Apoio e angústia no 'Dia D' dos vendedores do Parque da Água Branca
Justiça não retira trabalhadores na data determinada, mas por enquanto não há motivos para festejar
Publicado em 04/2017
Vendedores que há décadas trabalham no Parque da Água Branca, em São Paulo, temiam atravessar os portões do local no dia 15 de abril para, uma vez na rua, nunca mais voltarem. Foi a data determinada pela Justiça para que deixassem para trás toda uma vida. O motivo é uma disputa judicial com a Secretaria do Meio Ambiente do Estado, da qual falamos há algumas semanas neste zine.
Os oficiais de justiça, porém, desta vez não apareceram. E os vendedores ainda receberam o apoio de frequentadores do parque. Um protesto organizado pela internet levou cartazes e panfletos explicando a situação para quem aproveitava a tarde ensolarada. Muitos nem sabiam do risco de ficarem sem aqueles vendedores com os quais existe uma relação de afeto e confiança.
Veículos de TV e rádio apareceram para cobrir a protesto. Uma outra demonstração já havia ocorrido na quinta-feira anterior (13/04). Ambos foram organizados pela tradutora Bárbara Gael, que já vinha divulgando, em sua página no Facebook, depoimentos desesperados dos vendedores e resolveu tomar a iniciativa, já que a data da expulsão se aproximava.
“Queremos conversar com a administração do parque junto com os vendedores para que esta situação seja resolvida de outro modo. É preciso pelo menos definir valores pagáveis para que eles permaneçam”, diz.
Bárbara se refere ao fato de que o Governo do Estado sequer ofereceu essa possibilidade. A ordem judicial simplesmente exige a saída os vendedores. Além disso, no chamamento público realizado ano passado, o valor exigido para atuar no parque (cerca de R$ 1,5 mil por mês) está longe da realidade dos comerciantes.
“Isso seria inimaginável na Suíça. Lá, acontece o contrário: os pequenos empresários são extremamente valorizados pelo governo”, diz a professora de francês Ana Amélia Coelho. A paulistana mora no país europeu há cinco anos e, sempre que vem à São Paulo, visita o Parque da Água Branca. “Frequento aqui desde pequena, gosto do parque como ele é. Expulsar os vendedores antigos assim é uma total inversão dos valores deste lugar”, protesta.
Apesar de frequentado principalmente por moradores da região, o parque da Zona Oeste atrai também moradores de bairros longínquos. “Aqui é meu lugar favorito em São Paulo, tanto que hoje até trouxe minha família para conhecer”, diz Adriély Baptista. Moradora do Itaim Paulista, distrito do extremo leste da cidade, Adriély conta que sempre indica o local como uma ótima opção de passeio para seus amigos - e sua mãe adorou ver as galinhas que andam soltas pelo parque. Pode parecer curioso, mas em quantos lugares em São Paulo a mãe de Adriély conseguiria relembrar sua infância em uma zona rural?
O sábado terminou e a Justiça não cumpriu aquilo que disse que faria sem dó nem piedade. O motivo ainda era uma incógnita, mas uma suspeita pairava no ar. Foi verbalizada por um dos vendedores. Ele disse ter escutado de um integrante da administração do parque o motivo para a aparente trégua. “Me disseram que, com esse movimento todo que fizeram aqui, não pegaria bem expulsar a gente hoje.” Aguardemos.
Questionada uma vez mais, a Secretaria de Meio Ambiente do Governo de São Paulo respondeu afirmando que a ação para retirar os comerciantes é de responsabilidade da Procuradoria Geral do Estado.