Queremos! Chet Faker
19/03/15 @ Sacadura 154 | RJ
Publicado em 03/2015
por Willmersdorf
Não sou daqueles que confiam irrestritamente no ditado que diz “menos é mais”. No palco há certos nomes que precisam do excesso para fazer bonito. Funciona assim com as cantoras pop, as bandas de arena-rock e até alguns nomes da música eletrônica, principalmente aqueles que costumo chamar de mestres de cerimônia farofeiros, como Calvin Harris e Skrillex. Mas se há algum nome que deveria seguir a trilha do clichê minimalista, esse nome é Chet Faker.
As dimensões generosas de sua apresentação no Sacadura 154, no Rio, minaram bastante a passagem do australiano pela cidade, em mais uma empreitada comandada pelo Queremos. Definitivamente, Chet não funcionou diante da pequena multidão que se despencou até a Gamboa na noite da última quinta-feira (19). Como de costume em shows de caráter intimista que são realizados erroneamente em casas um pouco maiores, Chet teve ressaltados alguns tropeços que poderiam passar batidos, caso sua performance tivesse ocorrido em uma arena menor, como, por exemplo, o certeiro Circo Voador.
Veio à tona, por exemplo, seu frágil carisma, incapaz de travar qualquer contato mais intenso com a plateia, formada por alguns fãs e uma horda de admiradores do hype, configuração mais do que comum em shows do Queremos, mas que se torna nociva demais em um contexto espacial como o do Sacadura. Resultado? Meia dúzia de gatos pingados espremidos perto da grade acompanhando o show e uma manada dispersa, conversando em rodinhas, quase em uma grande social hipster. E não adianta bater pé para negar: show é o retrato de uma interação entre emissor e receptor e, naquela noite, o retrato saiu embaçado à vera.
Somado a este panorama interpessoal confuso, Chet errou também na montagem de seu setlist, mostrando mais eficiência nas presepadas solo do que nos seus maiores singles, como Drop the Game, 1998 e Gold (exceção feita a Talk is Cheap, que encerrou o show de forma brilhantemente executada). A projeção de voz um tanto prejudicada também foi visível por toda a noite, mas esta é uma conta difícil de ser cobrada: falha do fonoaudiólogo do rapaz ou do sistema de som da casa?
Mas, acredite, nem tudo foi decepção no show do moço. Dele, podemos tirar uma reflexão cuja necessidade de existência urge, tanto na cabecinha da mídia como do público brasileiro. É preciso quebrar o mito de que o melhor formato de um artista, obrigatoriamente, tem que ser ao vivo, no palco, sob os holofotes. Chet Faker é um exemplo claro de tal ruptura: exímio produtor, está longe de ser um artista fraco, sem predicados. Mas, de fato, seu melhor formato continua sendo no vinil, no iPod, em casa. Isto o diminui artisticamente? Não. Apenas denota que uma arena de shows não é o melhor canal para se apreciar seu som. Precisamos, de vez, deixar de lado a ideia medieval que mede a qualidade de um artista apenas pela sua capacidade de subir no palco e mandar bem. Até porque, exclusivamente por esta régua, a altura de Chet Faker deixaria (e muito) a desejar.
por Medeiros
Conheci Chet Faker numa fossa, daquelas que a gente tá passeando pelo Soundcloud e os versos "we used to be friends, we used to be inner circle" (do hit 1998) caem como uma luva. Descobri a versão de No Diggity, Talk is Cheap, mais todo o CD Built on Glass, parcerias e o cara entrou no Top 5 do meu iPod e da vida. Tá tudo ruim? Chet Faker. Tá tudo bom? Chet Faker. Pra ficar de boa? Chet Faker. Otras cositas más? Chet Faker.
Fiz preces pro São Queremos trazer ele pra cá e, quando rolou a campanha, era post no Facebook e encheção de saco pros amigos pedirem dia sim e outro também. Show conquistado, contagem regressiva iniciada. Pelo menos 7 dias antes, ouvia exclusivamente a pastinha "Chet Faker" - sabe como é, aquecimento, treinamento, chame como quiser. E quando cheguei lá e o cara tava no palco, com aquela barba ruiva super bem cuidada e gatice australiana... Era mais legal no meu iPod.
Na plateia, sobrou gente que tava mais pelo social do que pelo espetáculo, mas isso não me abala e já fui a shows incríveis com a mesma equação (tipo o do The XX no Vivo Rio, saudades). No palco, faltou justamente o que sobra no meu fone de ouvido: envolvimento. A música de Chet Faker é tipo um abraço e no show os braços ficaram abertos demais. Talvez pela personalidade mais introspectiva do cara, que não é de conversê e não se esforça muito para estabelecer uma conexão com a plateia, talvez pela voz baixa, quase sussurrante, talvez pela casa de show grande, talvez pelo público disperso ou por tudo isso junto.
O início com solos do barbudo fez jus ao que eu já esperava depois de assistir pelo Youtube algumas apresentações dele no Boiler Room. O combo Cigarettes & chocolate + Intro e uma pitada de improvisação foi incrível, mas a partir dali a conexão se dispersou e só voltou pra fechar a apresentação, no solo inesquecível de Talk is Cheap. Até em Drop the Game, hit das pistas em parceria com o também australiano Flume, faltou energia. Faltou envolvimento.
Vai ver o show dele funciona melhor em um clima mais intimista. Quem sabe a dois? Me liga, Chet.