Cemfreio coloca Fogo na Babilônia na Casa de Criadores
Marca de Victor Apolinário firma parceria com a Rider em seu segundo desfile na respeitada semana de moda
Publicado em 05/2017
Com quantas inspirações se faz um desfile? Victor Apolinário, a mente criativa por detrás da marca Cemfreio, gosta de recorrer a várias frentes para montar a narrativa de suas coleções. Para seu desfile na 41ª edição da Casa de Criadores, a segunda com a Cemfreio no line-up, ele reuniu elementos que conversam diretamente com suas memórias e ancestralidade e o desejo de construir estruturas para aproximar o mercado de moda das pessoas. Com uma dose de amigos na passarela e no backstage e uma parceria com a Rider, estava pronta a fórmula para colocar Fogo na Babilônia.
“Eu vim de relações com a capoeira, com o candomblé e até mesmo com as igrejas evangélicas. Tudo isso está intrínseco, inserido na construção e na perspectiva de desenho de todo o produto. O Senegal ele foi um dos vieses da coleção, tanto que ele direciona a cartela de cores com vermelho, amarelo, branco e verde - que é o lance das cores do reggae, desse princípio noventista que ainda me rege, como no primeiro desfile”, explica Apolinário, que se afastou da estética orientalizada da estreia da marca, que tinha estruturas fortes e robustas, para trabalhar com peças mais próximas ao corpo em Fogo na Babilônia.
“Neste segundo momento, viemos pelo mesmo viés, o de falar sobre as estruturas. Só que elas não são mais um casulo, elas não cobrem mais o corpo. Falamos do mostrar, do respeitar-se, do entender-se, de estabelecer uma conversa com seu próprio corpo. Foi daí também que veio o casting, que continha homens trans, mulheres trans e, em suma, era composto por afrodescendentes, porque tudo se tratava de pessoas. A conversa com o mercado de moda tem que ser sobre pessoas”, reforça.
A Cemfreio nasceu em fevereiro de 2016, da necessidade que Apolinário tinha de voltar a criar. “A marca veio de um lugar muito importante pra mim, que foi o de readequação sobre a minha relação com o luto da minha avó. Eu passei por um período de depressão e me coloquei numa posição de tentar criar algo novamente, porque eu sempre tive o cromossomo criativo muito forte. Já fotografei (inclusive para este site que você ama), já escrevi, e o meu trabalho é muito baseado nessa grande rítmica da criatividade como ferramenta de discurso e de mudança", comenta.
"Então, quando eu criei a Cemfreio, ela estava completamente centrada nesse espaço de readequação afetiva e emocional. Hoje a gente tem que entender e restabelecer uma relação muito forte com alguns capitais nossos: o capital intelectual, o capital emocional e o capital monetário, são três frentes muito importantes pra criarmos e procedermos dentro de uma vivência tranquila e próspera - no sentido de viver e não sobreviver. E é disso que a marca fala. A marca fala sobre vivência, sobre o viver e não sobreviver dentro de todos os arquétipos e dificuldades intrínsecos e estruturais da nossa sociedade atualmente”, explica o estilista.
Apolinário deseja construir a primeira baliza para falarmos com pessoas e sobre pessoas - e talento para conectar pessoas ele tem de sobra. Nesse desfile, a beleza foi assinada pela amiga Camila de Alexandre e a trilha, responsabilidade da amiga Pabllo Vittar, que fez um pocket show enquanto os modelos atravessavam a passarela. A coleção foi construída de forma colaborativa em Uberlândia, Minas Gerais, sob o comando de Marilia Tavares, profissional que direciona alguns projetos sociais na cidade, dando aulas de modelagem e costura nas periferias.
“Todo o meu trabalho está completamente ligado às pessoas. Tudo o que queremos ou precisamos ou devemos estabelecer está ligado às pessoas e é desse lugar que o mercado de moda deve se aproximar. A gente tem que parar de criar esquemas de representação ou de alusões e elucubrações sobre o que é a vida das pessoas e fazer com que elas pertençam, com que elas estejam, com que elas sejam e executem suas vidas e necessidades, tanto de pertencimento quanto de reconhecimento”, finaliza.