofe, o público emendava no ‘laiá, laiá’. Então, me rendi”, comentou, em tom confessional como quem conta um causo da vizinha do fim da rua. “Até certo dia em que o Jair passou por mim e soltou: ‘Fala, parceirinho!’”, emendou o mestre, para delírio geral da plateia sob a lona, ávida por entoar um empolgado (e merecido) “Parabéns pra você”.
E assim foi feito. “Muitas felicidades, muitos anos de vida”, bradamos. Em minha mente, ao criar uns versinhos particulares para o cancioneiro em pauta, também desejei muitos outros shows como aquele, daquela noite, que também nos presenteiem com um desfile de dimensão apoteótica em que as notas máximas, mais uma vez, ratifiquem Paulinho como o maior campeão vivo do samba. Tanto quanto ela, a sua Portela.