Três fotógrafos de rua contam o que aprenderam nos corres
Um gostinho do que Henrique Thoms e Vtao Takayama falaram no Pixel Show
Publicado em 12/2017
Pra uns é só apontar e clicar, pra outros rola uma observação, análise e conversa antes do clique. A verdade é que a fotografia de rua não tem fórmula secreta, mas rolam algumas dicas e toques para te ajudar a encontrar a sua própria fórmula - e foi sobre isso que Henrique Thoms e Vtao Takayama falaram no Pixel Show, no último domingo (3), em São Paulo.
Na programação de um dos maiores eventos criativos da América Latina, o trio comandou uma mesa sobre fotografia de rua e linguagem e, é claro, também clicou um pouco. Vtao não conseguiu se segurar e levou a câmera para fazer as fotos deste zine, que também ilustram bem como é o corre da fotografia de rua e a linguagem própria que ele desenvolveu.
Sem mais delongas, Thoms conta pra gente como foi a experiência de falar no festival e também dá uns toques pra quem quer começar a se aventurar no asfalto. Ah, pra acompanhar o trabalho deles é só ficar ligado no @henriquethoms, @vtao e aqui no I Hate Flash, é claro.
Por Henrique Thoms
Falar em público sempre é um rolê engraçado porque, normalmente, é pra apresentar meu trabalho autoral, conhecer o trabalho de outras pessoas e trocar figurinhas. O que é muito pessoal e acaba funcionando pra mim como uma terapia em grupo.
Robert Frank, pioneiro da fotografia de rua, já dizia: "sempre achei que o modo como se vive já é em si uma atitude política" e pra mim a maneira como fotografamos e desenvolvemos um processo criativo é também uma atitude política e uma ferramenta de pesquisa interna, projetada no externo.
Vejo a fotografia como uma ficção, na qual cabe ao autor criar e ao leitor interpretar, abrindo margem para que a cada leitura tenha um novo significado. Já na rua, encaro o ato de fotografar como o pixo, só que, ao invés de deixar algo pra cidade, eu tiro coisas dela, capturando recortes urbanos sem permissão, na adrenalina, criando uma relação abrupta e passageira com o fotografado. Já o Oliveira tem um envolvimento maior com o assunto, conversa com as pessoas e se apega à veracidade do momento, enquanto o Vtao evita o confronto de ser percebido fotografando e conta sua história introduzindo mais cenários urbanos.
Botar uma imagem no mundo e criar sua própria linguagem pode ser um caminho sem volta dentro de um eterno aprendizado. E foram alguns desses pensamentos que trocamos com a galera que colou no Pixel Show, festival internacional de criatividade que rolou em SP no último domingo (03), em um debate sobre fotografia de rua e linguagem.
Quando recebi o convite do Vtao para participar de uma mesa de fotografia num dos maiores eventos criativos da América Latina, fiquei muito feliz, mas começou a crescer a dúvida do que levar. Junto com o Oliveira, entramos numa discussão sobre a importância de construir um trabalho pessoal e decidimos levar um pouco do nosso trampo na rua e explorar as particularidades da produção de cada um.
Foi muito bom ver, já durante a mesa, como o trabalho de cada um se complementa. A distinção tornava as discussões com o público mais instigantes, e isso nos proporcionou receber muitas leituras e curiosidades, como analisar nossa postura na rua com a câmera, no ato de fotografar, a frequência com que saímos nas fotos e qual câmera que usamos para explorar esse universo.
A pegada do Vtao é usar filme e desenvolver sua própria linguagem dentro dessa estética, o Oliveira usa uma câmera mirrorless, por ser muito sutil, pequena e prática, e eu, uma grande D-SLR, além de também fotografar muito com o celular. Nossa origem, muitas vezes, deixa em evidência as diferenças de postura entre cada um de nós - eu nasci e moro em Curitiba, enquanto o Vtao é de São Paulo e o Oliveira, do Rio de Janeiro.
O que podemos deixar do aprendizado no Pixel Show é que ter paciência e insistência é muito valioso para esse tipo de trabalho. Tem que andar muito e criar exercícios, como uma rotina de fotografar no caminho do trabalho, para ter mais segurança com a câmera na rua, seja ela celular, uma mirrorless, analógica ou até uma D-SLR, e achar um jeito que funcione pra você, porque não existe certo e errado nessa história.