PROFISSÃO: ARTISTA!
Expositores da Artists' Alley na CCXP contaram pra gente como é viver vendendo sua arte
Publicado em 12/2019
Para algumas pessoas, viver da sua arte é apenas um sonho. Mas quem disse que os sonhos não podem virar realidade?
A Artists' Alley é um dos lugares mais badalados da CCXP. Nele, a galera fica reunida para vender sua arte.
Batemos um papo com esse pessoal perseverante que nada contra a corrente e escolheu viver de arte no Brasil.
Flavia Gasi
Apesar de ser referência entre as criadoras de conteúdo, este é apenas o primeiro ano de Flavia Gasi como expositora na CCXP. Escritora, youtuber e com mestrado em games, ela divulga por aqui sua primeira obra em quadrinhos.
"Com o vídeo game eu comecei num misto de oportunidade, sorte e teimosia. Fui dar uma entrevista pra revista 'Herói' que falava muito de anime e de joguinho. Aí eu descobri onde eles ficavam fisicamente e ia lá todo dia pedir emprego".
Multitalentosa, Gasi já escreveu games, tem livros e decidiu em 2019 dar vazão à sua vontade de escrever ficção por meio de seu 1º quadrinho "Crônicas de Minas Gamedevs":
"Pra mim é uma transição muito boa porque como ele vem de relatos do mundo real é quase um jornalismo literário. Pego essas vivências reais e transformo em histórias fantasiosas."
Quando o assunto é machismo, Gasi expõe que há mais mulheres no meio geek hoje em dia, o que faz com que as minas se sintam acolhidas e protegidas. Apesar disso, machismo e preconceito ainda são uma realidade que podem fazer com que algumas criadoras desistam ao longo do caminho.
"Eu acho que aos poucos a tendência é mudar, com mais mulheres nas posições de tomadas de decisão ou outras minorias: mais LGBTs, mais pessoas negras, indígenas. Não apenas fazendo, mas no local de tomada de decisão. É aí que as coisas tendem a mudar de verdade."
Bian Philippi
Seu nome é Bian Philippi mas é mais provável que você o conheça pelo Instagram como "Nascido em Astra". E foi o amor que fez seu projeto florecer. Oin.
"Eu meio que sempre desenhei mas nunca acreditei que ia trabalhar com isso na vida. Sempre gostei muito de criar histórias, já lancei outros livros independentes. Ano passado a gente lançou nosso primeiro livro em conjunto [com o namorado] aqui na CCXP, mas comecei há mais ou menos três anos. Um deu força pro outro pra gente entrar nesse universo de forma profissional".
Pela CCXP, ele expõe seu primeiro HQ: "A gente tá aqui nosso primeiro quadrinho, que é o 'Quadrinho sem voz'. É sobre uma menina que está se recuperando de uma cirurgia na garganta e ela perdeu a voz por conta disso. Nesse momento ela encontra um bichinho chamado Sol, uma criatura vinda do espaço que está sempre em busca de luz e vê na menina um outro tipo de luz." Essa é ou não é a coisa mais acalentadora que você já leu hoje?
Quando perguntamos se ele recebeu apoio ao decidir viver de arte: "No começo pra mim era sempre muito 'vai fazer concurso público e pode viver disso depois pra você se manter'. Mas eu não ia ter tempo de produzir e crescer no meu trabalho se eu estivesse trabalhando com outra coisa."
Pra Bian, fazer parte da CCXP é ter uma grande vitrine pra expor seu trabalho. Não somente para o público, mas para outros criadores.
Affonso Solano
Affonso Solano é um cara muito conhecido no mundo geek. Criador do podcast "Matando Robôs Gigantes", participante do Nerdcast ("Jovem Nerd") e escritor, o carioca começou a carreira em 2001 como ilustrador do Omelete.
"Comecei com os quadrinhos que eram o protótipo d'O Espadachim de Carvão'. A partir dali foi evoluindo, escrevi pro Tech Tudo, depois criamos o 'Matando Robôs Gigantes', fui desenvolvendo os livros", expõe Solano.
Para o escritor, a importância da CCXP está na divulgação da obras, e na troca entre os próprios expositores: "Em lugares como a CCXP a pessoa tem a chance de expor o trabalho e a chance de encontrar com outros criadores e criadoras para trocar uma ideia. Pra ver como essa pessoa funciona e que não é aquele glamour. É um lugar pra galera olhar praonde elas querem ir e ter a certeza daquilo que ela quer fazer."
A maior influência do Solano está na sua família. Além de ter parente artista, seu pai o ensinou a paixão pelos quadrinhos e sua mãe, o amor pelos filmes.
E pra quem quer começar, o influenciador acha que a principal ferramenta é o estudo.
"Estude, pesquise. Aprenda em vez de querer já chegar no topo no estilo 'li dois livros e quero ser escritor', 'sei desenhar o Goku e quero fazer mangá'. Tem que ler, ralar, reclamar pouco, deixar de sair com os amigos e amigas pra ficar em casa estudando, senão você não vai se destacar no meio de tanta gente que quer aparecer nesse meio."
Carlos Ruas
Se você nunca se debruçou nas suas redes sociais com uma tirinha de "Um Sábado Qualquer", você tá vivendo errado. Nos quadrinhos, Deus, o demônio Luciraldo e outras figurinhas religiosas batem altos papos filosóficos sobre a nossa existência.
Os quadrinhos foram idealizados pelo designer gráfico Carlos Rua, que explicou como tudo começou:
"A ideia surgiu na união dos meus hobbys. Eu sempre fui apaixonado em fazer quadrinho, lia 'Asterix' desde criança e meu pai me ensinou a desenhar. Trabalhava no jornalzinho da minha escola e minhas carteiras ficavam sempre super desenhadas."
O carioca sempre demonstrou desde garoto interesse em estudar religião e mitologia. "Não como forma de crença, mas como forma de compreender a necessidade do ser humano em ter esses seres divinos para dar colo a eles."
Para Carlos, ainda há um preconceito com relação às pessoas que escolhem a arte como forma de ganha-pão. Ele próprio diz que queria ter feito faculdade de Belas Artes, mas acabou optando por design gráfico para manter seu sustento:
"Fiquei dois anos trabalhando numa empresa, criando conceitos pra marcas e empresas. Não que eu não gostasse do que eu fazia, mas não era realmente o que eu queria. Eu comecei a fazer como hobby. No Brasil infelizmente a arte é hobby. Que bom que acabou funcionando a ponto de eu ter que sair da empresa pra me dedicar só aos quadrinhos."
O ilustrador aconselha quem quiser seguir esse rumo a não largar o emprego, nem desistir de sua arte. Para ele, uma boa opção é começar como hobby e manter o emprego enquanto a arte não "vinga".
"Esse evento é fundamental para estimular o jovem a não ter medo de encarar a vida artística. Mas também pra mostrar que a vida não é Disney. Não largue tudo para fazer o que você ama, mas por que não fazer os dois?" - finaliza Ruas.
Cah Poszar
A jovem já é figura cativa da CCXP - é sua quarta vez no evento. Nesse ano, ela trouxe várias novas obras para expor.
A vontade de trabalhar como quadrinista também vem de uma paixão antiga:
"[Começou] Desde criança, quando eu assistia 'Cavaleiros do Zodíaco', 'Sakura Card Captors' e depois com a chegada dos mangás impressos. Foi a partir daí".
Caposa acha que a CCXP é um dos melhores eventos do ano porque traz maior visibilidade do público pra sua obra. Além disso, elogia a troca que rola entre os expositores.
Quando perguntamos se ela tinha alguma dica pro pessoal que quer começar agora, ela já foi logo mandando a real.
"Fácil nunca é, né? Mas com certeza é mais fácil do que há dez anos atrás. Já tô há bastante tempo nessa área, então é mais fácil e mais acessível agora, mas não como as pessoas acham. Exige dedicação e tempo - MUITO tempo", concluiu a jovem.
Depois desse papo inspirador, a gente até entende porque a Artists' Alley é realmente o coração da CCXP. <3