Feira Plana dá um pulo no vão da Bienal
Evento para publicações independentes fará sua maior edição em 2017
Publicado em 06/2016
Em janeiro, foram 140 expositores mostrando suas obras, projetos e propostas no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo. Com quatro edições na bagagem, a Feira Plana, inspirada na New York Art Book Fair, de longe, já se configura como a maior reunião brasileira de livros, zines, catálogos e periódicos criados por editores e artistas independentes. Mas amanhã, ou melhor, ano que vem vai ser maior... Quem garante é a idealizadora do evento, Bia Bittencourt, em conversa com o I Hate Flash. Perguntada sobre o quanto a Feira Plana cresceu desde seu nascimento, a curadora disparou: “Estamos mudando para o pavilhão da Bienal, portanto... Um bocado”.
Filha de bancário e professora, Bia, aos 31 anos, tem no passado uma formação técnica no colegial. Mas o tempo, sempre ele, foi carregando-a para o mundo das artes. Hoje, mantém firme e (como podemos ver) forte a ideia de tocar em frente seu levante artístico independente. Confira nosso papo sobre seu passado, seu processo criativo e as dificuldades para dar visibilidade aos nomes independentes.
I Hate Flash: Todo mundo te conhece pelo trabalho na Feira Plana, mas a gente queria que você falasse um pouco da sua relação com as artes, processos de criação e um pouco de como você entrou nisso.
Bia Bittencourt: Eu estudei em uma escola que tinha colegial técnico. Minhas opções eram eletrônica ou economia, escolhi economia. Foi divertido, entretanto não lembro de mais nada. Na hora de escolher um curso pra fazer na faculdade, prestei para artes. Na verdade, tentei outras coisas como arquitetura e publicidade também (era o curso da moda na época), mas acabei indo mesmo para as artes. Depois fiz um mestrado em cinema, quando eu já trabalhava na MTV e me interessava pelo audiovisual. Uma baita confusão. Sobre meus processos de criação: já foram de várias maneiras. Na verdade, acaba sempre sendo meio intuitivo. Já desenhei muito mais, pintei, fiz algumas exposições, instalação e até performance, mas agora me afastei bastante dos cubos brancos e do mercado tradicional da arte para me dedicar às produções de eventos relacionados à arte independente e artistas no começo da carreira, além de curadoria. Mantenho a fotografia constante na minha vida. Acabou sendo a ferramenta com que mais me dei bem. Ando com uma snapshot sempre na bolsa e fotografo. Publiquei dois livros de foto já!
Como você se inspira para os seus trabalhos? Quem são as pessoas que te tocam?
Os lugares me inspiram, os objetos, o silêncio, o abandono, o acúmulo, a poeira, a noite, os segredos, as coisas guardadas e escondidas, pequenos monumentos em lugares errados.
O que te faz sacar a sua snapshot?
(foto abaixo)
Como é transitar entre o impresso e o video? Como que uma coisa ajuda e atrapalha a outra?
Separo bem, hoje em dia. O vídeo é trabalho, gosto e faço com gosto quando não se trata de publicidade ou comércio. Trabalho com documental e jornalismo, portanto produzo conteúdo, o que me deixa mais aliviada. Mas isso é uma janela do dia que me ajuda a pagar as contas (inclusive as da Plana). O impresso é meu lado pessoal e meus projetos, me dedico a tudo paralelamente e as coisas não se misturam.
Qual foi o barato que você encontrou no trabalho de curadoria e de encontrar artistas novos?
É um mix de sentimentos. Tem um lado maravilhoso da descoberta e da eterna busca, uma inquietude inexplicável e surpresas sempre. Mas tem um lado ascendente do apego. Preciso aprender que não sou dona de nada e que os artistas vão para o mundo depois que eu os encontro. E eles vão esquecer de mim, sim!
Dá uma ideia de quanto a Plana cresceu ao longo do tempo?
Estamos mudando para o pavilhão da Bienal, portanto... Um bocado.
Quais as maiores dificuldades de se trabalhar com publicações independentes?
Acho que as dificuldades não estão exatamente nas publicações, mas em tudo o que envolve o trabalho de produção. Levantar dinheiro para estruturar tudo é um perrengue. Parece que é simples, mas cada ano é uma surpresa, e surgem novos problemas. Claro, dinheiro é sempre um problema no século XXI. Produzir o evento também é me magoar com os reclamões e insatisfeitos, pois é tudo muito tête-à-tête, e cada cara feira é um buraquinho no meu coração. E, principalmente, é difícil lidar com o vazio que é todo ano não saber o que esperar nem como prever o que vai acontecer. A Feira Plana é um pulo no vazio.
Fala um pouco sobre a Casa Plana e tudo que vai rolar?
A Casa Plana é o espaço cultural da Feira Plana. A casa está localizada no centro de São Paulo, no prédio O Farol, conhecido por articular projetos artísticos e culturais como A Balsa, o Fluxo e a bilbioteca da Choque Cultural. A Plana lançou um financiamento coletivo no Catarse para levantar fundos que ajudarão a manter a casa em pé e poder oferecer cursos, oficinas e residências, além de atividades gratuitas, todas focadas na criação e edição dos seus próprios livros. Os próprios cursos do segundo semestre são as recompensas, além dos livros das residências passadas, futuras e grupos de estudo. A abordagem é sempre ao redor do universo editorial com profissionais como Elaine Ramos (ex-Cosac Naify), Celso Longo (designer), Paulo Werneck (curador da Flip), e Clara Averbuck (escritora), a editora Meli-Melo Press, a produtora gráfica Aline Valli e A Escola Livre.