Da areia para a pista de dança
Marcas investem em biquínis e maiôs inspirados no universo high fashion
Publicado em 03/2016
A praia sempre foi protagonista da cena criativa no Rio. Democrática e informal, ela é até hoje palco de muitas transformações no jeito de pensar do carioca. Que o diga Leila Diniz, que, no fim dos anos 1960, revolucionou os costumes ao ostentar seu barrigão de grávida na Praia de Ipanema e derrubar o tabu da gestação. É entre o mar e o calçadão que ocorre a troca do velho com o novo, do pobre com o rico, do careta com o alternativo, e tudo regado a mate com muito limão.
Na moda, as tendências que nascem nas areias se renovam a cada verão e, cada vez mais, se distanciam do óbvio. Se antes parecia haver uma lei que exigia que todo short masculino tinha que ser remeter ao lifestyle dos surfistas e uma fiscalização pesada para garantir que toda menina permanecesse fiel à dupla cortininha & lacinho, hoje a moda praia mostra que vive sua própria renascença cultural. Nada de modelos que ficam menores a cada estação. Chega de estampas ultra felizes e costuras simples. Apelidado de praia-couture, o momento que estamos vivendo pede têxteis nobres, modelagens diferentonas e costuras dignas de passarela.
Essa nova moda praia, aliás, não fica restrita às areias e piscinas da cidade: vai da pista de dança ao bar, e desfila nas calçadas distantes do litoral. O maiô, por exemplo, antes considerado brega e peça de vó, teve sua redenção decretada há poucos verões. De lá para cá, renomeado de body, virou destaque e foi usado a exaustão. A eclosão das pool parties foi uma das responsáveis por fundir o swimwear ao resto do look de maneira natural. O cansaço dos consumidores com o fast fashion, com suas peças de baixo custo e baixa qualidade (para não citar o pesadelo que é encontrar três ou quarto amigos usando a mesma peça que você), é outro fator que tem levado os fashionistas a procurarem peças únicas. O adepto do low-sumerism (aquele que procura consumir menos e com mais consciência) quer saber quem fez e por onde passou cada peça que vai para o armário. As feiras de moda como O Cluster, sensação absoluta, nasceram justamente para atender essa demanda, garantindo que o consumidor conheça o estilista e seu processo criativo. A valorização do pequeno produtor anda junto com a preferência por produtos regionais e, no Rio, o que é mais regional que a moda praia?
Hoje, as chamadas roupas de banho são maiores: hot pants e maiôs já não são vistos com estranheza. A preocupação febril com a marquinha do biquini no lugar parece ter ido embora de vez, para a nossa alegria! As estampas são poucas e autorais. Já para os garotos não rolam mais aqueles shorts de surfe até o joelho, embora sungas ainda sejam um assunto delicado. O bom preto e branco tem seu espaço garantido, tal como o color blocking e os tons pasteis. Ah, e muito, muito glitter também. Confira algumas marcas de moda praia que flertam com o universo high fashion:
Club du Hôtel
Com modelagens que remetem àquelas usadas nos anos 1980 e com muito color blocking, a marca garante modelos muito diferentes e exclusivos. A estampa que é considerada o carro-chefe da marca é colorida e divertida, mas sem cair no lugar comum. Além disso, os modelos são elegantes e chamam atenção por onde passam.
Mocha
Modelos e estampas exclusivas como folhagens e florais que transparecem bastante autenticidade, tanto na forma quanto nas cores dos motivos. A moda praia da Mocha é sofisticada e agrega elegância a qualquer look.
Loja Três
A linha beachwear da marca aposta em bodies marcantes e biquínis diferentes. O ponto alto da marca é a delicadeza e a variedade de suas minicoleções, que muitas vezes são desenvolvidas em colaborações com desginers convidados, gerando diversidade e originalidade através das parcerias. As colecões não são produzidas em grande escala, o que faz com que as peças sejam quase exclusivas. Além de criar peças e estampas lindas, a marca ainda é a favor da política fair-trade e oferece um preço super justo.
Prints
Além de praticidade e conforto, um dos parâmetros da marca é a autenticidade, traduzida em estampas próprias e em ricos trabalhos feitos à mão. A empresa tem uma preocupação em estimular uma cadeia de produção justa, e isso se reflete nas peças únicas e de qualidade. A narrativa das praias cariocas fica evidente nas estampas de folhagens e animais.
Haight Clothing
Com cortes nada tradicionais, a marca constrói uma identidade muito forte e elegante. Cortes a laser e acabamentos impecáveis, além de tecidos nobres, garantem um produto de qualidade única. A marca ainda conta com estampas próprias e uma paleta de cores sóbrias. A Haight visa um espaço além do litoral, com peças capazes de transitar em outros ambientes.
Retropy
A marca aposta nas estampas e nas cores radiantes em complemento com uma modelagem mais curta e ajustada. Ela retrata a alma do tropicalismo latino em suas criações, trazendo elementos e referências que vão do carnaval à cachaça.
Bolovo
A Bolovo é uma marca de espírito livre, comprometida em fugir do tédio para experimentar ideias originais. A empresa preenche todo seu universo com viagens e rolês despretensiosos, em busca de criar momentos memoráveis. Recentemente, a marca decidiu se aventurar na criação de shorts de praia, e o resultado, sem dúvida, foi good times. O conceito dessas peças vem do tabaco. Esse mesmo, o cigarro, o careta, o fumo de rolo. Com recortes e cores que remetem às marcas Marlboro e Hollywood, a Bolovo criou shorts de modelagem clássica, que funcionam tanto na praia quanto para ir comprar um cigarro no boteco.
Aro
A primeira coleção feminina da Aro busca, através de uma linguagem minimalista e elegante, com apenas três cores (o branco, o preto e o dourado), criar modelos que transitem entre o swimwear e as roupas para a night. A intenção é criar peças que fazem sentido tanto na praia quanto numa pista de dança e que funcionem sozinhas ou com acessórios. Os modelos são pensados para combinarem entre si, e, como cada peça é vendida separadamente, é possível criar várias combinações. Com a intenção de preencher uma lacuna no mercado de swimwear masculino, a Aro vai na contramão da ideia de que o lifestyle do surfe é a única fonte de inspiração para os shorts de praia, mas sem deixar de lado o que essa cultura trouxe em termos de modelagem e casualidade. A marca traz referências vintage quando se trata de caimento e tecido das peças. Com cores sóbrias, como preto, chumbo e marinho, a transição entre a praia e o dia a dia também fica garantida.
Fotos: divulgação