aMar Boipeba
Nossa festa pré-réveillon na Ilha de Boipeba
Publicado em 01/2017
Depois de duas horas de avião do Rio até Salvador, quatro horas e meia de carro de Salvador até Valença e 45 minutos de lancha (sob o céu mais estrelado que vi na vida), chegamos em Boipeba. No cais, Camila, da agência de viagem responsável pelo nosso traslado, nos recebeu dizendo: “Chegar no paraíso dá trabalho, mas vocês vão adorar”. Achei que o “paraíso” era exagero de quem é da ilha e quer empolgar os que estão chegando, mas, depois de 10 dias por lá, posso dizer com toda a certeza que chamar Boipeba de paraíso é até pouco.
Visitamos a ilha para fazer a festa (literalmente) no aMar Boipeba, maratona de eventos de fim de ano organizada pela galera da produtora Social Couture. Fomos responsáveis pela festa de pré-réveillon e pelo sunset de despedida – este ao lado dos amigos da Madre, coletivo de Brasília. No resto da estadia, a única responsabilidade era explorar e curtir cada cantinho de Boipeba, com chapéu de palha na cabeça e chinelo nos pés. Juro, o único calçado que usamos (isso é, QUANDO usamos algum calçado) foi chinelo - e por aí você já consegue sentir o clima da viagem. Nosso bonde era formado pelos DJs Schlaepfer, Suryan, Angelini e Johnny Ice, Jeanne como produtora, Juliana Santos no conteúdo para mídias e eu, Bia Medeiros, a responsável para contar para você tudo o que rolou por lá neste zine.
Se você nunca ouviu falar do lugar, explicamos: Boipeba é uma ilha da Costa do Dendê, na Bahia, que fica pertinho da famosa Morro de São Paulo. Mas, diferente da badalada amiga, o clima por lá é tranquilo e rústico, com praias quase desertas cheias de sirizinhos brancos e amarelos e moradores queridos que adoram fazer amizade. Ficamos hospedados em Velha Boipeba, bairro que é a porta de entrada mais conhecida da ilha, onde ficam o cais, a igreja e a pracinha central, que bomba quando a noite cai, com diversas opções de comida e artesanato. Já na primeira noite, fomos batizados com o drink oficial da ilha, a caipiroska de cacau com biri-biri, fruta típica da região, que nos acompanhou em todos os dias seguintes – uma dose diária era obrigatória, preferencialmente no quiosque do Drink dos Manos, na praça, depois de algumas tapiocas ou acarajés da Danny, servidos pela maravilhosa Nininha. O palco das festas do aMar Boipeba ficava a 20 minutos a pé dali, na praia da Cueira, montado em uma fazenda-coqueiral à beira-mar. Para chegar até lá, poderíamos seguir a pé, iluminando a trilha de areia com nossas lanterninhas, ou em uma jardineira puxada por um trator.
Em Boipeba não tem carro, é preciso se locomover a pé mesmo, de barco ou com os mesmos tratores que nos levavam às festas. Conseguimos conhecer boa parte da ilha a pé, em trilhas na areia (voltamos com coxas in-crí-veis!) em cenários que pareciam saídos de filme ou resultado de uma estampa feita no computador. Saindo da praia da Boca da Barra, onde fica o cais, seguimos uma trilha com cheirinho de Mata Atlântica e barulho do mar até Tassimirim, praia de águas claras e calmas, nas quais ficamos mergulhados por três horas, até virarmos uvas-passas, enquanto nossas bolsas e chinelos descansavam sobre as raízes de um coqueiro derrubado pelo vento. Andando mais um pouco, uma mini trilha, de uns 200 metros, liga Tassimirim à Cueira. Paramos rapidinho para comer aipim no fim da tarde e, do meio da trilha, surgiram cavalos correndo sozinhos, soltos pela areia, tipo cena de filme mesmo. Ali entendemos um recado: Boipeba é liberdade.
Com a maré baixa, é possível seguir a pé da Cueira até Moreré, vilarejo mais calmo e com uma energia inexplicável. Antes do mar subir, nas águas azuis de Moreré surgem grandes bancos de areia e a gente se sente andando sobre as águas, numa vibe meio mágica. Por lá, prove os drinks que o Augusto Tocha (ou só Tocha, para os íntimos como nós, que o conhecemos nos primeiros minutos na ilha) faz no restaurante Paraíso – o apelido nasceu da similaridade física dele com ninguém menos que Peter Tosh. Na madrugada de ano novo, depois de curtir a virada na Cueira, fomos andando até Moreré para ver o Sol nascer. No meio do caminho escuro, começamos a ouvir um batuque familiar: era a galera do bloco Vulcão Erupçado tocando com o pé na areia! Andando mais um pouco, um bar sob uma enorme mangueira nos seduziu com uma roda de samba poderosa, iluminada por velas na mesa e uma energia de celebração e renovação que nos arrebatou. Difícil explicar o que rolou ali embaixo daquelas árvores.
Depois de Moreré, podemos seguir para Bainema. Atravessamos um pedaço de mangue até chegar no caminho que leva à praia e abriga milhares, milhões, bilhões de caranguejos guaiamum de todos os tamanhos imagináveis. São incontáveis tocas ao longo do caminho, uma para cada caranguejo de carapaça azulada que nos recebe de um jeito meio desconfiado, fugindo disfarçadamente de ladinho, como se ninguém fosse perceber. Bainema foi a mais deserta das praias que visitamos, é muito extensa, nos suga e nos faz parecer crianças brincando numa enorme caixa de areia, vendo como ela se movimenta, se acumula, revela conchinhas gêmeas e entra em cada centímetro dos nossos biquínis.
A poucos metros da costa rolam várias piscinas naturais bizarras, graças à enorme barreira de corais que cerca a ilha – responsável também por reduzir o tamanho das ondas que chegam às praias. Pegamos uma lancha para fazer o passeio de Volta à Ilha que (dãã) dá a volta na ilha com paradas em pontos estratégicos. Conhecemos as piscinas naturais de Moreré e Ponta dos Castelhanos, com muitos peixinhos coloridos e água tão clara que parece piscina de clube, o Pontal de Bainemama, o banco de areia paradisíaco, pertinho da vila de Cova da Onça, onde almoçamos, e voltamos navegando no rio, cercados pelo mangue.
O melhor ponto de observação do pôr-do-sol da ilha é o alto do Morro do Quebra Cu – o quão maravilhoso é esse nome? Para chegar lá, só é preciso caminhar cerca de 10 minutos a partir da praça central de Velha Boipeba e seguir por uma subida pequena, mas BEM íngreme, e voilá! O Sol estará te esperando de frente e é possível vê-lo iluminando de rosa toda a parte central da vila antes de entrar em uma “bolsinha” de nuvens sobre as montanhas no horizonte.
Enquanto os amigos cariocas falavam do calor surreal e da sensação térmica de 63ºC que rolou em Cabo Frio (REAL! Aqui a prova), Boipeba nos dava sol e uma brisa fresca constante, seja durante nossos mergulhos nas praias com água morna ou durante as festas do aMar Boipeba na Cueira. Sabe aquele calor e suadouro que rolam nas buátchi no verão? Esquecemos o que era isso. Nossas festas tinham gin tônica gelada na mão, rebolation com pé na areia, ar condicionado natural e até redes para recuperar as energias no meio da pista, sob o som do Schlapfer, Suryan, Johnny Ice e Angelini.
Levamos na mala uma caixa cheia das nossas super câmeras descartáveis e carregávamos algumas delas para todos os lugares que fôssemos. A ideia era registrar a viagem com a mesma necessidade de urgência que a Bahia nos exigiu: nenhuma.