Emicida apaixonado
O show da véspera do Dia dos Namorados em 35mm
Publicado em 06/2016
Show do Emicida no Circo Voador numa noite de sábado. Noite essa que, por acaso, era a véspera bem fria do Dia dos Namorados de 2016. Dezenas de casais se multiplicavam sob a lona da Lapa, mas a noite foi apaixonante e apaixonada não só por causa deles.
Mulheres solteiras empoderadíssimas desfilavam auto-confiança, amor pelas migas e por elas mesmas. Batons e cabelos de todas as cores – em sua maioria, naturais. Havia cachos de todos os tipos e malemolências, assim como ondas e fios lisos. Na última cabine do banheiro, uma mina chorava por causa do boy lixo que estava lá fora. Coração chateado no meio dos corações enamorados. A amiga dela começou o coro de "pode chorar, mas você vai sair daí já, já pra assistir ao show que queria tanto" e foi seguida por todas as mulheres da fila. "Onde já se viu mulher linda assim perdendo show por causa de homem? Eu, hein, show caro desse ainda!", "Sai daí, passa um belo de um batom e volta!", "Eu tenho batom vermelho pra emprestar!", "Eu tenho batom rosa!". "Isso aí, mulheres unidas!". O amor próprio renasceu ali dentro daquela cabine – e o meu amor pela sororidade nem cabia mais no peito.
No palco, o homicida das batalhas de rap estava apaixonado pelo público carioca. Emicida entrou no palco meio tímido, de óculos escuros, casaco e capuz, mas logo na segunda música ficou só de regata (tipo nem aí pro frio-polar-de-carioca) e cantou, pulou, chamou a plateia e improvisou. Ele colocava o pé sobre a caixa de som e começava a devanear: sobre a periferia, sobre desigualdade, sobre a indústria musical, sobre racismo e sobre os direitos das mulheres.
Uma hora de show, duas horas de show. "Não tô com pressa, não. Se antes que nós pegava o ônibus da rodoviária nós já não tinha pressa, imagina agora que o ônibus é nosso", disse, para delírio geral. Já tinham rolado as faixas do álbum recente, "Sobre crianças, quadris, pesadelos e lições de casa", alguns hits do início da carreira, um cover de "Preciso me encontrar", de Cartola, dois improvisos de clássicos do funk carioca ("Eu só quero é ser feliz" e "Nosso sonho") quando o rapper decidiu emendar uma série de faixas românticas, de "Ela diz" a "Eu gosto dela". E os casais ficaram ainda mais coladinhos – desafiando, inclusive, algumas leis da Física.
Emicida também quis companhia nos microfones e, ao longo da noite convidou o irmão Fióti para cantar algumas faixas de seu disco solo recém-lançado, chamou de volta ao palco o amigo Kamau (responsável pelo show de abertura) para um dueto irado, abriu espaço pra amiga Drik Barbosa mostrar que "as mina rima sim" e homenageou rappers amigos que "deram a vida pela cultura hip hop". Só com quase três horas de show madrugada adentro, Emicida e sua incrível banda se despediram de nós.
E como eu estava o tempo todo? Bem, assisti ao show inteirinho sozinha, rodeada por uns seis casais apaixonados, enquanto meu namorado rodava o Circo para fazer essas fotos incríveis que estão aqui. No final, ele ainda voltou meio frustrado porque o primeiro filme não rodou e o início da noite não foi registrado: nem o show do Kamau e nem o retrato que ele fez de mim assim que chegamos. ¯\_(ツ)_/¯ Mas o amor é mais que isso – e ainda tem aqueles beijinhos no canto da boca.