Como é ser um jovem que trabalha na ONU?
Vinicius Haesbaert, Assistente Sênior de Proteção do ACNUR, conta como é seu trabalho com refugiados na Organização das Nações Unidas
Publicado em 06/2017
O que você escreveria hoje naqueles cadernos de perguntas dos seus amigos no item “O que você quer ser quando crescer?”. E se soubesse que é possível trabalhar na ONU criando estratégias para mudar a vida de refugiados, tem certeza que daria a mesma resposta? “Ah, tá bom, dá pra trabalhar com isso, mas só quando eu tiver uns 50 anos e for cidadão dinamarquês.” Nada disso, queridinho. O Vinicius Haesbaert, brasileiríssimo na certidão de nascimento (apesar do sobrenome complicado) e há 29 anos nesse mundão prova que não só é possível como é muito maneiro.
Na adolescência, nem ele mesmo cogitava trabalhar na ONU. Queria mais era estudar teatro, desenhar, escrever poesias e sonhar com castings pra “Malhação”. “Sempre fui um cara das artes, curioso e sensível, genuinamente interessado no outro, no humano, com essa sede em ter contato com realidades e culturas diferentes. Decepcionei minha mãe ao desistir de prestar vestibular para Desenho Industrial. Sempre amei criação e design, mas seguir essa jornada seria muito óbvio para mim. Cursei Direito para poder ser capaz de não só entender e defender a realidade de outras pessoas, mas de também empoderá-las pra isso”, conta o carioca de Madureira, que cogitou ser diplomata e foi estudar na Universidade de Brasília - "mesmo que sempre meio fora da caixa, meio Elle Woods (de "Legalmente Loira")".
Depois de vários estágios com causas sociais, Vinicius se encontrou no direito internacional dos refugiados e, já mais certo do que queria, fez mestrado em Estudos Sobre a Paz & Conflito na Universidade de Uppsala, na Suécia. Ironicamente, foi no país com maior proporção de solteiros da Europa que ele conheceu e casou com o amor de sua vida, o fotógrafo Olle Eriksson - que fez essa foto bonitona dele aqui embaixo.
As andanças de Vini pelo mundo começaram aos 19 anos, quando decidiu trabalhar como garçom em Nova York. Desde então, ele já morou em nove países! “Queria estar mais perto de universos completamente diferentes do que eu estava acostumado e, ao mesmo tempo, ir montando um currículo internacional”, explica. Rolou intercâmbio em Paris, mochilão de dois meses na Tailândia, trabalho com o tribunal do genocídio no Camboja, com a reconstrução do poder judiciário do Kosovo e com a Corte Suprema do Chile.
Cada um desses carimbos no passaporte contribuiu, de alguma forma, para a entrada na ONU. A relação dele com a Organização das Nações Unidas nasceu em 2010, quando foi aceito para um estágio não remunerado, como todos os estágios da ONU, no escritório do ACNUR (a Agência da ONU para Refugiados) em Brasília.
“Depois disso, investi muito tempo, energia e todas as minhas economias em oportunidades que me tornassem mais próximo da descrição dos requerimentos das vagas. Determinação, proativismo, adaptabilidade e sacrifícios. Enquanto vários amigos do Direito já tinham passado em concursos públicos, eu trabalhava meio período com tradução e cafés para pagar as contas na Suécia. Cheguei a vender um livro auto-publicado de poesias para ter fundos para me sustentar no Chile”, recorda. Depois de ter ganhado uma boa bagagem de experiências, finalmente foi recrutado para trabalhar no escritório de campo do ACNUR em São Paulo, onde está há dois anos e meio.
Atualmente, Vinicius é Assistente Sênior de Proteção do ACNUR e trabalha com assuntos mais jurídicos, tipo documentação e acesso a direitos, mas também com a criação de soluções para a integração dos refugiados nessa nova realidade, no caso, São Paulo e o Brasil. O papel da agência aqui é apoiar o governo brasileiro, ONGs e academia para fortalecer a proteção e integração de refugiados no Brasil, além de trabalhar muito com a sensibilização e engajamento do público em geral sobre o tema do refúgio. Na próxima semana, ele se muda para a Dinamarca, onde trabalhará em uma nova posição no escritório de lá.
Se ainda não deu pra sentir a paixão dele pelo trabalho, deixamos que ele mesmo explique: Vini, por que é tão legal trabalhar na ONU e com refugiados? “Trabalhar na ONU é incrível porque trabalhamos com a construção de pontes. Trabalhar no ACNUR é trabalhar com pessoas que foram forçadas a deixar tudo para trás por motivos de perseguição ou conflito. É um exercício diário de empatia e humanidade. Sempre tive o sonho de conhecer o mundo, mas com o refúgio descobri que o mundo vem até você, por um fator humanitário. Imagina ter que recomeçar sua vida do zero porque seu país está em guerra, porque você é perseguido por ser exatamente quem você é? A resposta para essa pergunta está muito além da nossa compreensão comum. Amo trabalhar com refugiados porque amo trabalhar com pessoas e criar ponte entre elas. E acredito plenamente que todas as pessoas têm algo a oferecer e a ensinar.”
Pronto, agora já você pode dizer que conhece um cara que trabalha na ONU - e que ele gosta de escutar Robyn que nem você.
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