Vinte dias no Nepal
Uma vida inteira em poucas semanas
Publicado em 03/2016
Foram tantos rostos e histórias que seriam necessários livros para descrever tudo o que senti nessa viagem. Tantos nomes, tantos detalhes, tantos gestos, tantos rituais, tantos comportamentos diferentes.
O Nepal é um país de todos, mas para poucos. Não se deve ter apenas mente aberta, mas corpo e alma também. Eu me entreguei por completo e deixei o país guiar os meus dias. Fui sem planos, aceitando as possibilidades que surgiam. Acredite, foi a melhor escolha.
No Nepal não se tem pressa, não se reclama e dá-se valor a cada segundo, como se fosse um presente. Se não tem água quente, tudo bem. Toma-se banho frio, mesmo com a temperatura beirando os -5ºC. Se não tem gás, usa-se uma pequena fogueira para cozinhar. Já nos dias de encher o tanque do carro de gasolina, esperam-se, no mínimo, quatro horas na fila. Mas ninguém reclama, ninguém briga. Ah, e são apenas três horas de luz elétrica por dia, em horários irregulares. Ou seja: a rotina regrada e apressada a que estamos acostumados não se encaixa no modo de vida nepalês.
Me encantei com diversos hábitos e paisagens no Nepal, mas foram as pessoas que mais chamaram minha atenção. A maioria vive na linha tênue que separa o respiro e o sufoco, mas isso não faz com que tire o sorriso do rosto.
Mantive dois objetivos em mente ao fazer os cliques da viagem. O primeiro foi registrar a maior quantidade de pessoas que pude, para sempre lembrar de suas histórias, de onde as conheci e do momento em que as vi. O segundo foi também capturar o maior número de pessoas possível, mas com outra finalidade. Dessa vez, para dar a quem não viveu aqueles momentos comigo a chance de inventar suas próprias histórias para as fotografias.
Até agora não sei exatamente por que fui ao Nepal. Quando reparei, já estava lá. Mas sei que quero voltar. Tem um poema de Manoel de Barros, um dos meus favoritos, que representa fielmente o espírito dos nepaleses - aqueles que não descobrem ouro, mas descobrem o verdadeiro significado de ser humano.
"Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro
Para mim poderoso é aquele que descobre
as insignificâncias (do mundo e as nossas)
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil
Fiquei emocionado e chorei"