Skol apresenta: Aliança colorida na Parada LGBT de São Paulo
Pessoas LGBT+ unem forças com familiares e amigos para lutar pela diversidade sexual e de gênero
Publicado em 06/2017
No último domingo (18), rolou a 21ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, reunindo pelo menos 3 milhões de pessoas, que saíram da Avenida Paulista em direção à Praça Roosevelt em uma grande festa para celebrar a diversidade e lutar pela igualdade de direitos.
A Skol fez o convite e nós aceitamos sem titubear: além de curtir e fotografar a parada, nossa missão era conversar com pessoas LGBT e seus amigos e familiares que são fortes aliados de vida na defesa da diversidade. Juntos, eles provam que reconhecer e assumir sua identidade coletivamente é um caminho viável, necessário e bem menos áspero do que quando se o faz sozinho.
A Parada LGBT começou cedo. Às 9h30 da manhã, o trio do grupo “Mães pela Diversidade” se concentrou na região da Avenida Paulista para lutar e festejar pelo apoio da família à causa.
“Me sinto a pessoa mais sortuda do mundo”, diz Gabriel Parise ao lado da mãe, Sueli, do pai, Alfredo e do irmão, André, em meio ao mar de gente da Parada do Orgulho LGBT. “Fico emocionado ao pensar na sorte que tenho de todos estarem aqui comigo me apoiando, de me amarem de óculos de coração, de maquiagem, de peruca”.
O pai retribui o carinho e exalta uma característica que aprendeu com Gabriel: “Meu filho me ensinou o valor da coragem, a coragem que ele tem de ser ele mesmo, de ser feliz, de viver sua vida sem medo de julgamentos”.
Cássia Janeiro e sua filha, Fernanda, frequentam juntas a Parada LGBT desde 2007. Defender a causa LGBT com unhas e dentes nunca foi tabu para Cássia, que tem outros dois filhos: César que, assim como a irmã Fernanda, é gay, e o mais velho, Gabriel, heterossexual.
“Quando o meu filho me contou que era gay, ele perguntou ‘mãe, você me aceita?’, e eu respondi ‘depende, você me aceita hétero?’”, diverte-se a Cássia. A atitude da matriarca serve de exemplo constante para Fernanda. “Minha mãe me ensinou o caminho da militância. Foi sempre uma grande inspiração para mim”, conta.
Samantha Zulian de Medeiros e seu filho, Tomás Zulian da Cunha Mattos, nem sempre tiveram uma relação fácil como a que têm agora. Tomás tem apenas 19 anos e é um homem trans.
Após um período “nebuloso”, como eles contam, Samantha entendeu o filho e passou a apoiá-lo. Há seis meses, Tomás se identifica com o gênero masculino e mudou seu nome social. Hoje, a mãe luta ao lado do filho e ressalta que sempre entra em discussões para conscientizar as pessoas que estão à sua volta.
“A partir do momento em que eu passei a lidar bem com isso, tudo fluiu melhor. A relação do Tomás com a família inteira foi diferente. Muitos dizem que passaram a pensar diferente”, conta Samantha. Tomás completa: “Depois que me assumi trans, pessoas que antes eram muito preconceituosas, agora também apoiam a causa, são ativistas, ajudam e perguntam tudo”.
“Quando as famílias aceitam, ajudam a visibilizar e a promover um ato político”, diz Sônia Seixas, mãe de Pedro Seixas Barbosa, que é gay.
Os dois foram a Parada juntos para manifestar o amor e trazer atenção à importância do apoio familiar ao movimento. “Quando a família sai do armário, o resto é apenas resto”, relata Pedro.
É a primeira vez que os primos Grazielle, de 25 anos, Andreia, de 23, Manu, de 22 e Everton, de 21, foram à Parada LGBT. Com exceção de Andreia e da tia deles, Renata, todos são homossexuais.
Os três se assumiram praticamente na mesma época, mesmo sem terem combinado. O restante da família, que chegou a ter muito preconceito, já não tem problemas com a orientação sexual de todos. Quem ajuda a defender os sobrinhos e a celebrar a diversidade é a tia Renata: “Sempre que tiver que lutar e vestir a camisa pela minha família, eu vou fazer”.
Na companhia da tia e dos primos, Everton comenta que também gostaria ter o restante da família na Parada. “Seria uma felicidade imensa se minha mãe também estivesse aqui, mas ela não pôde”, diz.
Daisy Coitinho de Almeida foi duramente desaconselhada por seus amigos quando decidiu começar a tomar hormônios para fazer a transição, há quase 20 anos. “'Ninguém gosta de gente desse tipo. Você vai ficar marginalizada, vão te rejeitar' - eles diziam." Contrariando as apostas, ela decidiu ouvir seu interior para ser feliz: “vou ser o que quero ser”.
Daisy enfrentou tudo isso graças à sua coragem, à sua determinação e a uma importante referência: a prima, Paula Conga, de 61 anos (de vestido branco, à esquerda). Com 13 anos a mais do que Daisy, Paula passou por momentos difíceis desde que decidiu fazer a transição. “Sempre foi muito sofrimento, especialmente na época da ditadura militar. Eu tomava uma pedrada aqui, um tapa lá, mas seguia em frente. É difícil. Esperei 40 anos para operar, só fiz minha cirurgia de redesignação sexual há quatro anos”, afirma Paula.
“Por ela se assumir e ser uma boa influência, sempre admirei minha prima”, explica Daisy.
"Eu não nasci no corpo errado, eu nasci na sociedade errada”, explica Amiel Vieira.
Na sopa de letrinhas do movimento LGBT, Amiel corresponde ao “I”, de “intersexo", termo ainda pouquíssimo discutido no Brasil. Intersexo designa uma variedade de condições de anatomia reprodutiva ou sexual de uma criança que não se encaixa na definição padrão do que é tido como feminino ou masculino. Agora, ele vai entrar com o pedido de reconhecimento da sua transmasculinidade, para alterar oficialmente seu prenome e seu gênero nas documentações.
Na luta por mais visibilidade aos intersexo, Amiel encontrou uma aliada, a amiga Ana Cristina Grein Marra: "Sou mulher cis e feminista. Com Amiel descobri sobre a invisibilidade social do intersexo. Entro na luta para que isso acabe. Brigo pela igualdade de gênero e por um mundo que não separe ninguém pela orientação sexual ou pela identidade". Nós também, Ana Cristina.