Por que festivais são tão maneiros? Cidade Negra e Digital Dubs decifram
Da atmosfera única ao setlist especial, os ingredientes da fórmula mágica que nos vicia
Publicado em 09/2017
Sabemos que, assim como nós, você é apaixonado por festivais. Depois de participar do primeiro, não consegue mais parar e, se for preciso, atravessa mares, oceanos, continentes e vai até o Japão atrás deles. Mas qual é a mágica que nos vicia? Toni Garrido, do Cidade Negra, e Marcus Menezes, do Digitaldubs, dois veteranos de festivais ao redor do mundo, nos desvendaram, nos bastidores do Palco Sunset do Rock in Rio.
“Cada festival tem uma vibe diferente. Primeiramente, tem um lance de troca com os outros artistas, porque uma coisa é o show de uma banda e a outra é ir pra uma noite com vários artistas. Rola uma interatividade, uma troca de público, pessoas que querem assistir outros artistas acabam te vendo. O Rock in Rio, especificamente, é um festival que tem uma visibilidade que não tem igual. Não só no Brasil como no mundo. Essa parada de televisão, de rádio, essa cidade meio que para pra todo mundo falar sobre isso. Então, rola uma energia diferente”, explicou Marcus.
E Toni Garrido não só concordou como foi além: “Na semana passada, o show do Chic foi um delírio. E comentei que num show comum, só do Chic, jamais teria esse delírio. Isso é coisa de festival, porque é como se tivessem preparando um espaço pra coisas que só acontecem ali, quando pessoas com uma ideologia muito legal se juntam, independente da idade. É amor livre, é paixão livre, é esse tipo de coisa, essas relações fortes que você não pensa, mas todas amorosas, todas felizes, extremas. Isso só acontece em festival, é um ambiente mágico. Festival é uma universidade. É que nem ter a sua sala de aula com a sua turma, que faz parte de um universo, mas quando você sai pro campus e encontra com todas as outras áreas, todas as outras profissões, você vê o universo que existe”.
Essa troca especial se estende ao backstage, onde os camarins dos artistas são montados ao redor de uma área de convivência comum. No caso do palco Sunset do Rock in Rio, é tipo uma pracinha colorida com sorvete liberado e open bar, onde a galera socializa até tarde, mesmo depois do último show. Foi nessa área comum que Toni Garrido tietou Cee Lo Green, por exemplo, responsável pelo incrível show de encerramento do sexto dia de Sunset.
“Olha, é uma parada. Você vê os seus ídolos passando, tem hora que vira fã e vai pagar de groupie. Eu sou tímido pra pedir foto, fico sem graça, mas uma vez, estava no festival Rototom Sunsplash, na Espanha, e vi um dos meus ídolos pedindo foto com outro ídolo, aí desencanei! Hahaha Era o Mark Iration, do Iration Steppas, um soundsystem da Inglaterra, tirando foto com o Big Youth, um cantor jamaicano. Aí eu aproveitei e tirei foto logo com os dois”, contou Marcus.
As particularidades responsáveis pelo tom mágico e viciante de festivais também entram na lista de responsabilidades e desafios dos artistas. Por conta da mistura e pluralidade de pessoas que assistem aos shows, é preciso subir ao palco com um setlist preparado para agradar tanto os fãs fervorosos quanto aqueles que nunca os tinham escutado antes – e torcendo parar que esses se tornem fãs a partir de então.
No show que Cidade Negra e Digitaldubs fizeram juntos, essa tarefa estava ainda mais potencializada, já que era uma homenagem a Gilberto Gil na onda do dub e do reggae. “A gente não podia errar Gil. Não poderíamos deixar uma música do Gil ruim, todas elas são maravilhosas e perfeitas”, disse Toni, ainda sob os efeitos da tensão de apresentar um show inédito para um público de 70 mil pessoas – o que é “uma grande loucura”, como ele definiu.
“Ensaiamos no máximo 10 vezes juntos. Claro que nos preparamos, cada um fez seu dever de casa antes de chegar nos ensaios. Eu sou muito fã do Gil, ele e o Jorge Ben são meus artistas brasileiros favoritos de todos os tempos, então ficamos semanas mergulhando na discografia dele, estudando, montando um repertório e ajustando o que faríamos juntos ou seria mais do Cidade Negra ou nosso”, explicou Marcus, que incluiu no repertório um remix de “Refavela” que fez há 10 anos e ainda aproveitou para selecionar alguns samples para os próximos bailes do Digitaldubs.
A julgar pelos elogios que Toni e Marcus receberam na pracinha do backstage, estudaram direitinho e conseguiram recriar aquela mágica que nos vicia em festivais. Missão cumprida.