Na passagem de som de Lô Borges
Ícone da MPB mostra como fazer o show de lançamento de um disco gravado há 45 anos
Publicado em 05/2017
Era tarde de sábado na Lapa. Tipo 18h, quando o Sol de inverno já tinha caído e o bairro começava a ganhar os contornos de berço da boemia que conhecemos. Dentro dos domínios do Circo Voador, Lô Borges e sua banda passavam o som para o primeiro show do “Disco do Tênis” no Rio de Janeiro. Nada de incomum, se o tal disco não tivesse 45 anos.
Pois é, logo depois do fim do Clube da Esquina, o mineiro tímido, então com 20 anos, entrou em estúdio para gravar seu primeiro álbum solo. Na capa, estampou uma foto de um de seus tênis favoritos, entregou o trabalho pra gravadora e se mandou pra Bahia. As músicas viraram ícones da MPB dos anos 70 e da carreira de Lô, mas nunca tiveram um show só delas.
O cenário começou a mudar há 10 anos, quando o músico recebeu um convite da Virada Cultural de São Paulo para um show no Theatro Municipal da cidade. Na época, a ideia não virou realidade por falta de tempo para encarar uma reconstrução do disco com maestria, mas alguns anos depois, Lô conheceu o músico e produtor Pablo Castro e o disco, finalmente, foi reconstruído. E então o caminho para montar esta turnê de lançamento ficou mais fácil.
“Na verdade, eu tinha uma dívida com esse disco. Fiz aos 20 anos de idade e não fiz nenhum show de lançamento, nunca na minha vida, em nenhum momento ele esteve presente nos setlists dos meus shows. Era o disco que estava ali totalmente imaculado, estava ali no alto, escondido no decorrer da minha carreira, no decorrer dessas quatro décadas", nos disse emocionado, logo depois da passagem de som. Mas nada de arrependimento por isso, ele deixou bem claro que precisava desse tempo afastado para viver outras coisas, como qualquer jovem de sua época.
Por pura identificação de ideais, os convidados para abrir a noite foram os meninos banda Dônica, que, aliás, têm mais ou menos a mesma idade que ele tinha quando gravou o disco do tênis. Lô conheceu o grupo através do filho de um amigo, que lhe deu o disco da Dônica nos bastidores de um show que fez no Rio. “Seria legal que (o show de abertura) fosse de alguém do Rio, e eles são muito interessantes, muito criativos, muito inovadores, cheios de personalidade, desencanados pra compor. Gosto disso, das músicas que não precisam de refrão, de ter uma parte que vai colar no rádio. Eles não têm essa preocupação”, comentou. Nas palavras de Lô, a banda se encaixa no perfil de “coisas malucas de lugares distantes”, assim como ele e os amigos eram vistos na década de 70.
O Circo estava lotado e a nostalgia dominava a lona. Acredite: o show foi tão fiel ao álbum original, gravado há 45 anos, que até as notas erradas foram mantidas. Vários gritos de "Fora Temer!" embalaram a noite e algumas músicas foram iniciadas com discursos do próprio Lô contra o atual presidente, com direito a alusões à Ditadura Militar, regime vivido pela juventude de sua época. Do início ao fim, a plateia mostrou-se extasiada pelo setlist, que começou com as faixas do “Disco do tênis” e depois abriu espaço para os maiores sucessos do Clube da Esquina.
"O show é a energia que pulsa!" exaltou o artista - e essa noite certamente pulsará em nossos corações por muito tempo! Lô Borges realmente nos mostrou que "os sonhos não envelhecem".