Seis anos de Novas Frequências em cinco noites marcantes
A um mês da sétima edição do festival, o curador Chico Dub faz uma retrospectiva
Publicado em 11/2017
O fim do ano não tem apenas som de “Jingle Bells” e “Noite Feliz”, tem também o barulhinho bom de descobertas musicais mil. Afinal, é época de Novas Frequências, o principal evento internacional de música experimental e explorações sonoras da América do Sul, que dá o start em sua sétima edição no dia 4 de dezembro.
Criado pelos produtores culturais Chico Dub e Tathiana Lopes, o festival transforma o Rio de Janeiro num hub fervilhante de criatividade sonora com atividades espalhadas por vários pontos da cidade - rolam festa, shows, debates, oficinas, instalações e performances resultantes de residências artísticas. Neste ano, a programação se dividirá entre o Teatro XP Investimentos, no Leblon, a Audio Rebel, em Botafogo, a Sala Mário Tavares, no Theatro Municipal, a Igreja do Carmo da Lapa do Desterro, na Lapa, e mais uma locação surpresa, guardada a sete chaves.
Um dos mandamentos do Novas Frequências é fazer apenas apresentações inéditas no país e, no caso dos artistas brasileiros, a curadoria seleciona apresentações que ainda não aterrissaram no Rio. Por enquanto, já tem gente de malas prontas vindo direto do Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Canadá, Holanda, Áustria e Suíça.
Mas, calma, ainda vamos falar bastante da próxima edição por aqui. Pra entrar no clima de aquecimento, convidamos Chico Dub para eleger seus cinco momentos mais marcantes dos seis anos de história do Novas Frequências, tipo pai emocionado vendo o álbum de fotos do filho.
1) O primeiro show do festival: Sun Araw, em 2011
Seria impossível começar esta lista sem citar o drone rock do Sun Araw. No dia 07 de dezembro de 2011, no palco do Oi Futuro Ipanema, esses californianos psicodélicos e ultra chapados davam o start geral da nossa programação; a primeira página do livro de nossas vidas.
2) A primeira festa, em 2013
O formato descentralizado que hoje todos já conhecem teve início em 2013, quando criamos junto com o British Council uma programação especial dentro do festival. O "Talking Sounds" não só viabilizou os tradicionais shows no Oi Futuro Ipanema, como também uma rodada de discussões sobre música e processo no POP - Polo de Pensamento Contemporâneo e uma festa no La Paz. Absolutamente desorientadora, arrisco dizer que foi nossa festa mais louca, principalmente por conta dos lives fora da curva de Heatsick, Miles (metade do Demdike Stare, que também tocou no OFI) e Lee Gamble. As fotos não mentem! :)
3) Aki Onda e Philip Jeck, em 2014: nossas primeiras residências artísticas
Uma residência artística com o objetivo de pesquisa e criação de uma obra inédita site specific potencializa, enriquece, amplia, o formato de qualquer festival de vanguarda. Nossas primeiras experiências deste tipo começaram em 2014, quando recebemos o japonês residente de Nova York Aki Onda e o inglês Philip Jeck. Propositalmente, ambos trabalham com mídias reprodutoras de som - respectivamente walkman/fita cassete e disco de vinil/toca disco - com o objetivo de ressignificar suas funções originais.
Aki Onda ficou uns 10 dias no Rio e visitou a Maré, Floresta da Tijuca, Lagoa Rodrigo de Freitas, ateliês de artistas, a Saara e diversos outros pontos de interesse em busca dos sons da cidade. A partir desta coleta, criou uma peça/composição para o OFI.
Philip Jeck fez algo parecido, só que com discos de vinil brasileiros encontrados em lojas, sebos ou mesmo dados por artistas próximos. Para sua performance ao vivo, trouxemos o quarteto Rádio Lixo para uma colaboração especial.
4) Um festival dentro do festival: Tunga, em 2015
Em 2015, ocupamos o galpão/ateliê do Tunga, na Barrinha, com uma espécie de festival dentro do festival. A cada dia, um artista diferente (Ava Rocha, Lucas Santtana, DEDO, Lilian Zaremba, Luísa Nóbrega, Barrão, Félicia Atkinson...) desenvolveu um diálogo com a instalação "Delivered in Voices" - justamente a primeira obra sonora da carreira deste que foi um dos gênios máximos da nossa arte contemporânea. Infelizmente, foi o último trabalho de Tunga, que sucumbiria meses depois vítima de um câncer.
5) Ocupação do Galpão Gamboa, em 2016
Só neste dia, ocupamos o Galpão Gamboa com 20 atrações em uma programação de (!) 16 horas. Rolou um pouco de tudo: shows, performances, lives, DJ sets, instalações sonoras e até mesmo uma rodada de negócios, onde colocamos lado a lado curadores e diretores de festivais europeus com a cena local em busca de trocas e parcerias. Mesmo com a chuva apocalíptica que caiu logo no início da nossa festa, foi uma experiência memorável!