Mulheres que fotografam: Anne-Laure Etienne

Nesta edição, o Mulheres que Fotografam está très chic. Carimbamos nosso passaporte (figurativamente falando, quem dera fosse literalmente) e chegamos até a França! Eu disse que estamos très chic. Numa dessas andanças pela internet, demos de cara com o trabalho de Anne-Laure Etienne e, na hora, bateu o comichão de tê-la nesta seção, que exalta o trabalho de incríveis mulheres que arrasam nas lentes. E não é que ela topou? <3

Anne-Laure é mestre em criar imagens surrealistas instigantes e inspiradoras, brinca de mostra e esconde com mil recursos (e cores) para induzir interpretações sobre o que está por dentro - as nossas emoções. Em poucas palavras: são fotos bonitas pra caramba. Desce aí pra ver!

Para ver as outras mulheres que já passaram por esta seção, é só clicar aqui. E, ah, um teaser: o Mulheres que Fotografam vai viajar muitão nos próximos meses - mas aqui pelo Brasil mesmo. ;)

Quando você começou a fotografar? O que despertou a vontade de trabalhar com fotografia? Comecei a fotografar quando tinha uns 17 anos. Naquela idade, senti a necessidade de expressar emoções fortes. A fotografia foi a minha saída, uma forma de me livrar das minhas dificuldades.

Chegou a trabalhar (ou ainda trabalha) com outra coisa além de fotografia? O quê? Sim, claro. Eu amo cortar e colar, pintar e desenhar. Também uso muito o scanner para fazer imagens surrealistas. 

Fez algum curso ou aprendeu a fotografar sozinha? Estudei fotografia por dois anos. Foi basicamente para ter o diploma e poder trabalhar por conta própria. Não gosto de escolas, não gosto de me sentir limitada numa estrutura hahaha.

Qual equipamento você usa? Tenho uma câmera digital bem simples, trabalho com a Nikon D7100, com uma lente 50mm na maior parte do tempo e uma 14mm da Samyang. Também tenho uma Canon AE1, básica, mas eficiente.

O que você mais curte fotografar? O ser humano, acima de tudo. E seus estados de espírito. Às vezes eu queria fotografá-los por dentro, pela sua complexidade.

Tem algum projeto pessoal de fotografia? Qual? Sim, vários. A maioria dos projetos é parecida e se reúnem mesmo se as imagens são diferentes. Sempre trabalho com o ser humano e as relações que ele mantém com o ambiente, seu cotidiano, seu cenário e seu espaço. Gosto de falar sobre a adaptação do que estou fotografando, seja ela mental ou física. 

Diz aí quem são as mulheres que influenciam o seu trabalho. A melhor, mais talentosa e mais influente fotógrafa é Francesca Woodman. A relação dela com ela mesma, com o mundo que a rodeia, com o corpo, com sua desordem interior. O trabalho dela é simplesmente impressionante. Apesar da carreira curta, seu trabalho continua tendo uma enorme influência na fotografia contemporânea. 

Por que é importante termos mais mulheres trabalhando com fotografia em todo o mundo? Pela gentileza, delicadeza, benevolência, paciência e determinação. 

Vi várias matéria sobre seu trabalho e todas ressaltavam que você é uma “jovem fotógrafa”. Quantos anos você tem? 26 :)
 
Senti que você gosta de esconder o rosto e/ou corpo feminino nas suas fotos, seja com tecidos, roupas ou capturando apenas detalhes que não incluem o rosto. Por quê? Nas minhas imagens, o vestuário representa a tecelagem e traduz uma anatomia misteriosa da mulher. Assim como as aranhas, o ser humano constrói sua teia ao redor de si. É uma mudança de seres contínua e universal, dada a infinita variedade de formas, que ele criou para trazer à tona sua própria essência. Foi aproximando-se da performance que as imagens foram criadas.
Aqui, o tecido é associado ao ser, e a forma como é vestido foi desviada de sua função original. O rosto está escondido para absorver o que não pode ser visto. Essas imagens questionam o invisível de nossos estados mentais, como uma tradução dos impulsos de nossas almas, entre a representação de nós mesmos e a projeção imaterial. 
Rostos escondidos me permitem revelar sentimentos através de outros códigos.

Suas imagens têm uma pegada surrealista. Quais são seus truques e recursos favoritos para criar esta atmosfera? Esconder e revelar, brincar com contrastes, desestabilizar o espectador através de brincadeiras com gestos e posições, com o corpo feminino ou masculino, brincar com desordens, associações. Esconder os rostos para não saber se a pessoa fotografada é um homem ou uma mulher, mostrar a beleza em todos os lugares, julgar não apenas o aspecto físico do rosto.