O Lollapalooza não tem gênero
É menino? É menina? Não faz a menor diferença
Publicado em 03/2016
O enorme letreiro com a palavra "Diversidade" estampada num dos gramados do Autódromo de Interlagos ilustrou bem o clima do Lollapalooza 2016. O conceito de fluidez de gênero já é mais do que familiar para a geração que nasceu na década de 1990 e que lotou o festival para ver Die Antwoord, Marina and the Diamonds e Tame Impala. E muitos fãs de música se sentiram livres para usar looks inspirados no genderfuck - palavra criada para definir quem, propositalmente, insere no seu visual elementos tradicionalmente utilizados por ambos os sexos, deixando os mais caretas bem confusos. É menino? É menina? Esse tipo de pergunta não poderia estar mais datado em pleno 2016, e essa galera com quem a gente conversou fez questão de deixar isso claro.
Pablo Urias, 21 anos, estilista (Uberlândia, MG)
"Estou para lançar uma linha de roupas toda inspirada no genderfuck. É tão antigo pensar que uma peça foi feita só para homens ou só para mulheres usarem. Peças de roupa não têm gênero. O look que escolhi para o Lolla fui eu que criei, pensando em conforto. Já tenho vendido peças para os meus amigos e acredito que a onda vai pegar".
Rafael Holland, 20 anos, estudante de Cinema, Artes Dramáticas e Maquiagem (Piracicaba, SP)
"Me visto dessa forma no dia a dia, mas sempre pegando referências de vários estilos: um vestido vintage, um colar gótico. O legal é misturar. Esse vestido, por exemplo, comprei especialmente para o Lolla no brechó de um amigo. Queria algo bem confortável e que não fosse pesado. Na hora de me arrumar só quero encontrar algo que fique bem em mim, não importa que tipo de peça".
Ágatha, 17 anos, estudante de Letras (Juiz de Fora, MG)
"Adoro a vibe gótica, então sempre me visto em tons escuros: preto, marrom... Muitas botas e alguns acessórios. Minhas maiores inspirações são as musas da música, como Lady Gaga, Lana Del Rey e a Alice Glass, vocalista do Crystal Castles. Me sinto super bem usando saia comprida. Para a make, pego dicas em tutoriais do YouTube e vou treinando".
David Sanches, 18 anos, estudante de Ciências Biológicas (São Paulo, SP)
"Uso o estilo genderfuck no dia a dia, mesmo ouvindo gracinhas ou até xingamentos no metrô. As pessoas precisam se acostumar a ver pessoas como nós na rua, então temos que enfrentar as hostilidades mesmo. Até porque essas pessoas só têm duas opções: aceitar ou aceitar. Ah, ando me inspirando muito no Liniker, um cantor aqui de São Paulo que eu adoro".
Yuri Alencar, 19 anos, estudante de Publicidade (Barueri, SP)
"Peguei cada peça do armário de uma amiga diferente e juntei. Não costumo ter coragem para sair vestido assim na minha cidade, Barueri, porque as pessoas me olhariam torto, então aproveitei o clima de liberdade do Lolla para ousar. Todos aceitaram super bem. Aliás, usar saia é maravilhoso. Todo homem deveria testar".