Profissão: Fotógrafo Oficial do Seu Ídolo
Como é o trabalho dos fotógrafos que dividimos com artistas queridos
Publicado em 03/2018
Além de estarem preparados para serem fotografados por várias pessoas e aparecer em veículos e redes sociais de todo o mundo, cantores sobem ao palco com a sua própria equipe, como você sabe. Mas entre todo esse time, muitos também têm os próprios fotógrafos, responsáveis por criar a imagem que o artista quer divulgar de si mesmo - e, muitas vezes, esses profissionais não ficam só no registro da turnê e também participam da construção de imagem de vários produtos, como álbuns, clipes e editoriais.
E, veja só, temos alguns desses sortudos na nossa equipe - eles, inclusive, fizeram dupla jornada no Lollapalooza. Além de amigo pessoal dos integrantes da banda, Francisco Costa acompanhou e registrou a Ventre por muitos anos, Filipe Marques acompanha (e mora!) com Marcela Vale, a Mahmundi, e Wilmore Oliveira é o fotógrafo real oficial de Marcelo D2 - que não participou dessa edição do festival, mas tá sempre por aí.
Para mostrar como funciona esse trabalho, conversamos o trio e fizemos aquelas perguntas que todo mundo gostaria de saber. E aproveitamos pra deixar a dica: manda uma DM pro seu ídolo, vai que essa relação de admiração também vira profissional?!
Francisco Costa e a Banda Ventre
Quando você conheceu a Ventre e como começou a trabalhar com eles? Em 2012, eu conheci a Larissa Conforto e o Gabriel Ventura e eu os acompanharia no Lollapalooza como VJ. Acabou não rolando e esse foi o último show deles na banda Tipo Uisque. Um tempo depois, ouvi que eles estavam juntos com um projeto novo chamado Ventre. E fotografei o primeiro ou segundo show deles. Depois nos encontramos algumas vezes e sempre foi uma experiência muito boa.
Qual a parte mais maneira de ser o fotógrafo oficial de um artista? Acho que todas as vezes que fotografei para eles foi de uma forma muito envolvida e apaixonada. Eu tenho uma relação de muito carinho com o Gabriel e a Larissa, e depois de me aproximar do Nogushi também desenvolvi um carinho muito especial por ele. Logo, todas as vezes que estivemos juntos com uma câmera entre a gente foi muito especial. Acho, então, que uma das partes mais maneiras é se aproximar dos seres humanos e entender que a vida e a produção artística estão muito conectadas e convivendo de uma forma muito maneira.
Existe diferença na entrega que você faz quando está cobrindo um show pro artista e de quando está cobrindo pro I Hate Flash? Qual? Acho que a diferença é a dedicação. Normalmente, eventos ou apresentações que o I Hate Flash cobre e nos quais uma banda toca, têm outras coisas na programação. Também existem questões de logística, nós fotografamos uma parte do show e corremos para entregar o material. Quando se está fotografando para a banda, podemos ver o show, tem partes que já sabemos como serão e muitas vezes somos surpreendidos mesmo sabendo o que rola.
Como essa experiência influenciou o seu trabalho e o fez evoluir? Cara, conviver com essas pessoas, dar e receber carinho e ver isso rolando no palco é uma influência e evolução muito fodas. De alguma forma toda essa sensibilidade do artista te contagia. E eu tenho gostado muito de pensar nessa lógica da vida que se estabelece por contágio. Outra parada que é muito contagiante nesse sentido é o engajamento dos artistas em causas para além da banda. A Lari se relaciona com vários projetos maneiros, como um acampamento para meninas terem uma imersão musical, a militância do lugar das mulheres na música e na bateria, entre outras coisas. Repensar a cena, repensar os modelos e o que a gente retrata e quer retratar. Acho que é a relação humana que muda tudo mesmo.
Como é fazer parte da construção da identidade do artista? Eu tenho essa frustração de nunca ter conseguido pensar junto com eles umas fotos para divulgação da banda, nas quais eu conseguisse mostrar um pouco desse processo. Acabou que muitas coisas aconteceram e fomos andando com as coisas. Mas sempre me emociono quando vejo eles postando uma foto que fiz ou quando algum fã da banda o faz. É muito bom ser a imagem que retrata algum sentimento ou algo que faz as pessoas exprimirem outras coisas com ou através daquilo.
Filipe Marques e Mahmundi
Quando você conheceu a Marcela e como começou a trabalhar com ela? Eu conheci a Marcela porque começamos começou a morar juntos, no ano passado, depois que ela voltou a morar no Rio. Antes, era só um aceno pra cá, um oi pra lá quando eu ia fotografar os shows dela ou quando a gente se esbarrava em algum evento. Com a convivência, a gente começou a somar muito, conversar muito e percebemos que completamos muito as ideias um do outro. O trabalho veio organicamente, ela me convidou e eu aceitei o desafio.
Qual a parte mais maneira de ser o fotógrafo "oficial" de um artista? A troca é sempre o que me emociona, poder conhecer novas formas de ver as coisas. No meu caso, não é só sobre ser fotógrafo oficial, mas sim sobre poder absorver com uma pessoa e equipe tão ricas. Conhecer pessoas novas, crescer como profissional, ir em uns lugares que eu nunca pensei em estar, muita coisa. Mas parte mais maneira é estar com pessoas legais e que me fazem evoluir sempre.
Existe diferença na entrega que você faz quando está cobrindo um show pro artista e de quando está cobrindo pro IHF? Qual? A diferença é basicamente o tempo, não o do cronômetro, mas o tempo que você se permite ter pra querer saber o que aquele artista realmente é e o que ele precisa. Quando você tem tempo pra conhecer um artista e se envolve com ele, a procura passa a não ser mais uma foto foda, bem feita e bem executada, mas sim sobre conseguir no clique acessar o que o artista tá passando, quase uma extensão da música.
Como essa experiência influenciou o seu trabalho e o fez evoluir? Essa é difícil, porque me influencia em tantas partes e evoluí meu trabalho em tantas coisas que nem sei por onde começar. Não é só sobre evoluir no trabalho, mas evoluir como ser humano, com isso, evoluir no trabalho é consequência.
Como é fazer parte da construção da identidade do artista? Sempre um desafio com muito trabalho. Estar presente nessa construção que emociona, que toca tanta gente pelo mundo, é demais, mesmo.
Wilmore Oliveira e Marcelo D2
Quando você conheceu o D2 e como começou a trabalhar com ele? O conheci de forma bem profissional mesmo, que foi o meu primeiro contato pessoal com ele além de só vê-lo em shows e etc. Fui fazer umas fotos dele para uma matéria, depois da publicação do material, eu postei no meu Instagram uma foto e ele me seguiu. Daí uns quatro meses depois ele me mandou uma mensagem no whatsapp falando que curtiu meu trabalho e se rolaria uma reunião pra gente falar de trabalho. Depois disso, até hoje não deixamos de trabalhar juntos hahaha.
Qual a parte mais maneira de ser o fotógrafo "oficial" de um artista? Então, eu demorei um pouco pra entender essa função, mas hoje em dia eu prefiro pensar de forma muito artística e documental nisso tudo. Eu por um lado ainda não perdi o olhar deslumbrado de fã, porque ainda prefiro sempre ver as coisas pelo lado da oportunidade de conviver com um ídolo e guardar um material que no futuro poderei mostrar o quanto foi importante na minha vida. Todo dia eu aprendo um pouco mais trabalhando com alguém que já tá nesse ritmo há muitos anos.
Existe diferença na entrega que você faz quando está cobrindo um show pro artista e de quando está cobrindo pro IHF? Qual? Acho que essa questão pode valer pra qualquer outro artista também, mas a partir do momento que a relação do fotógrafo e o artista fica mais próxima, fica muito difícil diferenciar de um trabalho mais formal com algum artista que não temos a devida abertura de trabalho.
Como essa experiência influenciou o seu trabalho e o fez evoluir? A questão da quantidade de olhares que estão em meu trabalho. Todas as vezes que eu passava as fotos pra ele, eu imagino o que as pessoas irão pensar, na história por trás da imagem, e isso foi pesando cada vez mais no meu resultado final. Acho que foi um grande gás pra me fazer evoluir.
Como é fazer parte da construção da identidade do artista? Esse é mais um ponto onde entra a aproximação com o artista, tudo envolve muito a questão da confiança que ele tem em mim. Conforme o tempo foi passando, entendemos que tínhamos vários gostos parecidos, curtimos bandas parecidas, e então fazer a imagem dele estar envolvida às coisas que ele gosta acabou que igualou ao que eu penso, mas claro que entram também as coisas que eu vou fazendo do meu estilo, até pra diferenciar o lado artístico dele do meu. Penso que isso tudo acontece graças a uma grande e eterna colab de trabalhos hahahaha, ele precisa do meu e eu preciso do dele, então a gente une isso da melhor maneira possível.
Como é trabalhar com seu ídolo? É engraçado ver o giro que o mundo dá, porque eu sempre me pego pensando na época que eu ouvia uma fita K7 pirata do Planet Hemp no walkman e hoje posso fazer parte e saber de várias histórias que um ídolo vive. Saber que o trabalho que eu tô fazendo vai ter uma importância pra esse idolo também me faz pensar o quanto isso é louco. Sei lá, não tem uma definição específica na mistura de sensações que é poder ter um trabalho assim. Acho que é só quem passa que vai saber hahahaha.