UnDragged: a cena brasileira de drag queens desnudada
Fotógrafa Giselle Dias fala sobre o processo de criação de projeto que retratou 14 performers
Publicado em 06/2016
Eu sempre gostei muito da arte de se montar, criar e embelezar. E ser drag é puramente isso. Tive o primeiro contato com essa cultura bem mais nova, graças ao meu incrível maquiador, que era uma diva como drag e se apresentava no Buraco da Lacraia, na Lapa.
Quando me bateu a vontade de fazer meu primeiro projeto pessoal, decidi que ele envolveria nus artísticos, pois é uma das minhas paixões. Mas também queria que o tema do trabalho fosse significativo para mim. Eu assisto a muitos reality shows sobre a cultura drag, como o “RuPaul’s Drag Race”, e, um dia, enquanto curtia um dos episódios, percebi que a resposta estava ali na minha frente: o projeto tinha que ser sobre drag queens.
A intenção da série fotográfica é demonstrar a vulnerabilidade do ser humano que está por trás do personagem, usando o nu como metáfora. Porém, ao mesmo tempo, deixar traços fundamentais da arte drag em evidência. O nome do projeto, UnDragged, veio por último. Ele representa essa ideia de desconstrução. Seguindo esse raciocínio, o banheiro foi o local escolhido para todos os cliques por ser onde as pessoas se sentem mais confortáveis consigo mesmas.
O meu maior desafio foi arranjar o grupo de artistas que posariam para as fotos, porque eu não conhecia nenhuma drag pessoalmente. Eu só sabia que existia uma festa chamada Priscilla, que reunia algumas figuras da cena drag do Rio e de São Paulo, então decidi frequentar essa noitada. Pedi para uma amiga, Rafaela Louzada, me apresentar para algumas pessoas. Mas como convencer vários estranhos a ficarem pelados em seus banheiros, sem parecer uma maluca?
Aos poucos fui descobrindo que a melhor maneira de me aproximar das pessoas que queria fotografar era, primeiro, transmitindo confiança, tanto no próprio projeto quanto na pessoa em si. Foi muito importante respeitar as limitações de cada uma e ouvir suas considerações. Com o tempo, as modelos também pegaram carinho pelo trabalho, e mais drags foram se animando para posar.
O tempo que passei com cada modelo durante a montagem e a pré-produção das fotos foi extremamente especial. Aprendi e cresci muito conversando com cada uma delas, e fiz grandes amigos.
O projeto é voltado para libertação pessoal. É uma forma de aconselhar as pessoas a serem quem desejarem ser, sem medo de preconceito, bullying ou injustiça. Por outro lado, é também uma arte educadora, já que ela ensina que não existe razão para o preconceito. A discriminação é o medo do que é diferente.
As fotos começaram a ser expostas em formato lambe-lambe no dia 9 de junho, em São Paulo, na Rua Augusta, na Rua Peixoto Gomide e nas proximidades do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP), com a colaboração de um coletivo de arte da cidade chamado SHN. No site do projeto há informações sobre cada drag queen que participou e, finalmente, neste sábado (18), vai rolar o grande evento de estreia de todas as fotos – online e também em forma de exposição, no Rio, no Studio Line, em Botafogo, a partir das 19h. Onze drags vão se apresentar no vernissage, como performers e DJs. O I Hate Flash, é claro, estará lá para fazer a cobertura, mas, antes disso, liberei só para os odiadores de flashes algumas fotos exclusivas do UnDragged.